Caio Pimenta indica 10 grandes filmes não nomeados ao Oscar 2021 e onde encontrá-los.

UM HERÓI 

Não foi desta vez que o Asghar Farhadi, ganhador de duas estatuetas com “A Separação” e “O Apartamento”, chegou ao Oscar de Melhor Filme Internacional. 

Independente disso, “Um Herói” é mais uma obra-prima do cineasta iraniano. 

A produção traz a história de um calígrafo preso por uma dívida que não consegue pagar.

Ele consegue ficar dois dias fora da prisão para pedir a retirada da queixa e poder resolver a situação, porém, o caso ganha proporções ainda maiores. 

Hoje em dia, ninguém no mundo consegue trazer histórias tão densas a partir de pontos de partidas comuns como o Farhadi.

“Um Herói” levou o Gran Prix do Festival de Cannes 2021. 

TITANE 


Falando de Cannes, hora de falar do ganhador máximo da edição do ano passado.
 

Visceral, transgressor, radical, limítrofe… adjetivos não faltam para classificar “Titane”.

O grande filme de Julia Ducornau acompanha uma mulher que, após um acidente de carro na infância, carrega uma placa de titânio em seu crânio. Trabalhando em uma série de empregos, ela conhece o chefe dos Bombeiros à procura do filho. 

Pelo estilo ame ou deixe-o, “Titane” não tinha a menor possibilidade de aparecer no Oscar 2022. Porém, para quem gosta de filmes que se arriscam anos luz mais que um convencional “King Richard”, este é uma opção maravilhosa. 

DESERTO PARTICULAR 

Claro que eu tinha que destacar o cinema brasileiro. Se a Academia não levou “Deserto Particular” nem para shortlist, azar dela. 

O longa apresenta a história de um policial afastado da função em Curitiba indo visitar no interior de Pernambuco uma mulher por quem se apaixona através de mensagens de aplicativo. Ao chegar no lugar, a situação se reconfigura. 

O Aly Muritiba já vinha de grandes filmes como “Ferrugem” e “Para Minha Amada Morta” fazendo aqui um dos filmes mais bonitos e apaixonantes do cinema brasileiro.

Bom lembrar que “Deserto Particular” foi premiado pelo público no Festival de Veneza. 

MASS 

Saindo agora da categoria de filme internacional e indo para os longas norte-americanos, temos “Mass” que passou perto em algumas categorias. 

Dirigido por Fran Kranz, o drama podia ter sido nomeado nas categorias de coadjuvantes, especialmente, com Ann Dowd e o Jason Isaacs, além de Roteiro Original.

O filme traz a conversa entre os pais de atirador que invadiu um colégio e os pais de uma das vítimas seis anos após a tragédia.  

Filme pesado e importante sobre um problema social norte-americano muito longe do fim. 

IDENTIDADE 

Primeiro longa na direção da ótima Rebecca Hall, “Identidade” merecia ter tido mais sorte no Oscar 2022. 

Ambientado na Nova York dos anos 1920, o longa mostra o encontro de duas mulheres negras que levam vidas opostas. Enquanto a personagem de Tessa Thompson é casada com um homem negro e age na luta contra o racismo, a vivida por Ruth Negga se passa por branca e tem um relacionamento com um racista. As transformações nas vidas de cada uma movem a produção. 

Seria incrível ter visto “Identidade” nomeado em Maquiagem e Penteado, Direção de Fotografia, Roteiro Original e, pelo menos, a Ruth Negga em Atriz Coadjuvante.

Nenhuma indicação acabou sendo um erro terrível da Academia. 

CRY MACHO 

A Academia parece ter cansado do Clint Eastwood para sequer cogitá-lo na premiação deste ano. 

Por trás da aparência despretensiosa da história, “Cry Macho” revisita a mítica da macheza do caubói norte-americano a partir de uma obra marcada por encontros inesperados e por muito afeto.

Tudo isso em uma história do personagem do Clint indo até o México para levar o filho de um antigo conhecido aos EUA. 

Em uma categoria de Melhor Ator em que a quinta vaga permitiu tantas possibilidades nada empolgantes, por que não o Clint aparecer aqui?

Seria até mesmo para prestigiar a possível última atuação dele com uma bela homenagem. 

ANNETTE

Se a temporada de premiações atual é dos musicais, por que não “Annette”? 

A produção traz grandes performances de Adam Driver e Marion Cotillard, além de uma desconstrução do gênero típica do Leos Carax, ganhador de Melhor Direção em Cannes 2021. 

Infelizmente, é um filme daqueles que o Oscar nem sequer cogita para a premiação. 

A única chance de “Annette” foi em Canção Original com “So May We Start”, porém, a Academia resolveu ficar com a Dianne Warren e fraquinha “Down to Joy”, do convencional “Belfast”.

Mais Oscar, impossível. 

SHIVA BABY 

Incômodo, angustiante e estranhamente engraçado. Este é “Shiva Baby”. 

Dirigido e roteirizado pela estreante em longas, Emma Seligman, o filme apresenta uma protagonista fascinante dentro de uma história batida de pressão da família para uma jovem com 20 e poucos anos.

Através da ótima atuação de Rachel Sennott, somos testemunhas de um martírio acompanhado sempre de perto pela câmera em um ambiente sufocante e uma série de erros que se avolumam ao longa dos breves 77 minutos. 

Merecia nomeações fáceis em Roteiro Original, Trilha Sonora, Ator Coadjuvante com Fred Melamed e, pelo menos, a Sennott considerada em Melhor Atriz. 

SEMPRE EM FRENTE 

Mike Mills continua a sina de ótimos filmes pouco lembrados no Oscar. 

“Sempre em Frente” mostra o Joaquin Phoenix como um documentarista sendo responsável por cuidar do sobrinho enquanto a mãe busca ajudar o pai do garoto em um momento delicado.

Longe dos caminhos fáceis, Mills aproveita a história para tecer diálogos sobre a maternidade, relações familiares e o crescimento de um adolescente a partir da literatura e do próprio ato de se comunicar. 

Teria indicado tranquilamente em Roteiro Original, ator coadjuvante com o Woody Norman e atriz coadjuvante com a excelente Gaby Hoffmann. 

MATRIX RESURRECTIONS 

Sim, o filme mais divisivo de 2021 teria espaço fácil no Oscar. Isso, claro, se dependesse de mim. 

Matrix Resurrections” é um tapa na cara em 99% dos blockbusters lançados todos os anos.

Lana Wachowski ri da cara da indústria e de uma parte dos fãs a partir de um filme que se recusa ao fan service fácil ao mesmo tempo em que presta uma declaração de amor àquele universo ao compreender a grandeza da série e sua importância de ser uma analogia às minorias, especialmente, LGBTQIA+. 

Por mim, teria sido indicado facilmente em Efeitos Visuais, Som, Roteiro Adaptado, Direção com Lana no lugar do Branagh e Melhor Filme tirando “Duna”.

OUÇA O PODCAST SOBRE A REPERCUSSÃO DAS INDICAÇÕES AO OSCAR 2022: