Do improvável “Bardo” ao favorito “Os Fabelmans”, Caio Pimenta aponta as previsões iniciais para o Oscar 2023 de Melhor Filme.

CANDIDATOS IMPROVÁVEIS

A lista de candidatos improváveis de serem indicados reúne algumas das decepções da temporada. 

“Amsterdam” é uma delas: a crítica considerou o longa até divertido em certos momentos, mas, não o suficiente para segurar o espectador até o final.

O crítico do The Wrap, aliás, chega a dizer que o filme é desconectado e desleixado.

Parece que o amor da Academia com o David O. Russell seguirá suspenso. 

Sobre as decepções de “Ruído Branco” e “Bardo”, a grande novidade recente é que o drama do Iñarritu pode ter uma sobrevida graças ao apoio de nomes importantes da indústria como a Cate Blanchett que já elogiou a produção,

O México também selecionou o longa da Netflix para ser o representante do país em Melhor Filme Internacional.

Com o apoio milionário do streaming, não duvido que “Bardo” se recupere para, pelo menos, ser nomeado nas áreas técnicas. Melhor Filme, entretanto, parece improvável demais. 

“I Wanna Dance With Somebody” e “Blonde” não devem ir longe na categoria pelo simples fato de “Elvis” ser a cinebiografia de popstar da temporada.

Para piorar, o filme sobre a Whitney Houston tem uma cara de ser aquele tipo de obra sem personalidade igual fora “EUA Vs Billie Holliday” e “Respect”, enquanto a produção sobre a Marylin Monroe está cercada de polêmicas e não foi bem recebida pela crítica e público. 

CORRENDO POR FORA 

Com grandes nomes adorados pela Academia, a turma que corre por fora terá como principal desafio crescer durante a temporada para ser visto e desafiar as produções hoje consolidas no topo da corrida. 

“Armageddon Time”, por exemplo, saiu de Cannes sem muito entusiasmo, porém, nas últimas semanas, cresceu graças ao carinho da crítica e do público cinéfilo com o James Gray, um dos melhores e mais subestimados diretores da atualidade.

Pode ser salvo pela comunidade internacional e chegar ao Oscar nos moldes de “Drive My Car”. 

Falando da turma de fora dos EUA, o sul-coreano “Decision to Leave” pode repetir o feito de “Parasita” e ser nomeado a Melhor Filme.

O Park Chan-Wook tem muitos fãs na crítica e apoio de nomes influentes como Quentin Tarantino e Spike Lee.

O prêmio de Melhor Direção em Cannes é um bom credencial. 

“Living” é aquele caso de candidato discreto que pode crescer de última hora, impulsionado pelo Bill Nighy.

Querido e respeitado pela indústria, o britânico pode se aproveitar da queda do Hugh Jackman e Adam Driver para beliscar a vaga em Melhor Ator.

Desta forma, ele ajuda a aumentar as chances do drama. 

Caso semelhante ocorre com “Causeway” protagonizado pela Jennifer Lawrence, e “Till”, drama em que a atuação da Danielle Deadwyler está sendo considerada como um possível ponto de virada em Melhor Atriz.

Ainda que o trailer não seja dos mais animadores, vale ficar atento ao filme.  

A enésima adaptação de “Pinóquio” traz como grande ativo ter Guillermo Del Toro na direção.

Vale lembrar que o diretor anda em estado de graça com a Academia após vencer a estatueta com “A Forma da Água” e ser nomeado por “O Beco do Pesadelo”.  

“Bones and All” tem Luca Guadagnino, Timothée Chalamet, a revelação Taylor Russell e os dois prêmios conquistados em Veneza.

O romance de dois jovens canibais em viagem pelos EUA, entretanto, não parece ser aquele filme abraçado todos os dias pela Academia. 

Por fim, “Wakanda Forever”, superprodução da Marvel para o fim do ano.

Ter mulheres negras de protagonistas de um blockbuster contaria a favor se não tivesse no mesmo ano “A Mulher Rei”.

Para piorar, a indicação a “Pantera Negra” pode fazer com que a Academia acredite que o reconhecimento já foi dado, não precisando repetir a dose. 

CHANCES MÉDIAS 

Com chances médias, aparece “A Mulher Rei”, o qual sai em vantagem em relação a “Wakanda Forever” por ter a grande Viola Davis no elenco, uma diretora mulher e o desafio de ter sido realmente filmado na África.

Por outro lado, fico pensando se o filme não está gastando todo seu cartucho agora, correndo o risco de perder força nas próximas semanas. 

Críticas ótimas, fracasso dos principais candidatos da Netflix e o terceiro lugar do público no Festival de Toronto.

Tudo isso seria suficiente para colocar “Entre Facas e Segredos 2” mais acima na lista, mas, sinceramente, não boto tanta fé assim.

A sensação que tenho é que, na hora em que a lista tiver mais próxima de fechar, a Academia será mais tradicional e vai para candidatos mais óbvios.

É o caso do próximo filme. 

“The Son” conta com o prestígio do Florian Zeller, vencedor de Melhor Roteiro Adaptado por “Meu Pai”, porém, não empolgou até agora por onde passou.

Talvez a esperança seja uma boa repercussão do filme junto ao público, especialmente, graças à força de Hugh Jackman.

