De Charlton Heston a “Cantando na Chuva”, Caio Pimenta traz as 10 maiores esnobadas do Oscar nos anos 1950.

10. CHARLTON HESTON, por “OS DEZ MANDAMENTOS”

Em 1957, o épico bíblico “Os Dez Mandamentos”, obteve sete indicações ao Oscar. Ainda assim, uma esnobada deixou um gosto amargo para o filme.  

Afinal, o Charlton Heston ficou de fora de Melhor Ator. Apesar de não ser uma atuação extraordinária como Moisés, o astro tem carisma suficiente para segurar os longos 220 minutos da superprodução. Somente por isso já merecia o reconhecimento.  

A favor da Academia, há o argumento que a lista de indicados a Melhor Ator em 1957 foi pesada com nomes como James Dean, Rock Hudson, Laurence Olivier, Kirk Douglas e o vencedor Yul Bryner.  

9.HELEN HAYES, por “ANASTASIA” 

A Helen Hayes concorreu duas vezes ao Oscar e venceu em todas: a primeira com “O Pecado de Madelon Claudet”, em 1932, e 39 anos depois com “Aeroporto”. 

A presença dela na premiação, porém, poderia ter sido menos espaçada.  

Em “Anastasia – A Princesa Esquecida”, ela merecia, pelo menos, uma nomeação em Melhor Atriz Coadjuvante.

Afinal, ela encarna um contraponto duro às intenções do Yul Bryner ao mesmo tempo em que esmorece pela esperança de encontrar a personagem-título.

É uma excelente atuação.  

8. KIRK DOUGLAS, por “A MONTANHA DOS SETE ABUTRES” 

O clássico “A Montanha dos Sete Abutres” teve apenas uma indicação ao Oscar de 1952 na categoria de Melhor Roteiro e História.  

Entre as diversas categorias que poderia concorrer, uma foi bastante sentida. 

O Kirk Douglas tinha espaço na corrida de Melhor Ator daquele ano, pelo menos, entre os indicados.

Se Fredric March, Montgomery Clift, Marlon Brando e Humphrey Bogart eram presenças inquestionáveis, o astro poderia ter ficado no lugar do Arthur Kennedy, de “Só Resta a Lembrança”.  

7. JAMES STEWART, por “JANELA INDISCRETA” 

janela indiscreta alfred hitchcock

O Alfred Hitchcock não deu sorte no Oscar nos anos 1950. O mestre do suspense até foi indicado a Direção por “Janela Indiscreta”, porém, a produção poderia ter ido bem mais longe. 

A produção ficou fora de Melhor Filme perdendo a vaga para “A Nave da Revolta”.

Pior mesmo foi a esnobada ao James Stewart: mesmo excelente como protagonista voyeur e preso a uma cadeira de rodas, o astro foi esnobado em Melhor Ator.  

Aqui, eu tiraria fácil o Humphrey Bogart, de “A Nave da Revolta”. 

6. GIULIETTA MASINA, por “NOITES DE CABÍRIA”

“Noites de Cabíria” venceu o Oscar de 1958 na categoria de Melhor Filme de Língua Não-Inglesa. O clássico de Federico Fellini, entretanto, poderia ter tido, pelo menos, mais uma nomeação. 

Afinal, como deixar de fora a maravilhosa Giulietta Masina e sua imortal Cabíria?

Caminhando entre o lúdico e o trágico, ela constrói uma personagem multifacetada e cativante ao primeiro olhar.

Sem dúvida, sua presença em cena define uma parte da carreira de Fellini.  

Em 1958, a categoria de Melhor Atriz, vencida pela Joanne Woodward, de “As Três Faces de Eva”, passava longe de ser das mais disputadas. Isso realça ainda mais o esnobe da Academia.  

5. LADRÕES DE BICICLETA 

Continuando no cinema italiano, “Ladrões de Bicicleta” nem chegou a ter uma participação ruim no Oscar: recebeu um prêmio especial para produções não faladas em inglês e foi indicado a Melhor Roteiro na cerimônia de 1950.  

Ainda assim, a obra máxima do neorrealismo italiano merecia muito, muito mais.

As indicações a Melhor Filme e Direção para Vittorio De Sica deveriam ser obrigatórias, visto a transformação e a potência oferecidas pelo longa, algo que Hollywood só abriria os olhos décadas depois.  

Por outro lado, caso tivesse concorrido, “Ladrões da Bicicleta” entraria na lista dos resultados injustos porque não tinha como ele perder para “A Grande Ilusão”.  

4. HENRY FONDA, por “12 HOMENS E UMA SENTENÇA” 

“12 Homens e uma Sentença” se tornou clássico ao longo do tempo. Talvez, por isso, tenha ficado de fora de tantas categorias do Oscar pelas quais poderia ter sido nomeado.  

A maior delas, sem dúvida, foi em Melhor Ator com o Henry Fonda.

Único sujeito a colocar em questionamento a convicção geral do júri, ele gradualmente aponta incongruências no caso através de argumentos pertinentes.

Isso feito de forma elegante transmitindo a lucidez decisiva para os rumos da trama.  

Junto com “Vinhas da Ira”, este é o grande trabalho da carreira do Fonda. Também acho que o Lee J. Cobb em Ator Coadjuvante seria outra nomeação bem-vinda a “12 Homens e uma Sentença”.  

3. RASHOMON 

Obra-prima de Akira Kurosawa lembrada até hoje, “Rashomon” ganhou o prêmio especial dedicado a obras de língua não-inglesa e foi nomeado em Direção de Arte em Preto e Branco no Oscar de 1953.  

A esnobada, entretanto, pode ficar na conta da ausência de Akira Kurosawa em Melhor Direção e, principalmente, em Melhor Montagem.

Afinal, o setor é a alma do filme na forma como intercala as três versões dos protagonistas de maneira a sempre deixar tenso o espectador.   

Só não fico totalmente revoltado porque “Matar ou Morrer”, faroeste incrível do Fred Zinnemann, venceu Melhor Montagem.

Mas, havia sim espaço para “Rashomon”.  

2. UM CORPO QUE CAI 

um corpo que cai vertigo

Impossível não trazer o Alfred Hitchcock de volta à lista. O erro veio da cerimônia de 1959, uma das piores de todos os tempos.  

Como a Academia indica a Melhor Filme “Gigi”, “Acorrentados”, “Gata em Teto de Zinco Quente”, “A Mulher do Século” e “Vidas Separadas”, deixando de fora “Um Corpo que Cai”?

Pior que isso é abrir mão de Hitchcock em Direção?

Dentro deste contexto, as nomeações somente a Melhor Som e Direção de Arte parecem até deboche. 

1. CANTANDO NA CHUVA 

O maior esnobe do Oscar veio de um gênero amado pela Academia e de uma obra que trata justamente sobre a indústria do cinema.  

Mesmo com todos estes predicados, “Cantando na Chuva” foi nomeado apenas em Atriz Coadjuvante com Jean Hagen e Trilha Sonora de Filme Musical, perdendo esta categoria para “Meu Coração Canta”.

Nem todo o colorido, Debbie Reynolds graciosa, Gene Kelly no auge da forma e o momento musical mais lembrado da história do cinema foram suficientes.  

Na época, “Cantando na Chuva” foi visto como mais do mesmo entre os musicais da MGM, especialmente, por conta do sucesso de “Sinfonia de Paris” no ano anterior e também na cerimônia do Oscar.

Uma pena para um clássico.