Caio Pimenta analisa o que pode acontecer no Oscar 2021 em meio às incertezas deixadas pela pandemia da COVID-19.
ADIAMENTO OU NÃO?
A primeira pergunta a ser respondida é quando o Oscar vai acontecer. A imprensa americana já começou a repercutir uma informação de bastidores que a cerimônia pode ser adiada. Inicialmente, ela está prevista para ocorrer no dia 28 de fevereiro.
Porém, cientistas do mundo inteiro acreditam que uma possível segunda onda da COVID-19 nos EUA e na Europa possa acontecer no inverno que vai justamente entre dezembro e março. Logo, manter uma festa como Oscar, com convidados do mundo inteiro em um ambiente fechado por horas, é um risco tremendo.
Daí, a possibilidade de um adiamento, porém, para quando? Abril pode ser uma possibilidade porque não afetaria tanto a corrida do Oscar seguinte. Por outro lado, uma data mais para maio atrapalharia, por exemplo, o Festival de Cannes que sempre acontece neste mês e dificilmente será deixado de ser realizado em 2021.
Se eu fosse apostar, acho que final de março, início de abril podem ser as melhores alternativas.
DILEMA DOS CINEMAS FECHADOS
A questão de adiar a data de realização do Oscar 2021 reflete em uma preocupação de Hollywood com o retorno dos cinemas. Ainda não se sabe ao certo quando as salas estarão abertas. “Tenet”, por exemplo, está em um verdadeiro impasse.
A nova ficção científica do Christopher Nolan e candidato ao prêmio estava prevista para estrear no dia 17 de julho, sendo o primeiro filme da retomada. Porém, para poder ter alguma chance de lucro, a Warner precisa que, pelo menos, 80% das salas estejam abertas nos EUA e o mercado europeu e asiático mais fortes. Como não há esta certeza, o último trailer e as recentes artes liberadas já não contam mais com a data de lançamento.
Neste cenário, pode ser que muitos filmes sejam empurrados para o fim do ano na expectativa do surgimento de uma vacina que devolveria a normalidade ou de um quadro menos dramático da pandemia. Isso criaria um fim de 2020 e início de 2021 com muitos filmes represados disputando o mesmo espaço no mercado exibidor.
Vale lembrar que indicações ao Oscar costumam ter um peso importante nas bilheterias dos filmes. “1917”, por exemplo, arrecadou US$ 157 milhões, valores que dificilmente alcançaria sem as nomeações. Por isso, adiar o Oscar seria bom para que os filmes pudessem faturar um pouco mais, ajudando também os cinemas em suas recuperações.
SEM FESTIVAIS
No ano passado, o Festival de Cannes iniciou a trajetória vitoriosa de “Parasita”, enquanto Veneza abriu as portas para a aclamação de Joaquin Phoenix como o Coringa. Isso para não falar de “A Forma de Água” e “Roma” em edições anteriores.
O coronavírus, porém, foi impiedoso com os grandes festivais de cinema mundo afora. Cannes foi cancelado e ninguém sabe se Veneza, Toronto e Nova York vão acontecer. Há quem aponte que Telluride como a alternativa de eventos pré-Oscar mais forte.
Desta maneira, muitos estúdios podem dar tiros no escuro, apostando em filmes que eles acreditam que possam chegar sem ter passado por uma espécie de teste de fogo. Com isso, a corrida rumo às indicações e aos prêmios pode ser completamente imprevisível.
HORA DO STREAMING?
A desgraça completa para o Oscar 2021 só não é completa por conta do streaming. A Academia, aliás, abriu uma exceção permitindo que filmes lançados diretamente neste tipo de plataforma não precisem ser exibidos nos cinemas por número mínimo de dias.
Dentro deste panorama, claro, que a Netflix está em melhor posição. A plataforma conta com projetos importantes prestes a serem lançados, entre eles, “Destacamento Blood”, do Spike Lee, “Mank”, novo longa do David Fincher, “Hillbilly Elegy”, do Ron Howard.
Mesmo assim, os grandes estúdios também contam com fortes candidatos já prontos como o remake de “Amor, Sublime Amor”, do Steven Spielberg, “Duna”, do Denis Villeneuve, “Ammonite”, com Kate Winslet e Saoirse Ronan, “Soul”, da Pixar, e o próprio “Tenet”, do Nolan.
Filmes que foram lançados em Berlim e Sundance, no início deste ano, são outras possibilidades. Estão entre eles “Never Rarely Sometimes Always”, “A Assistante”, “First Cow”, “O Caminho da Volta”, “Emma” e “Dois Irmãos”.
A pergunta será sobre o que a Academia pode buscar para premiar em um período tão obscuro da história. Vale lembrar que após o 11 de setembro, o Oscar premiou o musical “Chicago” e a fantasia de “O Senhor dos Anéis”, produções mais leves do que, por exemplo, ganhadores recentes como “12 Anos de Escravidão” e “Moonlight”.