De “I Wanna Dance With Somebody” a “Amsterdam”, Caio Pimenta apresenta o TOP 10 dos maiores flops da temporada de premiações 2023.

I WANNA DANCE WITH SOMEBODY 

As cinebiografias são sempre candidatas fortes ao Oscar. O histórico de premiados do gênero mostra isso: de “Gandhi” a “A Teoria de Tudo” até chegar a “King Richard”. 

Esta foi a esperança para “I Wanna Dance With Somebody” emplacar na temporada, porém, não deu certo. 

Dois motivos justificam o flop: primeiro, a concorrência com “Elvis” que ocupou o posto de cinebiografia do ano. O longa sobre o Rei do Rock com a direção extravagante do Baz Luhrmann, a atuação elogiada do Austin Butler, a suntuosidade técnica e a campanha milionária da Warner não deixaram ninguém mais crescer ao redor. 

Para piorar, a cinebiografia sobre a Whitney Houston também não se ajuda por ser extremamente burocrática até para os padrões batidos do gênero. O roteirista Anthony McCarten, de “A Teoria de Tudo”, “O Destino de uma Nação” e “Bohemian Rhapsody”, aqui, promove uma colcha de retalhos da trajetória da cantora que, somada a uma direção burocrática da Kasi Lemmons, faz a produção não sair do lugar. 

Por mais que a Naomi Ackie se esforce e a reconstituição de época trazida pelos excelentes trabalhos de figurinos, maquiagem e penteado, não há como salvar “I Wanna Dance With Somebody” da mediocridade. A Whitney Houston merecia um filme melhor. 

BLONDE 

Continuando no setor das cinebiografias, “Blonde” virou um tiro pela culatra. 

As primeiras imagens em preto e branco e a transformação da Ana de Armas em Marilyn Monroe despertaram, pelo menos, curiosidade em todo o público. A estreia em Veneza até foi boa com 14 minutos de aplausos de pé, uma das maiores do festival de 2022. 

Mas, quando a produção estreou na Netflix, percebeu-se a bomba a que estávamos diante: ainda que reconheça a ideia relativamente bem-sucedida de criar uma sensação de pesadelo, o Andrew Dominik pesa a mão demais, deixando a linha da provocação para cair no mau gosto e até no desrespeito a Monroe. 

Por isso, a campanha para a indicação da Ana de Armas merece tantos créditos, afinal, conseguiu se desvencilhar de um desastre para focar somente no trabalho dela, realmente muito bom. Pena que a Netflix não fez o mesmo para Figurino e maquiagem e penteado, duas categorias que “Blonde” também merecia estar. 

ARMAGEDDON TIME 

Durante a temporada de premiações, há aqueles filmes que nem chegam a ir mal, mas, acabam sumindo quase que naturalmente. Foi o caso de “Armageddon Time”. 

O James Gray entrou na onda revisionista da infância tão em moda no cinema – Steven Spielberg, Kenneth Branagh, Paul Thomas Anderson e Alfonso Cuáron foram alguns do que se aventuraram por estes caminhos recentemente. Quando estreou, “Armageddon Time” carregava expectativas de ser a primeira produção do diretor amado pela crítica e cinefilia nomeada ao Oscar. Anthony Hopkins, Jeremy Strong e Anne Hathaway também pareciam candidatos fortes em coadjuvantes. 

A realidade, entretanto, foi outra: o drama perdeu espaço para “TÁR” dentro da Focus Features e ficou em segundo plano. A própria crítica não recebeu com grande entusiasmo “Armageddon Time”, o que definitivamente minguou qualquer chance de Oscar. 

UM FILHO 

Decepção. Esta palavra pode definir “Um Filho” nesta temporada. 

Não tinha como dar errado. Este era o pensamento praticamente unânime quando Florian Zeller, diretor e roteirista ganhador do Oscar com “Meu Pai”, decidiu fazer a segunda parte da trilogia com Hugh Jackman, Anthony Hopkins, Laura Dern e Vanessa Kirby no elenco. 

O problema é que deu errado e “Um Filho” já saiu com problemas do Festival de Veneza. Não que fosse considerado uma bomba, mas, a crítica e o público apontaram que Zeller foi incapaz de desenvolver uma produção com um assunto tão delicado como a depressão.  

Restou ao grupo de atores, especialmente, Jackman segurar um longa repleto de falhas. O australiano, porém, enfrentou concorrência dentro do próprio estúdio: a Sony Pictures Classics tinha “Living” e o grande desempenho do Bill Nighy. Não deu outra e o britânico acabou nomeado ao Oscar. 

RUÍDO BRANCO 

A categoria de decepção traz ainda “Ruído Branco”, candidato que ruiu logo depois da decolagem. 

Veneza não se encantou pela adaptação do clássico livro de Don DeLillo feita pelo Noah Baumbach. No Festival de Nova York, terra do diretor, a recepção foi melhor ainda que longe do empolgante. Adam Driver até chegou a emplacar no Globo de Ouro de Ator de Comédia/Musical, mas, não passou disso. 

A Netflix apostava muito em “Ruído Branco” até pelo carinho da indústria com o Noah Baumbach, vindo do sucesso de “História de um Casamento”. O fracasso da adaptação que sempre foi considerável “infilmável”, porém, não foi o único flop do streaming nesta temporada. 

