Há anos em que um filme sobra no Oscar: ocorreu com “O Silêncio dos Inocentes”, “A Lista de Schindler” e “Titanic”. Porém, há outras temporadas em que dois ou três filmes brigam pesado pela estatueta.
Caio Pimenta apresenta as 10 melhores disputas desde a década de 1990.
10. CHICAGO X O PIANISTA
Em 2003, teve fortes concorrentes como “Gangues de Nova York” e “As Horas”, mas, dois filmes dominaram a corrida.
De um lado, “O Pianista” era o melhor filme em décadas de Roman Polanski, um relato pessoal e emocionante da Segunda Guerra Mundial, enquanto do outro estava “Chicago”, inspirado musical com ótimas atuações de Renee Zellweger e, principalmente, Catherine Zeta Jones.
“O Pianista” parecia que dominaria o Oscar após vencer Melhor Roteiro Adaptado, Ator com Adrien Brody e Direção. “Chicago” somente Atriz Coadjuvante. A Academia, entretanto, não resistiu aos charmes dos musicais e ficou com filme dirigido por Rob Marshall.
Ainda que goste demais de “Chicago”, “O Pianista” merecia um pouco mais.
9. PARASITA X 1917
Com “O Irlandês” perdendo força a cada semana e “Era uma vez em Hollywood” dividindo o público, crítica e a própria indústria, o Oscar 2020 virou uma briga entre dois grandes filmes.
“1917” trazia a excelência da técnica do cinema americano em uma experiência de imersão na Primeira Guerra Mundial. Já “Parasita” chegava credenciado pela Palma de Ouro em Cannes, uma história universal sobre o capitalismo e apoio de parte da indústria em fazer história para as produções internacionais.
Depois de ganhar o PGA e DGA, o filme do Sam Mendes chegou ao Oscar como favorito, porém, viu “Parasita” passar na frente levando Roteiro Original, Direção e Filme, um resultado inesquecível e justo demais.
8. MENINA DE OURO X AVIADOR
A oitava posição fica com o duelo entre “Menina de Ouro”, do Clint Eastwood, e “O Aviador”, do Martin Scorsese.
Falei recentemente sobre esta disputa do Oscar 2005 em um vídeo recente aqui do canal.
7. BIRDMAN X BOYHOOD
O Oscar 2015 teve um duelo curioso durante a temporada de premiações: afinal, “Boyhood” mandou muito bem junto aos críticos dos EUA e começou com o pé direito ao vencer o Globo de Ouro. Entretanto, “Birdman” passou na frente e levou o SAG, DGA, PGA, deixando apenas o Bafta para o longa do Richard Linklater. No Oscar, a produção do Alejandro González Iñarritu fez a festa com vitórias em fotografia, roteiro original, direção e filme.
Este é um resultado que não me agrada até hoje: para mim, “Boyhood”, além da proeza histórica de ser feito ao longo de uma década, traz um olhar raro para o cotidiano, mostrando que a vida comum pode sim ser cinematográfica. Já “Birdman” vejo certa histeria na condução do Iñarritu, especialmente, no roteiro ainda que reconheça a brilhante fotografia do Emmanuel Lubezski e o elenco excelente liderado pelo Michael Keaton.
6. SPOTLIGHT X MAD MAX X O REGRESSO X A GRANDE APOSTA
Raras são as temporadas em que tantos filmes chegam com chance ao Oscar, mas, isso ocorreu em 2016.
Comédia sobre a crise financeira dos EUA em 2008, “A Grande Aposta” levou o PGA. “Spotlight” ficou com o SAG de Melhor Elenco, enquanto “O Regresso” recebeu o DGA, Bafta e o Globo de Ouro. “Mad Max” tinha o carinho do público e da crítica.
No Oscar, deu justamente o mais fraco de todos, “Spotlight”, um competente drama sobre jornalismo. “Mad Max” ganhou seis Oscars técnicos, mas, merecia mais, especialmente, Direção e Filme. Porém, a Academia ainda não está pronta para romper suas próprias barreiras.
5. GLADIADOR X O TIGRE E O DRAGÃO X TRAFFIC
No Oscar 2001, “Gladiador” despontava desde o meio do ano anterior como o grande favorito para a disputa ao trazer os épicos tão amados por Hollywood de volta ao gosto popular.
