Há não muito tempo, uma trama sobre uma mulher que colocava o trabalho acima da vida pessoal gerou um grande sucesso da comédia nacional, que faturou milhões e inspirou a realização de sequências (uma, até agora, com a outra já a caminho). Pois a antiga partner da estrela daquele filme faz agora uma produção similar, em mais de um sentido. E, embora a parada seja dura, pior.

Odeio o Dia dos Namorados é a versão de Heloísa Périssé para De Pernas pro Ar, dessa vez tomando como mote a clássica história de Charles Dickens, Um Conto de Natal. Relembrando: na véspera de Natal, um homem cruel e avarento chamado Scrooge recebia a visita do fantasma do seu antigo sócio, Marley, que mostrava como seria terrível o destino do seu espírito após a morte, caso não tentasse mudar o curso de sua vida. Aqui, como estamos em 2013 e o filme é uma comédia, Débora (Périssé) é uma publicitária workaholic e amarga (vocês já repararam quantas comédias nos últimos anos são estreladas por publicitários?) que sofre um acidente de carro e, nos segundos que sobram para se estatelar no chão, recebe a visita de seu antigo parceiro de firma, o homossexual Gilberto, já falecido, com os mesmos fins.

Bom, a ideia era revisitar Um Conto de Natal, mas o produto final, tanto em termos de graça quanto de satisfação artística, é mais próximo de Click, a péssima comédia lançada por Adam Sandler em 2006, que tinha um enredo similar. Em ambos os casos, as considerações sobre boas atitudes e vida após a morte dão pretexto a todo tipo de piada rasa, com o agravante, no caso particular de Sandler, de piadas sobre obesidade, e, no de Périssé, sobre homossexualidade: para cada diálogo entre Débora e Gilberto, tome uma piadinha ou trocadilho infame envolvendo “bicha” ou “viado”. E isso é só o começo: a trama inclui ainda a jovem Débora com um nariz postiço, um ursinho de pelúcia branco, um futuro com uma máquina que “reconfigura” o corpo e uma constrangedora surra no banheiro, tudo em cenas intermináveis, que exploram as gags muito além da sua (pouca ou nenhuma) graça.

E isso sem contar o final “musical”, que supera em ruindade e constrangimento o que você já pensava ter sido o bastante. Périssé não ajuda, com sua voz estridente e sua performance histriônica. Não que a atriz não tenha talento, ou graça: ela, que já mostrou vários bons momentos no esquete Tati, do Fantástico, ou no seriado Sob Nova Direção, apenas abraça a personagem com todo o seu tosco exagero. Seus parceiros de crime são os igualmente corretos (e, portanto, ruins) Daniel Boaventura, Danielle Winits e André Mattos. Só quem se salva é o espevitado, e com ótimo timing cômico, Marcelo Saback, como Gilberto. Fernando Caruso e Júlia Rabello também fazem divertidas aparições (tirando a cena do banheiro, claro).

A comparação com De Pernas pro Ar não é gratuita. Além da história parecida, o filme tem a direção de Roberto Santucci, o que explica bastante coisa, principalmente as tentativas de forçar o humor para além do válido. Mas o original de Ingrid Guimarães tinha uma frontwoman mais sutil, além de dar uma boa (e razoavelmente madura) recuperada da segunda metade em diante. A boa impressão caiu por terra no segundo filme, apesar de uma sequência memorável com Tatá Werneck e Luís Miranda. A impressão negativa, infelizmente, segue ainda pior neste. A crescente acolhida de filmes brasileiros pelo público trai o constante desleixo com que a comédia brasileira ainda é tratada, com seus roteiros que não são mais do que acumulações grosseiras de gags e seus personagens ruins. Assim como Giovanni Improtta, este é mais um belo candidato à lista de “Intragáveis” da nossa lista de comédias da Globo Filmes.

Nota: 5,0 (a nota parece relativamente alta, mas na verdade é a mínima, segundo meus critérios de pontuação)