Caio Pimenta apresenta a influência dos prêmios dos críticos dos EUA para a temporada de premiações e o Oscar 2021.
FILME INTERNACIONAL
O nosso “Bacurau” teve a honra de vencer entre os críticos de Nova York. Também daqui da América do Sul, o chileno “Los Fuertes” foi o favorito dos críticos na Flórida. O gualtemalteco “La Llorana” se deu bem em Boston, o russo “Uma Mulher Alta” em Los Angeles, enquanto o dinamarquês “Another Round” levou em Indiana e Chicago.
Como eu venho dizendo aqui no canal e no site já faz um tempinho, a falta de um Festival de Cannes ou de Veneza torna tudo muito imprevisível. Em anos anteriores, “Parasita”, “Retrato de uma Jovem em Chamas”, “Assunto de Família” e “The Square”, sucessos de Cannes, e também “Roma”, premiado em Veneza, dominaram a categoria.
Não duvido nada que isso tenha ajudado “Bacurau”, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes no ano passado. Também contribuiu o fato do filme ser distribuído pela Kino Lorber, uma empresa que adotou um sistema inovador de streaming capaz de ajudar diversos pequenos cinemas dos EUA.
Quanto a uma possível indicação ao Oscar, seria um milagre se viesse a acontecer, mas, isso ocorreria em outra categoria. Para 2021, o nosso representante é “Babenco”.
O que dói mais é ver que “Bacurau” pegou nos EUA, teve um público que gosta da produção, mas, mesmo que tivesse sido indicado ano passado, teria que duelar com “Parasita”.
Quanto ao favorito da categoria para 2021, “Another Round”, com duas vitórias junto a crítica e a vitória arrasadora no European Film Awards, sai na frente.
ANIMAÇÃO
Lançado na Apple TV, “Wolfwalkers” venceu em Nova York, Los Angeles e Chicago, enquanto “Soul” levou Flórida e Indiana. Já os críticos de Boston ficaram com o chilelo “A Casa Lobo”.
Aqui, no ano passado, a crítica americana, exceto de Chicago, ficou com “Perdi Meu Corpo”. A animação francesa até foi indicada, mas, não teve chances em meio a “Toy Story 4” e “Klaus”.
Por outro lado, a crítica de Nova York tem uma boa margem de acerto nos últimos anos nos vencedores do Oscar – por exemplo, “Aranhaverso”, “Viva”, Divertida Mente” e “Zootopia” foram premiados pelos dois.
Ainda que eu aposte em “Soul” como franco favorito, dá para dizer que “Wolfwalkers” colocou aquela pulga atrás da orelha do filme da Pixar e deve ganhar mais atenção nas próximas semanas.
ATOR COADJUVANTE
Nova York passou por cima do desejo da Netflix de colocar Chadwick Boseman, de “A Voz Suprema do Blues” em Melhor Ator e o elegeu como coadjuvante. Do mesmo filme, o Glynn Turman foi o vencedor em Los Angeles, enquanto o Leslie Odom Jr., de “One Night in Miami” ficou com Indiana. O maior vencedor, entretanto, foi Paul Raci: destaque em “O Som do Silêncio”, ele conquistou os críticos de Boston, Chicago e Flórida.
O Paul Ruci entrou definitivamente no radar para o Oscar. Chicago, onde ele ganhou, todos os quatro últimos vencedores foram indicados. Em Boston, esse número sobe para seis. Ele corre ainda por fora, mas, pode crescer nesta disputa. A presença do Glynn Turnan, de “A Voz Suprema do Blues” é outro nome que vinha sendo pouco falado, mas, agora, também entra na briga.
Se o Leslie Odom Jr. apenas confirma o que se espera da possível indicação dele ao Oscar, surpreende a ausência da Bill Murray, de “On the Rocks”. Ainda assim, por essa ser uma corrida em aberto, não duvido que o carisma dele e o fato de nunca ter vencido o Oscar consigam fazê-lo um forte candidato ao prêmio.
ATRIZ COADJUVANTE
Revelação de “Borat 2”, a Maria Bakalova conquistou os críticos de quatro cidades: Nova York, Flórida, Indiana e Chicago. Já a Youn Yun-Jung, de “Minari”, levou Los Angeles e Boston.
Apesar de ter acertado a vencedora do Oscar nos dois últimos anos, Nova York, quando escolheu uma atriz de comédia na categoria – no caso, a Tiffany Haddish, de “Girls Trip” – nem indicada ela foi. Mas, acho sim que a Bakalova cresce para chegar na indicação, aliás, é outro caso de corrida sem favorita, o que facilita essa nomeação dela.
