A edição de 2022 do Olhar do Norte teve a baixa presença de filmes dirigidos por mulheres na Mostra Norte, a principal do festival, como o maior debate entre os realizadores, pesquisadores e público presente. Concorriam aos prêmios apenas “Utopia” (AP), de Rayane Penha (vencedor de Melhor Filme), “Ãgawaraitá: Nancy” (PA), de Priscila Tapajowara, e “Meu coração é um pouco mais vazio na cheia” (TO), de Sabrina Trentin. 

O tema motivou uma roda de conversa comandada pela atriz Isabela Catão no Palácio da Justiça e o anúncio da criação do Fórum Feminino do Audiovisual do Amazonas (ouça o podcast do Cine Set sobre o movimento).  

Anúncio da criação do Fórum do Audiovisual Feminino no palco do Teatro Amazonas na edição 2022 do Olhar do Norte.

Para o quinto ano, o Olhar do Norte mostrou um olhar mais atento para a diversidade nos selecionados em todas as mostras, especialmente, a Mostra Amazônia, voltada para todos os Estados que compõem a Amazônia Legal e agora, a principal do evento. A curadoria feita por Diego Bauer e Victor Kaleb, ambos da Artrupe Produções, produtora responsável pelo evento, ganhou a presença de Flávia Abtibol, diretora e roteirista amazonense de projetos premiados como “Strip Solidão” e “Dom Kimura”, além do aguardado telefilme “Deus Me Livre, mas, Quem Me Dera”. 

O TIME FEMININO

Wara comanda o curta cearense “Mulheres Árvore”.

A Mostra Amazônia traz 16 curtas-metragens, sendo sete com mulheres na direção. Do Amazonas, chegam “Alexandrina – Um Relâmpago”, de Keila Sankofa, e “Galeria Decolonial”, de Ana Lígia Pimentel; os dois representantes do Pará, “Bebé”, de Isadora Lis, e “Cabana”, de Adriana de Faria; o mato-grossense “Ana Rúbia, de Íris Alves Lacerda co-dirigido com Diego Baraldi, o acreano “Maués, A Garça”, da Isabelle Amsterdam e, por fim, o roraimense “Thuë pihi kuuwi – Uma Mulher Pensando”, de Aida Harika Yanomami e Roseane Yariana Yanomami ao lado de Edmar Tokorino Yanomami. 

Já na Mostra Outros Nortes, voltada para os demais Estados do país, concorrem apenas o carioca “O Último Domingo”, de Joana Claude ao lado de Renan Barbosa, o cearense “Mulheres Árvore”, de Wara, e o paraibano “Memórias do Fogo”, de Rita de Cássia Melo Santos co-dirigido com Leandro Olímpio e Irineu Cruzeiro Neto. 

Na mostra online Olhar Panorâmico, já disponível no Sonoraplay, são mais quatro filmes: três do Amazonas – “La Creación”, de Valentina Ricardo, “Prazer, Ana”, de Sarah Margarido, e “Tapuia”, de Kay Sara e Begê Muniz. E ainda tem o roraimense “Yuri u xëatima thë – A Pesca com Timbó”, de Aida Harika Yanomami e Roseane Yariana Yanomami ao lado de Edmar Tokorino Yanomami. 

São dois filmes na Mostra Olhinho, voltada para o público infantil, comandados por mulheres: o gaúcho “Minha Velha Amiga Dukkha”, de Isabella Bittencourt Gil Xavier ao lado do Felipe Santoro; e o paranaense “Sadako – A Lenda dos Mil Tsurus”, de Isadora Zillo e Jonatas Ferreira. Por fim, temos a Renée Nader Messora que, ao lado, do João Salaviza, comanda “A Flor do Buruti”, filme de abertura do Olhar do Norte. 

No cômputo geral, serão 20 dos 41 filmes a serem exibidos no festival comandados por mulheres. 

Cine Set – Quais foram os cuidados da curadoria para que esta representatividade aumentasse?

Flávia Abtibol – Enquanto curadores, primeiramente, nossa atenção foi em selecionar bons filmes técnica e artisticamente, que compusessem de forma orgânica uma interessante possível programação. Porém, quando no topo de nossas indicações estavam filmes de diretoras, que traziam protagonistas mulheres – cis e trans – ou perspectivas femininas, de universos marginalizados e pouco vistos no cinema, confesso que era uma sensação maravilhosa pra mim, também enquanto diretora, pois entendo o caminho mais tortuoso e longo que a maioria de nós precisa percorrer para obter respeito, confiança e a valorização de nossas vozes no audiovisual. E isso se potencializa quando falamos de realizadoras amazônidas.

Cine Set – Na sua opinião, o que os filmes de cineastas mulheres para o Olhar do Norte aponta em termos temáticos e técnicos?

Flávia Abtibol – Não foi preciso esforço para encontrarmos uma série de qualidades técnicas, artísticas e temáticas de obras criadas e dirigidas por mulheres, que estão integrando o Olhar. Há um frescor, uma leveza nesses filmes e ao mesmo tempo tamanha densidade nas abordagens sobre os cotidianos, que são um respiro em tempos tão áridos e escassos de olhares honestos sobre as nossas existências. Vejo que estas obras têm em comum essa coragem.

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NO OLHAR DO NORTE

1º Olhar do Norte 2018 – 14/38 filmes dirigidos por mulheres (2/8 Mostra Amazonas, 5/12 Mostra Norte) 

2º Olhar do Norte 2019 – 3/17 filmes dirigidos por mulheres (0/7 Mostra Norte) 

3º Olhar do Norte 2020 – 5/23 filmes dirigidos por mulheres (2/10 Mostra Norte) 

4º Olhar do Norte 2022 – 7/36 filmes dirigidos por mulheres (3/17 Mostra Norte) 

5º Olhar do Norte 2023 – 20/41 filmes dirigidos por mulheres (7/16 Mostra Amazônia)