O cinema de alistamento militar ganha mais um novo representante com “O Grande Herói”. Ao lado de “O Homem Mais Procurado do Mundo” e “Falcão Negro em Perigo”, o novo filme de Mark Whalberg mostra como as Forças Armadas americanas se utilizam da sétima arte para mostrar os valores desses guerreiros símbolos da América livre. Discursos e frases de efeito aliado a momentos de grandeza em competentes cenas de ação fazem o pacote ficar completo em um exercício executado com resultado para recrutar jovens soldados.

Baseado na história real de um grupo de soldados no Afeganistão, o longa mostra o drama de quatro integrantes do esquadrão Seals em missão contra um grupo de integrantes do Taleban. Após problemas de comunicação com a base operacional, os soldados se encontram encurralados em uma região montanhosa e vão precisar encontrar formas de sobreviver até a chegada do resgate.

O caráter panfletário das Forças Armadas está presente desde os créditos iniciais quando assistimos vídeos reais de futuros soldados em treinamentos desgastantes, parecido ao visto no primeiro “Tropa de Elite”. Dali em diante, percebe-se a supressão da individualidade daqueles seres humanos em nome da defesa da nação. Pouco interessa ao filme abordar o que pensam e quem são aqueles caras; bastam algumas fotos na parede e uma conversa tola sobre a cor da futura casa. Por vezes, mal conseguimos decorar os nomes daqueles homens. O verdadeiro interesse está em mostrar a força deles na batalha, seja suportando quedas de alturas absurdas em cima de rochas, tiros em todas as partes do corpo ou uma morte no alto da montanha para salvar os amigos. Tudo pela segurança da América.

Segurança ameaçada por um pequeno grupo do Taleban. Semelhante ao ocorrido com “Argo”, pouco interesse a fala do estrangeiro ou conhecer quem são aqueles caras. Basta a cena do bando pegar um pai de família e decepar a cabeça do pobre coitado. Há o vilão e isso é suficiente. Acrescente a violência ao ataque contra os quatro soldados do Seals e o sentimento da necessidade de exterminar aqueles sujeitos está plantada. Frases de efeito como, por exemplo, “Vou viver pelo meu país” ou “Nunca desisto da luta”, além do exército americano se mostrar como a esperança de crianças e idosos de um vilarejo subjugado sem errar um único disparo contribuem para esse cenário de propaganda de alistamento militar.

Não há atuações que resistam no meio de tanto discurso panfletário e bélico. Gente talentosa como Emile Hirsch, Eric Bana e Ben Foster pouco podem fazer em personagens protótipos do guerreiro. Melhor se sai Whalberg, pois, como é um ator ruim, qualquer coisa regular serve. Por outro lado, precisa-se ressaltar a qualidade do trabalho do diretor Peter Berg. Se o tom patriótico era um requisito impossível de ser retirado do filme, o cineasta remete ao estilo de Paul Greengrass e acerta na condução das sequências de ação ao optar por um câmera na mão, mas sem necessitar aquela movimentação exagerada. A escolha se mostra acertada e acompanhada de um trabalho brilhante da equipe de som confere o realismo da obra.

Com direito a versão editada ao moldes do freguês para a música “Heroes”, “O Grande Herói” parece brincar com a inteligência do espectador. Se estreado logo após os ataques de 11 de Setembro de 2001, ainda haveria uma possível chance de ser aceito sem tantas restrições. Porém, após anos de erros graves cometidos pelos EUA durante as guerras no Afeganistão e Iraque, além dos abusos na prisão de Guantánamo, lançar uma obra como esta chega a ser um brincadeira de mau gosto.

Pelo sucesso nas bilheterias americanas, infelizmente, o filme pode conseguir levar alguns pobres jovens a se alistarem e morrerem pelo amor à pátria. Sentimento justo, é verdade, mas manipulado por uma indústria bélica com tentáculos cada vez maiores no cinema.

NOTA:6,0