Sim, o ano de 2013 foi um dos mais importantes da história do cinema amazonense.

Hipérboles são prazerosas (e um tanto ridículas), mas é preciso pôr as coisas em perspectiva.

Nunca se fez – ou viu – tantos filmes no estado. Há mais salas de cinema, algo há muito desejado pelos cinéfilos de Manaus, mesmo que a programação não tenha mudado muito. Há mais festivais e mostras de cinema, inclusive aquelas dedicadas somente ao talento local.

Acima de tudo, há mais gente querendo fazer cinema – de figuras de proa, como Aldemar Matias e Sérgio Andrade a crianças do projeto Jovem Cidadão, que neste ano tiveram aulas de produção cinematográfica, passando pelos talentos em maturação, como a turma de Rafael Lima, Leonardo Mancini, Rod Castro, Diego Nogueira, Emerson Medina e Moacyr Massulo.

O Cine Set traz um resumo do que aconteceu neste ano para o cinema. Para facilitar a leitura, optei por fazer minha análise em tópicos, focando nos três pontos de discussão que considero mais importantes: produção local, salas de cinema e eventos.

Confira – e, claro, fique à vontade para comentar (e discordar).

1. Produção local

A criação cinematográfica no Amazonas, sem dúvida, atingiu um ápice em 2013 – o maior reflexo disso foram as Vernissages do cineclube Cinemartecultura, no Palácio Rio Negro, com dezenas de filmes locais (e não só de Manaus!). Embora isso seja um dado animador – afinal, quanto mais gente interessada em fazer cinema, melhor –, um outro aspecto chamou mais a atenção: o desprezo pelo conteúdo.

Com todas as dezenas de filmes das Vernissages, concursos de curtas e do Amazonas Film Festival, os trabalhos interessantes e/ou memoráveis do cinema local em 2013 se contam nos dedos.

Na área de longas, antes inexistente, pôde-se saudar a estreia em circuito nacional de A Floresta de Jonathas, notável e ousada meditação de Sérgio Andrade. A obra trouxe um apuro técnico e de conteúdo raríssimos para o cinema do Amazonas – além de ser bem sucedido, como filme, por seus próprios méritos.

Dos curtas, Anos de Luz, de Aldemar Matias, Jardim de Percevejos, de Francis Madson, Germes, de Rafael Lima, A Lista, de Rod Castro e Leonardo Mancini, e Watyama, de Everton Macedo, são os filmes que melhor representam o cinema amazonense em 2013 (O Necromante, de Ricardo Manjaro, Histeria, de Rummenigge Wilkens, e Memória dos Esquecidos, de Sâmia Litaiff, que não vi, também foram avaliados positivamente aqui no blog). Cinco filmes de dezenas, sendo apenas os três primeiros representantes reais de um avanço em relação ao ano passado, quando tivemos os ótimos Parente, A Última no Tambor, Rota da Ilusão e A Segunda Balada.

O Cine Set bateu bastante nesta tecla ao longo de 2013. Os filmes feitos no Amazonas chegaram a um patamar técnico capaz de rivalizar com o de qualquer outro centro audiovisual do país. Isso devido há anos de oficinas e formação de núcleos de produção. Porém, fotografia, montagem e trilha sonora não são tudo – na verdade, não são nem o principal.

Os filmes do Amazonas, até os bons exemplos citados acima, apresentam falhas gritantes na direção de atores e na criação de tramas consistentes. De nada vale saber enquadrar bem se não houver uma narrativa fluente ou as atuações soarem artificiais ou se a trama não empolga. Esse é, sem dúvida, o grande “gargalo” que impede o cinema local de se mais forte no contexto nacional.

O problema, inclusive, foi notado pelo próprio Aldemar Matias, um dos mais talentosos cineastas em atividade no estado, em uma entrevista recente ao Cine Set: nem de longe temos uma produção tão pujante a ponto de justificar 17 filmes no Amazonas Film Festival como aconteceu nesse ano.

Apesar de persistir, o eterno debate sobre a temática a ser produzida – filmes da Manaus urbana ou sobre a relação com a floresta – soa ultrapassado. Tudo isso distrai do fato principal: a busca pela elevação de um padrão artístico a tal ponto que não se possa mais aceitar regressões. Que venham mais filmes e cineastas: isso é ótimo! Agora, a facilidade para produzir e divulgar é só o começo, e nunca o fim, da atividade cinematográfica.

