A colaboração entre o Liam Neeson e o diretor espanhol Jaume Collet-Serra é antiga. O Passageiro é o quarto longa-metragem em sete anos dirigido e protagonizado pela dupla, todos seguindo a velha fórmula que transformou o ator quase em uma instituição do gênero. A soma Liam Neeson e família em perigoso é quase um subgênero dos thrillers de ação, e O Passageiro não foge disso.

O enredo se desenvolve em torno de Michael MacCauley (Neeson), o ex-policial agora corretor de seguros, que todas as manhãs cumpre sua rotina de trabalho sem surpresas. Percorre o mesmo caminho e passa pelas mesmas pessoas todos os dias. Até a notícia da sua demissão quebrar a harmonia, ele preste a se aposentar e a bancar o filho na universidade, vê-se confrontado com a nova realidade. No caminho de volta para casa, o corretor é surpreendido pela proposta de uma estranha, interpretada pela Vera Farmiga, que o envolve em uma trama de chantagem cujo objetivo é Michael encontrar a identidade de um passageiro antes da última parada do trem. Enquanto ele tenta entender o que está acontecendo, mais preso fica à uma conspiração perigosa.

Collet-Serra é um cineasta que já entregou ótimos suspenses. A Casa de Cera, sua grande estreia que contou com a participação icônica da socialite Paris Hilton, A Órfã e até mesmo o recente Águas Rasas, que passou quase despercebido pela galera, são seus exemplos de destaque. Diferente do que acontece com seu longa mais recente, todos possuem certa inventividade na trama ou na execução, é onde O Passageiro falha.

A verdade é que não há nada novo no que o diretor espanhol quer contar, não existe também qualquer intenção de reinventar o formato. Não se espera isso. Talvez a única pretensão do filme seja entreter, e, infelizmente, ele não faz isso tão bem. O longa não gera aquela curiosidade que instiga, acompanha e satisfaz como fez nos outros trabalhos.

De início o filme parece promissor. Sua parte inicial é bem trabalhada, evoca o cotidiano comum do protagonista usando uma montagem temporal bem-feita e cheia de significado que interessa o espectador, mas logo se perde no desenrolar da história. O plot-twist não surpreende. O que era para ser o clímax funciona mais como um banho de água fria que aniquila qualquer expectativa que resta. O final é um desastre, parece qualquer coisa feita de última hora porque precisa de encerramento. E a criatividade, claro, passou bem longe.

Ainda assim, há seus acertos. Para os amantes de ação o filme rende algumas boas cenas do tipo. É no mínimo interessante ver um homem nos seus sessenta anos lutando mão-a-mão contra alguém com metade da sua idade. Liam Neeson ganha pela sua simpatia e facilidade em encantar quem o assiste, você torce e vê ele como o herói. Infelizmente, a certeza cansa. A imagem do ator já parece saturada, existe pouco entusiasmo em ‘desvendar’ aquela figura.

De maneira geral, O Passageiro tenta proporcionar algum entretenimento mais rebuscado, o que se percebe pelas referências e escolha de diálogos, mas não consegue escapar do cansaço gerado pela narrativa repetitiva e execução aquém. Collet tentou, mas a verdade é que a audiência está cada vez menos interessada em quem mexeu com a família do Liam Neeson (ou, pelo menos, pede um motivo mais interessante).