BARDO 

Ganhador de dois Oscars de Melhor Direção com “Birdman” e “O Regresso”, o Alejandro González Iñarritu era a aposta que a Netflix acreditava ser certeira para, finalmente, ganhar o prêmio máximo da Academia. O retorno ao México para olhar e questionar as próprias origens repetia um roteiro já conhecido do streaming com “Roma”, do Alfonso Cuáron. 

Com este roteiro perfeito, era só esperar o dia 12 de março e ser feliz. 

Os deuses do cinema, porém, resolveram, mais uma vez, zoar com os desejos da Netflix. “Bardo” foi considerado pretensioso demais até mesmo para o nível Iñarritu. O ranço em relação ao mexicano, que já vinha de temporadas anteriores, encontrou o objeto de críticas perfeito no longa. 

O streaming até tentou uma salvação na reta final para que não fosse esquecido, pelo menos, nas categorias técnicas e em Filme Internacional, onde uma nomeação era obrigação. 

“Bardo” foi lembrado apenas em Fotografia. Talvez seja uma lição da Academia que o Alejandro González Iñarritu precise calçar as sandálias da humildade. 

NÃO SE PREOCUPE, QUERIDA 

Uma fofoca no melhor estilo Sônia Abrão fez um candidato ao Oscar sucumbir antes mesmo de ser lançado. 

O romance da diretora Olivia Wilde com o astro Harry Styles mais a briga dela com a Florence Pugh explodiram em Veneza com direito a caras e bocas do Chris Pine nas coletivas e entrevistas. Dali em diante, ninguém mais ligou para “Não se Preocupe, Querida”. 

O suspense até não foi mal de bilheteria, arrecadando US$ 45 milhões nos EUA, mas, não conseguiu fugir do noticiário de fofocas. Com o foco toda da Warner em “Elvis”, foi fácil descartar o suspense. 

Não que eu ame, porém, considero injusto o hate em cima de “Não se Preocupe, Querida”. Tem sim suas falhas, acho que a Olivia Wilde ainda não tem repertório suficiente para o que o filme pretende nem como suspense psicológico ou de terror, mas, apesar disso, gosto da ambientação, algumas boas cenas e, sem dúvida nenhuma, poderia ter sido nomeado tranquilamente em Design de Produção e Figurino. 

LIGHTYEAR 

A Disney e a Pixar conseguiram um feito histórico com esta animação. 

Como fazer uma produção sobre um dos personagens mais queridos da história do cinema ser insuportavelmente chato? “Lightyear” dá esta resposta com louvor, afinal, parte de uma ideia muito ruim – apresentar ao público o filme que deu origem ao boneco.  

Os US$ 226 milhões arrecadados foram protocolares para uma obra da Disney com seu marketing poderoso capaz de tomar de assalto os circuitos do mundo inteiro. 

“Lightyear” não foi o único fiasco da Disney na temporada: “Mundo Estranho” também foi outro filme apagado que mereceu ficar fora da lista. Definitivamente, um Oscar para esquecer. 

IMPÉRIO DA LUZ 

Sabe aquele caso de time que entra com todo o favoritismo e fica na primeira fase? Eis o caso de “Império da Luz”. 

Sam Mendes vinha forte depois de quase ganhar o Oscar com “1917”. A Olivia Colman se tornou uma queridinha da temporada de premiações desde “A Favorita”. O elenco coadjuvante tinha o oscarizado Colin Firth. Na equipe técnica, Roger Deakins na direção de fotografia, trilha da dupla Trent Reznor e Atticus Ross e montagem de Lee Smith, todos premiados pela Academia. 

Era um filme tão moldado para a premiação que a pecha de Oscar bait caiu como uma luva. Quando “Império da Luz” foi lançado isso ficou mais escancarado assim como a falta de habilidade de Sam Mendes em debater questões ligadas ao racismo. 

A nomeação a Direção de Fotografia para o Deakins acabou sendo lucro para um filme que fez uma temporada de premiações horrorosa. 

AMSTERDAM 

Nenhum flop, entretanto, foi maior do que “Amsterdam” nesta temporada de premiações. 

A cinefilia e a crítica nunca morreram de amores pelo David O. Russell, mas, a Academia insistia em prestigiá-lo ao dar espaço para filmes, no máximo, bons como “O Vencedor” (2010)“O Lado Bom da Vida” (2012)“Trapaça” (2013). “Joy” (2015) já havia sido um despertar do Oscar e, agora, com “Amsterdam”, a paciência chegou ao fim. 

Nem mesmo juntando Christian Bale, Margot Robbie, John David Washington, Robert De Niro, Rami Malek, Chris Rock, Anya Taylor-Joy e quem mais pudesse foi suficiente para o truque funcionar mais uma vez. “Amsterdam” é tão ruim que precisa agradecer ter ficado fora do Framboesa de Ouro. 

Aliás, o Christian Bale foi um dos pés-frios da temporada: também não emplacou com o esquecível “O Pálido Olho Azul”, suspense da Netflix com nomes do porte de Gillian Anderson, Robert Duvall, Toby Jones e Timothy Spall.