 

2. Salas de cinema

2013 também marcou a inauguração do shopping Ponta Negra, trazendo a rede de cinemas Cinépolis para Manaus. São  46 salas em toda a capital e pouquíssimos filmes fora do circuito mais óbvio dos blockbusters. Esse é um dado lamentável, se você é daqueles que esperam mais do cinema do que o novo Wolverine ou Se Beber, Não Case da vida.

O fato se complica pelo descompromisso das redes de cinema da capital e das distribuidoras em trazer obras mais alternativas, além a ausência de projetos voltados para o circuito de arte (como o Cine Sesc ou o Itaú Cultural), Para piorar, ainda contamos com um público também desinteressado neste tipo de filme.

Um marco do cinema amazonense, A Floresta de Jonathas, que chegou a ficar (corajosamente) por duas semanas em cartaz no Playarte, passou quase em branco pelos frequentadores. A obra de Sérgio Andrade é ousada e experimental, mas também acessível e merecia bem mais. O mesmo ocorreu com o pernambucano “O Som ao Redor” e “Antes da Meia-Noite”. Como querer que Azul é a Cor mais Quente, por exemplo, chegue em Manaus, se decisões desse tipo precisam levar em conta o retorno do público em ingressos?

Além das iniciativas pontuais da rede Cinemark de abrigar sessões de curtas locais, foi nas salas do Cinemais que Manaus teve um dos eventos cinematográficos mais importantes do ano: o Festival Varilux de Cinema Francês. Com uma programação de 14 filmes, o festival foi uma janela valiosa para a produção do país europeu em 2013, além de marcar uma raríssima (e muito bem-vinda) quebra na rotina da programação. Desta vez, por sinal, o público se mostrou bastante interessado, o que nos faz ansiar por mais iniciativas desse tipo.

Nos espaços alternativos, como o cineclube Cinemartecultura e o Cine Vídeo Tarumã, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), além dos persistentes (e valentes) Baré e Canoa, o problema do público é o mesmo – tirando as sessões da Vernissage, quando familiares e outros cineastas do Amazonas comparecem para prestigiar o trabalho dos colegas, as sessões ficam praticamente vazias.

Vale lembrar também a realização da 2ª edição do projeto Cinema Pela Verdade, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América Latina e as intervenções audiovisuais do Coletivo Difusão.

3. Eventos

O mais importante avanço do cinema amazonense aconteceu com a realização do Fórum do Audiovisual em Manaus. Com a participação de diretores, produtores e atores de curtas-metragens locais, o evento tratou sobre os rumos do setor no estado, sendo um campo de debate entre os artistas. Infelizmente, ainda não há previsão para a realização de mais reuniões do grupo após os dois encontros ocorridos no segundo semestre de 2013.

Como ações de fomento a novos realizadores estão o concurso de roteiros do Amazon Sat e a produção de curtas-metragens realizados por estudantes na Comunicação Social.

Por outro lado, o curso de graduação em audiovisual da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) corre o risco de ser extinto, segundo matéria do Portal D24AM. Como alegado recentemente pelo pró-reitor de Ensino de Graduação da universidade, Luciano Balbino, a instituição não tem previsão de começar uma nova turma até “ter fundamentos e convicções de que pode torná-la regular”.

A UEA e a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), que dividiram a implantação do curso e sua estrutura, jogam uma na outra a responsabilidade pela falta de uma direção segura. Até se especula que os equipamentos comprados para a graduação devem compor a estrutura de educação à distância da universidade.

A decisão somente será tomada com a chegada da primeira turma. Resta lamentar a confusão que lança uma incógnita sobre a ideia de uma formação profissional na área, tão festejada nos discursos proferidos durante anos no AFF.

Por fim, o caso mais estranho de 2013: o festival que não aconteceu. Reportagem realizada pela equipe do Cine Set aponta que o Munich Underground Film Festival não teria ocorrido. Segundo o suposto site oficial do evento, os curtas-metragens amazonenses Histeria, de Rummenigge Wilkens, e Memória dos Esquecidos, de Sâmia Litaiff, estavam selecionados para concorrer do MUFF.

Final

Tudo dito, o Cine Set espera ter ajudado no progresso do cinema no Amazonas neste ano.  O blog procura abrir espaço para a discussão da produção local e divulgá-las ao máximo. Independente de críticas positivas ou negativas quanto aos curtas-metragens produzidos no estado, desejamos sempre o melhor ao setor e aos realizadores, sem abrir mão da firmeza das nossas convicções.

Um feliz 2014 para o cinema no Amazonas!