Melhor Ator será uma das disputas mais acirradas da temporada de premiações. Tirando o Colman Domingo, todos os outros quatro indicados ao Oscar 2024 têm chances de vitória. 

Nos eventos realizados até aqui, o Paul Giamatti conquistou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical e o Critics Choice.

Já o Cillian Murphy levou o Globo de Ouro de Ator em Drama.  

Caio Pimenta analisa os pontos fortes e fracos de Paul Giamatti, Cillian Murphy, Bradley Cooper e Jeffrey Wright ao Oscar 2024 de Melhor Ator.

 FAVORITO: PAUL GIAMATTI

O Paul Giamatti é o atual favorito da corrida de Melhor Ator. Não está em uma distância tão confortável dos demais, mas, aparece bem-posicionado neste momento. E razões não faltam para encorpar esta narrativa. 

O ator é daqueles nomes discretos, mas, extremamente queridos na indústria. Famoso ‘pau para toda a obra’, ele já foi coadjuvante de grandes sucessos comerciais como “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “O Resgate do Soldado Ryan” a “12 Anos de Escravidão” e “Jungle Cruise”. Raras foram as vezes em que pode assumir o protagonismo e, quando o fez, realizou muito bem como ocorreu em “Sideways”, “Anti-Herói Americano”, “A Minha Versão do Amor” e, agora, com “Os Rejeitados” 

Neste sentido, lembra muito a situação de Gary Oldman: igual o Giamatti, o britânico tinha uma coleção de ótimos trabalhos, mas, sempre deixados de lado pelo Oscar. Antes de 2018, foi indicado apenas uma vez por “O Espião que Sabia Demais”. “O Destino de uma Nação” acabou sendo a ocasião ideal para premiá-lo. 

Falando em ocasião ideal, “Os Rejeitados”, aliás, pode ser, talvez, a única chance da carreira de Giamatti vencer o Oscar de Melhor Ator. Digo isso até pela dificuldade dele em encontrar bons personagens constantemente em Hollywood e com tamanha valorização como acontece em 2024. 

Para além das narrativas externas, a dramédia do Alexander Payne também ajuda demais. “Os Rejeitados” é um filme que depende necessariamente dos atores para funcionar. É a química do trio de protagonista que amplifica a qualidade da história e o elo do público com aqueles personagens. Sean Penn em “Sobre Meninos e Lobos” e Casey Affleck de “Manchester à Beira-Mar” ganharam seus Oscars em situações parecidas.  

No melhor estilo Melvin Udall, responsável pela terceira estatueta de Jack Nicholson, o professor Paul Hunham é aquele sujeito que odiamos amar. Inicialmente rabugento e chato, ele, aos poucos, se deixa tocar pelas histórias dos seus parceiros inusitados de fim de ano. No término, fica impossível não gostar dele.  

Por outro lado, ainda que “Os Rejeitados” seja um filme muito querido, fica a dúvida se consegue parar “Oppenheimer”. Se a Academia resolver repetir o que houve em 2023 e concentrar todos os prêmios principais para o drama do Nolan, a situação do Giamatti se complica totalmente. Também pode pesar aqui o fato dele não ser um ator tão querido do ponto afetivo; há sim o respeito a ele, mas, bem diferente do carinho popular que ajudou o Brendan Fraser a superar o Austin Butler no ano passado. 

GRANDES CHANCES: CILLIAN MURPHY

O Cillian Murphy chega ao Oscar 2024 muito próximo do Paul Giamatti e sonha sim com a estatueta de Melhor Ator. O peso de estar no filme mais celebrado e popular da temporada contribui a favor do irlandês tal qual ocorreu nos anos das vitórias de Tom Hanks, por “Forrest Gump”, e Russell Crowe, por “Gladiador”. Com isso, vem também a aclamação e o carinho do público, fundamentais para as conquistas indiscutíveis de Leonardo DiCaprio emO Regresso e Joaquin Phoenix de “Coringa”. 

Em 2023, a Academia deixou claro que o período de temporadas com prêmios para vários filmes pode ter chegado ao fim com o domínio de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. “Oppenheimer” surge para repetir o feito e, caso se concretize, o Cillian Murphy pode aproveitar a onda a favor do longa da Universal Pictures. 

Por outro lado, isso também pode jogar contra o irlandês. Afinal, se “Oppenheimer” já caminha para ganhar Filme, Direção, Roteiro Adaptado e diversas categorias técnicas, logo, dá para abrir mão de Melhor Ator. Esta também é a primeira indicação da carreira do Cillian Murphy, um intérprete de 47 anos de idade e que tem tudo para aparecer mais e mais vezes na festa a partir de agora. Por fim, não ajuda em nada o aparente estilo ‘tanto faz’ que ele exala nas entrevistas; para uma disputa em que cada detalhe conta, isso pode pesar. 

CORRENDO POR FORA: BRADLEY COOPER

E quem disse que o Bradley Cooper não tem chances de levar Melhor Ator? 