Já a Youn Yun-Jung só confirma a força dela sendo um nome certo para indicação. Talvez, seja até uma forma da Academia se redimir da esnobada no elenco de “Parasita”.
MELHOR ATRIZ
A Frances McDormand, de “Nomadland” venceu junto aos críticos de Indiana, Flórida e Chicago. Por “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre”, a Sidney Flanigan foi premiada em Boston e Nova York, enquanto a Carey Mulligan, de “Promising Young Woman”, levou Los Angeles.
Não tem muita surpresa a Frances McDormand e Carey Mulligan saírem vencedoras, afinal, as duas são nomes certos entre as indicadas. A novidade fica mesmo pela Sidney Flannigan que realmente está ótima no filme da Eliza Hittman.
Porém, é bom lembrar que, nos dois últimos anos, as favoritas dos críticos de Nova York não foram nomeadas, incluindo, a triste esnobada para a Lupita Nyong´o, de “Nós”.
A Viola Davis apareceu em uma lista em segundo lugar, porém, a Vanessa Kirby, ganhadora de Melhor Atriz em Veneza por “Pieces of a Woman”, foi deixada de lado. Ainda assim, a eterna princesa Margareth estará no Oscar.
MELHOR ATOR
Por “Destacamento Blood”, Delroy Lindo venceu com os críticos de Nova York e Indiana. O Chadwick Boseman, de “A Voz Suprema do Blues”, ficou com Los Angeles e Chicago. Por fim, deu Anthony Hopkins, por “The Father”, em Boston e Flórida.
Apesar de nos últimos anos a Academia e a crítica terem ido para caminhos opostos nesta categoria, esse é um retrato muito bom do que será a corrida para o Oscar de Melhor Ator.
Cada um dos citados levou em duas regiões. O Boseman e o Hopkins, como já disse nos vídeos anteriores, são favoritos e estão brigando pesado pela estatueta. A vitória do Delroy serve para apontar uma tendência de um nome forte para a indicação assim como aconteceu em anos anteriores com as vitórias do Timothée Chalamet, Antonio Banderas e do Adam Driver.
Nos segundos lugares das listas, apareceram o Riz Ahmed, Steven Yeun e o John Magaro, de “First Cow”, justamente quem está na disputa pelas últimas vagas. Fica o registro das ausências do Gary Oldman e do Tom Hanks, cada vez mais distantes das indicações.
MELHOR DIREÇÃO
A única unanimidade entre os críticos foi a Chloe Zhao: ela venceu nas seis regiões em Melhor Direção por “Nomadland”.
Por incrível que pareça, isso não é totalmente um bom sinal: nos anos 2010, as unanimidades em Direção foram duas – o David Fincher, por “A Rede Social”, e o Richard Linklater, de “Boyhood”. Quando foram para o Oscar, porém, eles perderam, respectivamente, para o Tom Hooper, de “O Discurso do Rei”, e o Alejandro González Iñarritu, por “Birdman”.
De qualquer modo, cada vez mais, a Chloe Zhao se credencia como a favorita ao Oscar 2021. Por outro lado, o Fincher nem em segundo lugar apareceu. Isso não significa que ele não será indicado, mas, aponta que “Mank” passou longe de conquistar a crítica e dá para dizer o público também.
Outra coisa interesse de ser observada nas listas é a presença feminina: a Kelly Reichardt, de “First Cow”, e a Regina King, de “One Night in Miami”, apareceram em segundo lugar. Isso demonstra que a gente pode ter, pela primeira vez, duas mulheres indicadas em Direção, incluindo, a primeira mulher negra.
MELHOR FILME
“Nomadland” levou em Indiana, Boston e Chicago. “First Cow” ficou com Nova York e Flórida. Já Los Angeles surpreendeu e optou pela coletânea de cinco filmes “Small Axe”, comandada pelo Steve McQueen, diretor de “12 Anos de Escravidão”.
Que “Nomadland” será indicado, isso todo mundo sabe. Agora, vencer em três regiões, seguir extremamente forte desde Veneza, praticamente ser elogiado por onde passa o coloca, assim como a Chloe Zhao em Melhor Direção, na dianteira para levar o Oscar.
A boa novidade é a vitória de “First Cow”, especialmente, em Nova York. Exceto por “Carol”, todos os vencedores na maior cidade americana foram indicados ao Oscar de Melhor Filme desde 2008. Então, a conquista obtida pelo longa da Kelly Reichardt é monstruosa e super importante para uma campanha dentro da Academia.
“Minari”, “A Voz Suprema do Blues” e “Os Sete de Chicago” também se deram bem ao conquistar o segundo lugar de algumas listas. Novamente, “Mank” ficou de fora assim como “The Father” e “Relatos do Mundo”.