Caio Pimenta analisa as indicações anteriores de David Fincher no Oscar e a geração 1990 ainda sem prêmio de Direção.
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON
O David Fincher pode até ter redefinido o suspense dos anos 1990 com “Seven”, sido transgressor e ácido nas críticas ao consumismo e à desumanização do capitalismo em “Clube da Luta” e feito em “Zodíaco” um dos mais celebrados filmes dos anos 2000, mas, isso não foi suficiente para sensibilizar o Oscar. Para chegar ao prêmio da Academia, o diretor precisou suavizar a mão.
Em 2009, o Fincher conseguiu a primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme e Direção com “O Curioso Caso de Benjamin Button”. A melancólica história de um homem que rejuvenesce durante a vida e o romance protagonizado pelo personagem de Brad Pitt e Cate Blanchett surgiu como um dos favoritos ao evento.
“Benjamin Button”, porém, foi perdendo força durante a temporada de premiações, enquanto “Quem quer Ser um Milionário?”, do Danny Boyle, começou a despontar. Particularmente, não acho que seja absurda essa virada: para mim, o Fincher está preso em uma história que não tem o cinismo e a intensidade que ele sempre colocou nas tramas. A apatia do personagem-título em relação ao que acontece ao seu redor, sendo espectador do próprio mundo, impede o filme de alcançar todo o potencial que pode, ainda que haja momentos incríveis.
Evidente também que a vitória de “Quem quer ser um Milionário” e do Danny Boyle se dá mais por exclusão dos rivais do que méritos dele mesmo. Foi um Oscar em que os melhores candidatos, “O Lutador”, do Darren Aronofsky, e “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, do Christopher Nolan, acabaram de fora.
A REDE SOCIAL
Eu vou tentar fazer a linha zen, porém, é difícil aceitar que o David Fincher não levou o Oscar 2011 de Melhor Diretor.
“A Rede Social” saiu de um ponto de partida até melhor do que “Mank” em 2020, afinal, o filme sobre os bastidores de “Cidadão Kane” tem um grande rival chamado “Nomadland”. Em 2011, o caminho parecia mais limpo, mas, isso foi só até a temporada de premiações começar.
Dali em diante, só deu “O Discurso do Rei”, vencedor do PGA, DGA e do SAG de Melhor Elenco. O resultado no Oscar é um daqueles traumas que guardamos até hoje.
Mais do que a derrota em Melhor Filme, é inacreditável o resultado de Melhor Direção: você trocar toda a precisão cirúrgica do Fincher por aqueles planos tortos, enquadramentos da sutileza de um elefante que o Tom Hopper faz é de se perguntar o que a Academia estava pensando na hora da decisão.
O Fincher não é o único da geração de grandes diretores norte-americanos surgidos nos anos 1990 ainda sem um Oscar de Melhor Direção.
A GERAÇÃO 1990 (AINDA) SEM OSCAR: QUENTIN TARANTINO
O caso mais célebre de todos é, sem dúvida, o de Quentin Tarantino.
O diretor queridinho dos cults de plantão já disputou a categoria por “Pulp Fiction”, “Bastardos Inglórios” e “Era uma vez em Hollywood”.
Destas todas, acho que ele chegou mais perto de ser premiado com “Pulp Fiction”. O problema ali foi o Robert Zemeckis, indicado por “Forrest Gump”, filme que dominou todo a cerimônia de 1995.
Agora, se tivesse que premiar por um deles, seria por “Bastardos Inglórios”.
A GERAÇÃO 1990 (AINDA) SEM OSCAR: WES ANDERSON
O mais simétrico dos diretores americanos da atualidade, o Wes Anderson, concorreu a Melhor Direção apenas uma vez.
A nomeação veio por “O Grande Hotel Budapeste”, a produção com o visual mais incrível da carreira do Wes Anderson. Ele perdeu, porém, para o Alejandro González Iñarritu, de “Birdman”.
Não foi uma derrota injusta, afinal, Iñarritu mandou bem demais com aqueles planos-sequências sensacionais em parceria com o Lubezki. Já pelos filmes que ele não foi indicado, eu o teria nomeado por “Os Excêntricos Tenenbaums”.
A GERAÇÃO 1990 (AINDA) SEM OSCAR: SOFIA COPPOLA
No início dos anos 1990, a Sofia Coppola foi detonada pela atuação em “O Poderoso Chefão 3”. Ainda bem que ela decidiu ir para trás das câmeras, sendo indicada ao Oscar em 2004.
A nomeação veio pelo trabalho em “Encontros e Desencontros”, uma comédia romântica deliciosa com a então novata Scarlett Johnson e Bill Murray no melhor papel da carreira. Pena que foi justo no ano em que Peter Jackson não deu chance para ninguém.
Dos filmes seguintes, não indicaria a Sofia Coppola por nenhum deles, porém, acho que “Bling Ring” merecia sorte melhor no Oscar, o que espero que aconteça com “On the Rocks”.
A GERAÇÃO 1990 (AINDA) SEM OSCAR: M. NIGHT SHYAMALAN
Sim, eu sei que é polêmico, mas, se o Tom Hopper tem um Oscar, por que não o M.Night Shyamalan?
A única indicação dele foi pelo sensacional “O Sexto Sentido” em 1999, ano em que ele perdeu para o Sam Mendes, de “Beleza Americana”. Agora, se ele tivesse vencido, não acharia nenhum absurdo.
Para mim, acho que ele ainda poderia ter sido indicado por “Corpo Fechado” no lugar do Steven Soderbergh, de “Erin Brockovich” e também em Melhor Filme no lugar de “Chocolate”..
A GERAÇÃO 1990 (AINDA) SEM OSCAR: PAUL THOMAS ANDERSON
Como eu já causei muita polêmica com o Shyamalan, vamos, agora, para uma unanimidade: o genial Paul Thomas Anderson.
O melhor diretor americano em atividade foi indicado duas vezes: em 2008, por “Sangue Negro”, e em 2019, com “Trama Fantasma”.
Aqui, é até cruel porque em “Sangue Negro ele disputa contra os Coens de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, e com “Trama Fantasma” encara o Guillermo Del Toro, por “A Forma da Água”. É quase uma escolha de Sofia. Ainda assim, eu o teria premiado por “Sangue Negro”.
Além destes dois filmes, eu também teria indicado o Paul Thomas Anderson por “Magnólia” e “O Mestre”. E se deixassem “Vício Inerente” também.