A vitória de Mahershala Ali como ator coadjuvante por Green Book – O Guia no Oscar parecia tão fácil quanto tirar doce de criança. E ela se concretizou. É a segunda vez que o ator ganha o careca dourado de ator coadjuvante – a primeira foi há dois anos com o ótimo Moonlight: Sob a Luz do Luar – o que revela o verdadeiro pulo do gato dado pelo ator em um espaço curto de tempo na sua carreira profissional vitoriosa e que começa a ganhar destaque em produções do time A de Hollywood – ele também é o protagonista da elogiada terceira temporada de “True Detective”.

Ali praticamente abocanhou todos os prêmios nesta temporada de premiações como o Globo de Ouro, SAG, BAFTA, e se duvidar, até a escolha de par e ímpar ele venceu. Com a sua vitória neste domingo, o vencedor de coadjuvante do Sindicato de Atores (SAG) manteve a dobradinha com o Oscar em oito oportunidades, nos últimos dez anos. A vitória de Mahershala também revela a força do panorama social/político em Hollywood, com 5 filmes com estas temáticas entre os indicados: o racismo sedimentado nos EUA em Infiltrado da Klan, o próprio Green Book e Pantera Negra; os bastidores da política em Vice e as questões femininas e latinas de Roma.

Não vou negar que apesar de gostar da atuação do ator, a minha torcida era para o veterano Sam Elliot que tem cenas emocionalmente poderosas em Nasce Uma Estrela. Ainda assim, a vitória de Ali é justa por Green Book. Ele cria uma performance sensível e introspectiva como Don Shirley, um pianista de Jazz que atravessa o sul da América – notória pelo racismo – ao lado do seu motorista branco Tony (Viggo Mortensen). Ele e Viggo são as almas do filme, fundamentais para a importância do impacto emocional do mesmo.

Seu Don Shirley afina, muito bem, a ironia sutil com a elegância das suas ações, com o ator multifacetando com precisão, através de seus gestos e olhares, uma figura tão fascinante quanto reprimida. Se alguém ainda tiver dúvida da vitória Mahershala é só assistir a cena que ele desabafa com Tony sob um forte temporal: um momento que o ator finalmente entrega os lastros íntimos de seu personagem com veemência. Em comparação as atuações vencedoras do Oscar de coadjuvante nos últimos 10 anos, o seu Shirley merece ficar no Top 6, ainda atrás do seu Juan de Moonlight, esse sim, uma atuação digna de top 5.

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