Caso a lista de 2023 não consiga ter 10 filmes indiscutíveis, vejo uma possibilidade para ficar com a última vaga. 

“She Said” também seria uma boa opção, afinal, dramas jornalísticos recentes como “Spotlight” e “The Post” marcaram presença no Oscar.

Aqui, entretanto, por tocar em uma ferida muito viva da indústria, a obra estrelada pela Carey Mulligan e Zoe Kazan pode dividir a Academia com apoio da ala mais engajada e rechaço dos conservadores e amigos próximos do Harvey Weinstein. 

Pensando em apostas mais arrojadas, os próximos três candidatos poderiam tornar a lista de Melhor Filme bem interessante. 

“All the Beauty and the Bloodshed” pode ser o primeiro documentário a ser nomeado na categoria máxima do Oscar.

O respeito da indústria a Laura Poitras e o Leão de Ouro em Veneza são credenciais fortes, mas, há sempre o risco dos membros da Academia quererem restringi-lo à categoria dos docs.  

Triangle of Sadness” seria uma forma de colocar acidez entre os indicados a partir de uma comédia fora da caixinha e com ataques nada sutis à elite mundial. Traz a Palma de Ouro como sua maior arma.

Por falar em arma, temos “Sem Novidade no Front”, filme alemão com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes após a passagem pelo Festival de Toronto. Vale lembrar a queda da Academia por filmes de guerra. 

GRANDES CHANCES

O jogo começa a esquentar a partir daqui com candidatos com grandes chances de indicação a Melhor Filme. 

Como já disse aqui, “Elvis” é a cinebiografia da temporada contando com a mítica do Rei do Rock, a grande atuação de Austin Butler e o impecável trabalho técnico em todas as áreas.

Baz Lurhmann com seu estilo espalhafatoso e, algumas vezes, cansativo pode jogar contra, mas, não o suficiente para deixá-lo de fora. 

Grandiosidade também é a marca de “Babilônia”: pelo trailer, o Damien Chazelle não poupou esforços em fazer sua versão de “O Grande Gatsby” ambientada em Hollywood.

Apesar da esnobada em “O Primeiro Homem”, considero que seja ainda muito querido na Academia para ser deixado de lado novamente. 

“Babilônia” só não sobe mais aqui na lista por não ter sido lançado. Logo, melhor ser precavido. 

Quem já foi visto e muito elogiado foi “The Whale”: aqui, é inevitável falar do Brendan Fraser, aclamado em Veneza e com a transformação visual sempre querida pela Academia.

Como muitas vezes o ator puxa o filme, vejo o longa do Darren Aronofsky praticamente dentro dos finalistas. 

“Empire of Light” reúne Sam Mendes com a Olivia Colman, uma quase covardia contra os demais candidatos.

Mesmo que a recepção não tenha sido a aclamação esperada, é um filme muito Oscar bait para não ser indicado. 

Avatar, de James Cameron

Por fim, temos “Avatar: O Caminho da Água”: depois de tudo o que já fez na carreira e lançar uma continuação após 12 anos do original, o James Cameron não pode ser subestimado jamais.

O relançamento do primeiro filme com ótima bilheteria mostra como a curiosidade em torno dele não diminui e, se a sequência corresponder 70% do esperado, ele estará no Oscar sem dificuldade. 

QUASE LÁ 

Se fosse cravar aqui uma estatística, diria que os próximos três filmes estão 99% garantidos. 

O retorno do Todd Field após mais uma década com “TÀR” foi recebido em Veneza praticamente de forma unânime com elogios à condução dele e, claro, ao desempenho da Cate Blanchett.

Há quem considere ser o melhor papel da carreira dela – o que já significa bastante. Tende a ser o indicado mais aclamado pela crítica e por uma parte do público cinéfilo. 

Já “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e “Top Gun: Maverick” são finalistas improváveis que conseguiram o feito raro de conciliar adesão popular com sucesso perante a crítica.

Não apenas servem como forma de atrair o público, mas, também de mostrar a capacidade criativa de uma indústria quando bem utilizada, seja na criação de um conteúdo original seja em remodelar para os tempos atuais uma fórmula consagrada. 

VAGAS GARANTIDAS 

Por fim, os favoritos. 

Os Fabelmans” é a maior chance do Steven Spielberg vencer Melhor Filme desde “O Resgate do Soldado Ryan”.

Nostalgia, amor ao cinema, referências à grandiosa filmografia, elenco excelente, parceria com os colegas de décadas…

Está tudo ali reunido para a consagração. 

Falta combinar, porém, com “The Banshees of Inisherin”: a comédia dramática coleciona elogios por onde passa de forma unânime, especialmente, ao roteiro do Martin McDonagh, favorito entre os originais, e à dupla Colin Farrell e Brendan Gleeson.

E a Academia já demonstrou que gosta do humor trágico de McDonagh como ficou provado com “Na Mira do Chefe” e “Três Anúncios Para um Crime”. 

“Women Talking” completa o time apostando no grande momento das mulheres na Academia após as duas vitórias consecutivas em Melhor Direção – primeiro com a Chlóe Zhao e, neste ano, com a Jane Campion.

Também foi extremamente elogiado e tende a crescer quando a temporada se afunilar.