A poucos dias do Oscar, a indústria do cinema dos Estados Unidos tenta adotar um tom reflexivo, humilde, após os escândalos que abalaram Hollywood e o lento progresso em temas de diversidade.

Do #OscarsSoWhite (Oscars Tão Brancos), protesto contra a ausência de indicados negros na cerimônia de 2016 às denúncias de abuso sexual contra o outrora poderoso Harvey Weinstein, a Academia tem consciência da necessidade de projetar uma imagem mais íntegra e honesta.

A boa notícia é que a audiência e os anunciantes milionários, que tornam o show possível, apostam cada vez mais na marca.

“Não há dúvidas de que o Oscar deu uma guinada total”, disse o especialista em marcas de celebridades Jeetendr Sehdev, autor de um estudo sobre a temporada de prêmios de Hollywood.

“É uma conquista fenomenal para os diretores da Academia, não apenas porque sua marca foi muito desacreditada e repleta de desconfiança nos últimos anos, mas também pelo ambiente politicamente carregado em Hollywood”.

Sehdev, um acadêmico influente, com mais de um milhão de seguidores nas redes sociais, mantém uma pesquisa desde 2012 na qual solicita, periodicamente, opiniões sobre os ricos e famosos em uma seleção aleatória de 2.000 adultos nos Estados Unidos.

Na sondagem mais recente, com o título “O poder do Oscar, 71% dos entrevistados afirmaram que confiavam na marca Oscar – contra 51% em 2015 – e 75% consideraram o show “inovador”.

Esta última resposta foi obtida apesar do caos observado na cerimônia do ano passado justamente no momento de anunciar o vencedor de melhor filme: Warren Beatty e Faye Dunaway receberam o envelope errado entregaram o prêmio para “La La Land”, quando na verdade o vitorioso era “Moonlight”.

– Minorias sub-representadas –

Para renovar a confiança, a Academia de 8.500 membros iniciou um processo de reformas, depois que pelo segundo ano consecutivo, em 2016, todos os indicados nas categorias de interpretação eram brancos, o que gerou pedidos de boicote e indignação nas redes sociais.

Muitos integrantes não ativos na indústria – a maioria homens brancos – perderam os privilégios de voto, enquanto a maioria dos 1.500 convidados a entrar para a Academia entre 2016 e 2017 eram mulheres ou negros.

Um estudo da universidade UCLA destaca que os dois grupos estão “consideravelmente sub-representados” em Hollywood.

“Relatórios nesta série demonstram repetidamente que os filmes e séries de televisão com um elenco adaptado à diversidade dos Estados Unidos tende a registrar as maiores bilheterias e audiências”, afirma o documento, baseado na produção de 2016.

Segundo o estudo, as minorias têm 13,9% dos papéis de protagonista no cinema e 18,7% na televisão, com apenas 12,6% na direção do cinema.

As mulheres dirigem apenas 6,9% dos filmes.

US$ 2,6 milhões por 30 segundos

A credibilidade do Oscar importa porque vencer a estatueta se traduz em dinheiro, recorda Sehdev, autor do livro “The Kim Kardashian Principle”.

“Os vencedores do Oscar terão, inevitavelmente, melhores ofertas de patrocínios, já que as marcas buscam celebridades que possam influenciar a geração ‘millennial’, a mais multicultural até hoje”.

Oito em cada 10 entrevistados por Sehdev concordaram que os negros eram responsáveis pela percepção de confiança e respeito, enquanto cinco em cada 10 atribuíram às mulheres, o que poderia sugerir que o movimento #MeToo teve menos impacto que o #OscarsSoWhite.

“As mulheres corajosas de Hollywood que revelaram os casos de assédio e abuso sexual, no entanto, são vistas como vitais na mudança de imagem do Oscar”, ressaltou o professor.

Os anunciantes mantêm a aposta na premiação de 4 de março, apesar do escândalo Weinstein, da controvérsia #OscarsSoWhite, do “Envelopegate” de “Moonlight” ou, talvez o mais importante, a queda da audiência, que em 2017 foi de 33 milhões de pessoas, a menor em nove anos.

O canal ABC, que exibe a premiação, vendeu todos os espaços publicitários, supostamente a 2,6 milhões de dólares por 30 segundos.

da Agência France Press