Com certeza, a maior surpresa para nós brasileiros na manhã do dia 14 de janeiro, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou os indicados ao Oscar 2016, foi justamente ver “O Menino e o Mundo” entre os cinco finalistas à estatueta dourada de Melhor Animação.

A princípio, a alegria advinda do anúncio pode parecer simples ufanismo, mas para aqueles que já tiveram o prazer de conferir o filme não há como evitar o sentimento de orgulho ao ver o reconhecimento daquele que é simplesmente um dos melhores longas-metragens nacionais dos últimos anos, um verdadeiro poema visual como há muito tempo não se via.

O filme começa da maneira mais simples possível, com um fundo completamente branco. A partir dali, a tela se enche com os primeiros traços que formam o curioso menino do título, cujo nome nunca é mencionado. Os próximos rabiscos nos levam a acompanhar as suas aventuras nos arredores verdes e cheios de vida da fazenda onde vive. Quando o pai dele parte para a cidade em busca de emprego, o menino secretamente o segue, dando início a uma incrível jornada onde ele irá desbravar novos mundos e também descobrir mais sobre si mesmo.

ousadia da animação se destaca desde o primeiro minuto. A concepção visual do filme é de uma criatividade maravilhosa, que surpreende a cada novo espaço que o menino conhece. Diversos estilos de animação se juntam para formar um caleidoscópio que dá liberdade ao diretor para representar de forma vívida a imaginação do menino e as percepções do mundo ao seu redor. A beleza e a inventividade das imagens se materializam desde um entardecer retratado através de um céu pintado com cores de giz até sequências capazes de literalmente tirar o fôlego, como a colheita na plantação de algodão.

Complementando as imagens de forma sublime, temos uma trilha sonora lírica e envolvente, com um tema principal delicioso que, eu garanto, não vai sair da sua cabeça por um bom tempo. Aliás, a maneira como o filme estabelece a relação do menino com a música e, principalmente, como ela é representada visualmente, através de pequenas bolas coloridas, é de uma delicadeza tocante.

Mas todo este banquete visual e musical não seria nada se o filme não estabelecesse uma conexão emocional com o espectador. E é neste aspecto que o diretor Alê Abreu, naquele que é apenas seu segundo longa-metragem, demonstra uma habilidade ímpar. Apesar de ser representado por nada mais que alguns poucos rabiscos, o menino possui uma personalidade muito bem definida e se revela verdadeiramente cativante, deixando-nos completamente envolvidos na sua jornada em busca do pai.

Com um certo tom de melancolia atravessando toda a projeção, mas sempre pontuado por toques de esperança, o filme ainda consegue em seu terceiro ato se revelar mais complexo e ambicioso do que parecia ser a princípio, com um final que nos faz lançar um novo olhar sobre tudo o que vimos até então e assim gerar belas reflexões.

“O Menino e o Mundo” obviamente não deve desbancar o favoritismo de Divertida Mente na cerimônia do Oscar. Mas, da mesma forma que a brilhante animação da Pixar, o filme brasileiro já garantiu um lugar de destaque entre as melhores produções do ano, sejam elas animadas ou não.