O astro se escora na tradição da Academia premiar atuações de personalidades históricas. De Charles Laughton em “Os Amores de Henrique VIII” passando por Paul Muni, Paul Scofield, Robert De Niro, Ben Kingsley, Geoffrey Rush, Adrien Brody, Jamie Foxx, Philip Seymour Hoffman, Forest Whitaker, Sean Penn, Colin Firth, Daniel Day-Lewis, Eddie Redmayne, Gary Oldman, Rami Malek até o Will Smith conquistaram suas estatuetas em filmes do gênero. 

A confiança de Cooper cresce quando se trata de um gigante da cultura norte-americana como Leonard Bernstein. O maestro, aliás, tem história no Oscar seja com a indicação por “Sindicato de Ladrões”, seja com a adaptação do clássico “Amor, Sublime Amor”. 

A indústria tem verdadeira adoração pelo Bradley Cooper: não dá para esquecer que esta é a 12a indicação da carreira dele ao Oscar. Somente neste ano ele aparece também em Filme e Roteiro Original. Não ter uma estatueta pode pesar para quem ache que ele já faz por merecer o prêmio e encontre aqui a única saída para isso em 2024. Seria ainda uma forma da Academia prestigiar uma estrela de Hollywood que se arrisca em tantas áreas, tal qual fizera anteriormente com Robert Redford, Kevin Costner e Clint Eastwood. 

O combo fica completo com a entrega e a transformação física para Maestro” com uma maquiagem pesada na reta final. A incorporação dos maneirismos para ficar muito próximo de Bernstein, especialmente, no ápice na apresentação na igreja é daquele tipo que o Oscar ama premiar. 

Mas é aqui também que os pontos fracos começam, afinal, quai é o limite do bait? 

Os excessos funcionaram sim para Anne Hathaway, Meryl Streep, Gary Oldman, Eddie Redmayne, Rami Malek, Renée Zellweger e Brendan Fraser, porém, não adiantaram para Amy Adams e Lady Gaga. A situação piora quando Cooper dá aquelas declarações exageradas de que passou seis anos estudando para viver Leonard Bernstein, fazendo uma comparação indireta com a preparação de Cillian Murphy. São as frases desnecessárias que provocam antipatia dentro e fora da indústria. 

Hoje, uma vitória de Bradley Cooper causaria um grande alvoroço nas redes sociais e imprensa especializada até por conta dos próprios filmes envolvidos. Certamente, as críticas ao Oscar seriam pesadas demais, especialmente, com opções menos polarizantes disponíveis.  

Uma situação difícil para o astro de “Maestro’. 

ZEBRA: JEFFREY WRIGHT

Com menos chances, aparece Jeffrey Wright, um ator que guarda semelhanças com Paul Giamatti. 

Igual o colega de “Os Rejeitados”, o Jeffrey Wright traz uma sensação de que demorou demais para ser reconhecido da forma que merecia pela Academia. Sempre teve a habilidade de mesclar superproduções como os últimos 007, “Batman” e “Jogos Vorazes” com obras de diretores importantes como Wes Anderson, Oliver Stone e George Clooney. Isso, entretanto, nunca o levou a ser indicado ao Oscar nem a ganhar muitas oportunidades de ser protagonista. 

Isso tudo mudou com “American Fiction”, comédia satírica do Cord Jefferson. A presença certa ao longo da temporada na lista de Melhor Ator mostra como a indústria e os colegas têm um grande carinho com ele.  

O Jeffrey Wright ainda pode contar com o bom momento do filme: indicado ao SAG de Melhor Elenco, presente no PGA e chegando forte em categorias como Roteiro Adaptado, “American Fiction” mostra que pode surpreender no Oscar. Ainda que corra por fora, Melhor Ator é uma possibilidade conquista. 

Semelhante ao Cillian Murphy, porém, o Jeffrey Wright está na primeira indicação ao Oscar e “American Fiction” pode ser encarado como esta abertura de portas da Academia para ele e não apenas como um caso isolado. Logo, seria possível deixar para depois uma vitória – talvez em coadjuvante. 

Fora que atuações vindas de filmes de comédia não tem grandes chances de conquista – a última vez foi com o Jean Dujardin, de “O Artista”, há mais de 10 anos. 

CAMINHO RUMO AO OSCAR

Hora de imaginar aqui um cenário possível para a temporada de premiações. Acredito que o SAG irá de Paul Giamatti por conta do prestígio dele na indústria norte-americana, enquanto o Bafta deve ficar em casa com o Cillian Murphy. Desta forma, os dois chegaram iguais no Oscar. Se “Oppenheimer” dominar sem piedade a cerimônia, o Cillian vence. Acredito mesmo, porém, na conquista do Giamatti.  

O Bradley Cooper e o Jeffrey Wright somente terão chances se conseguirem uma reviravolta no SAG, demonstrando uma grande força junto aos colegas norte-americanos. Vale lembrar que o astro de “American Fiction” foi esnobado no Bafta, logo, precisa de uma recuperação imediata nos EUA. Já a estrela de “Maestro” deixaria claro como a rejeição seria mais do público e da crítica, porém, menor na indústria. Ainda assim, vejo ambos bem atrás. 

Previsões

Bafta: Cillian Murphy
SAG: Paul Giamatti
Oscar: Paul Giamatti