Porém, a produção dirigida pelo Ridley Scott não contava com o sucesso de “O Tigre e o Dragão” dentro dos EUA tanto na indústria e crítica quanto no público.
Já “Traffic” era a produção típica de ser abraçada pelo Oscar com um diretor querido da Academia, um grande elenco em papeis desafiadores e uma história relevante sobre um grave problema social norte-americano.
Em Melhor Filme, deu “Gladiador” como esperado, porém, o Steven Soderbergh, mesmo concorrendo contra ele mesmo, superou o Ridley Scott. Sei que muita gente torce o nariz para o épico do Scott por conta de erros históricos e um maniqueísmo excessivo da trama, mas, admito que eu acho excelente e muito justo o prêmio.
4. LA LA LAND X MOONLIGHT
Dois filmes praticamente opostos dividiram as atenções no Oscar 2017.
Com seu colorido e alto astral, “La La Land” traz novamente Hollywood como um lugar mágico em uma homenagem aos musicais com dois atores carismáticos e um diretor obsessivo na técnica. Já “Moonlight” é um drama pesado de assuntos polêmicos costurados com uma delicadeza pessoal por Barry Jenkins.
“La La Land” dominou a temporada de premiações, levando praticamente todos os prêmios. Porém, o hype excessivo fez o filme virar alvo e “Moonlight” se aproveitou disso assim como do movimento #OscarSoWhite para crescer. Apesar de preferir o musical, considero uma premiação tão importante por ser tão fora da curva que não consigo achar injusto o resultado.
3. DANÇA COM LOBOS X OS BONS COMPANHEIROS X O PODEROSO CHEFÃO 3
Pensou que não ia ter anos 1990 na lista? Abro o pódio com o Oscar de 1991.
A Academia tinha como opção consagrar, mais uma vez, “O Poderoso Chefão” como fizera nos dois longas anteriores. Havia também como reconhecer Martin Scorsese com sua obra-prima “Os Bons Companheiros”. O Oscar, porém, ficou com o astro e galã Kevin Costner, estreante na direção, em seu épico de três horas “Dança com Lobos”.
Quando eu vi “Dança com Lobos” pela primeira vez, admito que fui com muito preconceito por conta deste histórico, entretanto, gostei bastante pelo ritmo e a condução de cenas grandiosas por parte do Costner.
Porém, contudo, todavia, é inaceitável que “Os Bons Companheiros” tenha perdido; uma produção que redefiniu os filmes e séries de máfia nos anos 1990 em diante. Já “O Poderoso Chefão 3” pode até ser subestimado, mas, ficou de bom tamanho não ter sido premiado.
2. FORREST GUMP X PULP FICTION
Dois filmes queridos do público travaram um grande duelo no Oscar 1995.
“Forrest Gump” chegava com US$ 678 milhões das bilheterias mundiais, um ator no auge da carreira, efeitos visuais impressionantes para a época e a celebração da história dos EUA com um personagem representando a imagem de bondade e superação que o país sempre quis passar. “Pulp Fiction” era o representante do cinema independente, laureado pela Palma de Ouro em Cannes com um diretor apontado como o futuro do cinema americano e repleto de estrelas.
A Academia resolveu ser conservadora e ficou com o mainstream de “Forrest Gump”. Uma pena, pois, “Pulp Fiction”, além de ser mais filme, seria um reconhecimento do Oscar a uma nova geração chegando com força em Hollywood.
1. ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ X SANGUE NEGRO
O melhor duelo dos últimos 30 anos no Oscar aconteceu em 2008.
Dirigido pelos irmãos Coen, “Onde os Fracos Não Têm Vez” é um western moderno simbólico sobre a violência sem sentido e a banalização da vida humana, dois debates fundamentais hoje em dia. Já “Sangue Negro” é o maior filme da carreira de Paul Thomas Anderson com uma atuação sublime de Daniel Day Lewis sobre como a ganância e o egoísmo do capitalismo destroem as relações de um homem com todos que o cercam.
Como definir qual destas duas obras-primas é a melhor? Na moedinha, fico com “Sangue Negro”. A crueldade maior é que, no ano seguinte, tivemos a disputa mais morna das últimas três décadas com “O Curioso Caso de Benjamin Button” e “Quem quer ser um Milionário?”. Se tivessem esperado um ano, teriam vencido o Oscar facilmente.