Alemanha/Bélgica – O Último Amor de Mr. Morgan

Não há como não lembrar de  “Amor” nos primeiros minutos desta longa dirigido por Sandra Nettelbeck. Sujeito idoso perde a esposa após longo tempo doente e terá que lidar com o vazio deixado por ela. Tudo muda até a chegada de uma jovem e linda professora de dança.

Sem uma história das mais originais, o longa aposta no talento de Michael Caine como grande destaque. Ele consegue uma interpretação sensível de um personagem que se revela muito além de idoso carente atrás de uma menina bonita, interpretada com muito carisma por Clémence Poésy.

Apesar da quase onipresente trilha sonora de Hans Zimmer e as fracas participações de Jane Alexander e Gillian Anderson (de “Arquivo X”) como os aborrecidos filhos do protagonista, “O Último Amor de Mr. Morgan” emociona o público com uma boa história e um Michael Caine surpreendente após tantos filmes de ação.

NOTA: 7,0

França – Amor Não é um Crime Perfeito

Quando o grande destaque de um filme se torna a arquitetura dos cenários onde os personagens transitam não é um bom sinal. “Amor é um Crime Perfeito” passa longe de ser um desastre, mas, também fica distante de conseguir convencer o público.

O roteiro adaptado do romance Phillipe Djian se perde em uma vasta série de situações em que o protagonista acaba se envolvendo: há uma trama com uma aluna ninfeta, um possível relacionamento incestuoso, um romance verdadeiro, a relação com o chefe interessado na irmã e o suspense sobre o desaparecimento misterioso de uma jovem estudante. Haja subtramas para 110 minutos!

O excelente Mathieu Amalric consegue dar sustentação a um personagem complexo e cheio de nuances durante a trajetória, enquanto os cineastas Arnaud e Jean-Marie Larrieu contribuem para o clima de suspense e jogo erótico da obra. O grande destaque, entretanto, está na direção de fotografia responsável por explorar os ambientes da universidade com seus longos espaços de concreto (lembra os trabalhos de Niemayer) e o refúgio da casa do protagonista cercada pela neve criando cenários que realçam o estranhamento da mente do professor.

Se fosse mais conciso, “Amor é um Crime Perfeito” seria um grande suspense.

NOTA: 6,0

Holanda – A Montanha Matterhorn

Destaque na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2013, “A Montanha Matterhorn” faz duras críticas à repressão ao modo de viver das pessoas feita pela vigilância da Igreja Católica e a intolerância da instituição para com os homossexuais. Parece ser um drama pesado, mas, na verdade, trata-se de uma comédia inteligente.

Responsável pela direção e o roteiro, Diederik Ebbinge mostra se tratar de uma história muito pessoal ao dedicar o filme para o pai dele nos créditos finais. Tamanho envolvimento emocional se mostra em tela para o bem e para o mal.

A primeira parte de “A Montanha Mattehorn” se mostra um acerto perfeito por retratar a prisão do protagonista em luto pela morte da mulher. Dedicado a uma rotina imposta pela Igreja, Fred (o excelente Ton Kas) vive aprisionado pela tristeza por achar que aquele é um caminho certo por alguma suposta culpa que carrega. A chegada de Theo (René van \’t Hof) muda a vida do protagonista, alterando também a rotina de uma comunidade religiosa fanática intrusiva na vida particular de seus moradores, talvez para disfarçar os próprios conflitos internos mal resolvidos.

O problema é quando Ebbinge perde a mão e começa a exagerar nas situações, como a pichação de “Sodoma e Gomorra” na casa de Fred e o casamento na Igreja. A construção feita com delicadeza durante grande parte do filme perde espaço para provocações fáceis e maniqueístas.

Quando a situação parece perdida, “A Montanha Matterhorn” surpreende ao trazer um grand finale em uma canção capaz de emocionar o mais radical dos machões. A mensagem de tolerância e respeito à decisão de cada um fica como grande símbolo deste belo filme holandês.

NOTA: 7,5

Itália – Viva a Liberdade

Queridinho do público cinéfilo após o sucesso em “A Grande Beleza”, Toni Servillo retorna em dose dupla nesta comédia política. O ator interpreta gêmeos com caminhos distantes: o político de oposição e o escritor louco. No meio de uma crise, o mais bem-sucedido resolve sair da Itália para repensar os rumos seguidos, o que faz o assessor dele pedir a ajuda do irmão para que assuma o lugar.

Servillo aproveita para se divertir com os personagens ao criar figuras facilmente reconhecíveis no primeiro olhar: se o político apresenta um aspecto mais reflexivo e expressões tensas, o escritor está sempre com um sorriso e um olhar pensativo pronto para uma resposta mais rápida. Mesmo com a presença de bons coadjuvantes, de longe, o ator é o ponto alto da obra.

Com um material farto para o humor pelo tema mais do que propício, “Viva a Liberdade” diverte pela inteligência da situação ao brincar sobre como um louco pode estar mais conectado aos sentimentos de uma nação do que os verdadeiros representantes do povo. Os ótimos diálogos (“a vergonha vai paralisá-lo”, “a única aliança possível é com a consciência das pessoas”) são a cereja de uma boa comédia irônica.

NOTA: 7,0

México – Não Aceitamos Devoluções

Maior bilheteria da história do cinema mexicano, “Não Aceitamos Devoluções” traz as novelas do país para a telona. Galã canastrão, vilã impiedosa, criança doce e encantadora, piadas de banheiro e chororô dão a receita deste melodrama.

Eugenio Derbez dirige e protagoniza este filme que busca sempre o caminho mais fácil. Em todos os sentidos. Por ser uma obra voltada ao público latino, o personagem principal não aprende a falar inglês mesmo morando nos EUA e com uma filha pequena para sobreviver. Com isso, a todo momento, alguém fica traduzindo tudo para o espanhol. Situações como não tentar se regularizar no Tio Sam ou nunca ter ido localizar a mãe da criança ficam sem grandes explicações.

Se a primeira parte consegue ser algo tolerável, o trecho final desmorona ao investir em um drama absurdo de tribunal pela guarda da garota. A mudança no comportamento da mãe é tão radical e sem explicações que chega até a soar preconceituoso pelo fato dela ter um relacionamento homossexual. Por fim, há uma “surpresa” para arrancar lágrimas desesperadas do público a partir de uma reviravolta mal construída.

Candidato forte a pior filme do ano. Exceto se você for fã de “Maria do Bairro”, “A Usurpadora”…

NOTA: 4,0