Menos de um mês para o Oscar e “Ataque dos Cães” parece consolidado rumo ao prêmio de Melhor Filme.  

A aclamação junto à crítica, a vitória no Globo de Ouro, líder de indicações no prêmio da Academia, Jane Campion favorita absoluta em direção – todos estes fatores jogam a favor da produção disponível na Netflix. 

Diante disso, fica a pergunta: é um favoritismo total igual “Nomadland” ou pode surgir uma surpresa? E quem seria ela?  

SEM CHANCES 

Dos 10 indicados a Melhor Filme, um deles vai está acompanhando o Oscar em posição privilegiada.

Estar entre os finalistas foi a grande vitória de “O Beco do Pesadelo”.

Na disputa contra “A Tragédia de Macbeth” e “Tick, Tick…Boom!”, o noir do Guillermo Del Toro levou a melhor.

A própria postura do Guillermo Del Toro em enaltecer o trabalho do Spielberg em “Amor, Sublime Amor” é clara de quem sabe não ter a menor chance.  

AQUELE 1% DE CHANCE 

O fenômeno de público do fim de 2021 teve uma chance microscópica de levar Melhor Filme. 

E esta pequena possibilidade de “Não Olhe Para Cima” está justamente no elenco repleto de estrelas da produção.

Ter Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett e Jennifer Lawrence para fazer campanha nunca atrapalha.  

Porém, a derrota no SAG demonstra como nem isso deve contribuir para impulsionar uma comédia que divide muitas opiniões, toca em feridas políticas dos EUA ainda muito doloridas e que dá uma sensação de que já viveu seu auge. 

Para piorar, a Netflix deve concentrar todo o esforço dela em garantir o favoritismo a “Ataque dos Cães”. Trazer a concorrência interna neste momento tão próximo da sonhada vitória parece uma estratégia estúpida. 

POUCAS CHANCES 

Quatro produções apresentam poucas chances de chegarem ao prêmio. 

A primeira delas é “Duna”.

A Warner pode jogar com o fato do longa ter sido a maior bilheteria entre todos os indicados, logo, representando um aceno da Academia para o público.

Além disso, deve sair como o mais premiado da noite por ser favorito em muitas categorias técnicas.

Por outro lado, a ausência de Denis Villeneuve em Direção e ser o primeiro filme da franquia jogam contra o filme. 

“Licorice Pizza” é o filme de Paul Thomas Anderson, um diretor amado pela indústria, e traz para a tela a Los Angeles dos anos 1970 e o universo do entretenimento norte-americano dentro de uma história de amor.

As polêmicas relativas à diferença de idade entre os protagonistas e, especialmente, às piadas com as personagens japonesas podem até atrapalhar, mas, o crescimento tardio do filme na temporada deve ser o fator preponderante para uma provável derrota. 

Apesar da vitória importante no Sindicato dos Montadores, “King Richard” deve seguir o caminho de produções nomeadas a Melhor Filme, mas, que serviram apenas para garantir ao seu protagonista a vitória em Melhor Ator.

Isso ocorre desde o Daniel Day-Lewis, em 2013, por “Lincoln”, até o Anthony Hopkins de “Meu Pai”. 

A última vez em que Melhor Ator e Filme tiveram vencedores iguais foi em 2012 com o Jean Dujardin, de “O Artista”. 

Por fim, “Drive My Car” chega com o apoio da comunidade internacional e a adoração dos críticos.

Porém, acho muito improvável a Academia dar uma segunda estatueta em tão curto espaço de tempo para outra produção de língua não-inglesa e, agora, com menos impacto pop do que teve “Parasita”. 

Apesar disso, dos três candidatos, acho que “Drive My Car” é o que tem maiores condições de surpreender. 

EM QUEDA 

Dá até pena de ver o que acontece com “Belfast” nesta temporada de premiações. 

O longa do Kenneth Branagh saiu consagrado do Festival de Toronto ao vencer o prêmio de filme favorito do público, resultado alcançado por obras como “Nomadland” e “Green Book”.

No fim de 2021, eram só elogios para a produção por onde passava.  

Na virada do ano, entretanto, a visibilidade de “Belfast” cresceu e percebeu-se que o filme não era tudo isso que se imaginava.

A derrota no Globo de Ouro para “Ataque dos Cães” sinalizou o problema enquanto as críticas aumentavam. No Oscar, as esnobadas em Montagem e Direção de Fotografia confirmaram a tendência sacramentada no SAG ao perder Melhor Elenco. 

“Belfast”, claro, pode se recuperar, afinal, o Bafta e o Sindicato dos Produtores podem ajudar, mas, nada indica que isso pode acontecer.

A expectativa é, quem sabe, tentar encontrar algum paralelo com a guerra na Ucrânia de famílias separadas por conflitos maiores que elas e o olhar de esperança de uma criança no meio de tudo isso. 

Parece exagerado, né? Mas, não duvide do que os estúdios são capazes em períodos de Oscar. 

EM ALTA 


Quem diria que um filme ganhador de Sundance em 2021 poderia chegar forte no Oscar deste ano?
 

“Coda” prova isso e está em alta neste momento. 

No meio de uma lista tão contestada pela falta de popularidade, “Coda” é a produção capaz de agradar a gregos e troianos.

Ser uma produção com baixa rejeição pode ajudar em uma votação que busca o consenso. Conta a favor também com a questão da inclusão a partir de um elenco composto, em grande parte, por atores surdos.

A vitória no SAG de Melhor Elenco superando “Belfast” e as estrelas de “Não Olhe Para Cima” não é pouca coisa.  

Por outro lado, “Coda” está de fora de importantes categorias como Direção, Montagem e Direção de Fotografia. Sem estas nomeações, fica muito complicado levar Melhor Filme. 

De qualquer maneira, se acontecer, seria uma incrível ironia do destino, afinal, o primeiro streaming a ganhar o Oscar será a Apple e não a Netflix. Já pensou isso? 

MAIOR RIVAL 

O maior rival, neste momento, de “Ataque dos Cães” chama-se “Amor, Sublime Amor”. 

A postagem de Guillermo Del Toro no Twitter exaltando Steven Spielberg e Janusz Kamiński e a crescente revolta pela esnobada a Mike Faist em Ator Coadjuvante dão tom de que o musical, finalmente, está sendo visto.

A estreia no Disney+ no início de março deve provocar ainda maior frisson e visibilidade em torno do longa.  

A consolidação do favoritismo de Ariana DeBose em Atriz Coadjuvante também joga a favor de “Amor, Sublime Amor”, porém, a ausência no Bafta e em Melhor Montagem no Oscar, além do favoritismo de Jane Campion podem atrapalhar o longa. 

Vale lembrar também que o último musical a vencer Melhor Filme foi “Chicago” há 20 anos.

Será que o gênero ainda conquista Hollywood e, especialmente, a ala internacional da Academia?