Resultado de imagem para O Estudante filme
Argentina – O Estudante

Durante meus anos no curso de jornalismo na Universidade Federal do Amazonas presenciei o surgimento de líderes estudantis em profusão. Com o passar do tempo, a atuação desses jovens acabou migrando para partidos políticos com força dentro do meio acadêmico. O discurso apaixonado pela ética e luta contra a corrupção, infelizmente, não durou muito e essa turma, agora, defende os vícios que combatiam.

Estreia de Santiago Mitre na direção e roteiro, “O Estudante” mostra essa história a partir do estudante de economia Roque. Apaixonada por uma bela professora, ele acaba entrando na política a partir das eleições pelo Centro Acadêmico da Universidade de Buenos Aires e descobre o mundo de alianças contraditórias, “pernadas”, troca de cargos para conseguir obter apoio político.

A trajetória de Roque de um jovem perdido até encontrar o caminho na vida na atuação política traz traços interessantes ao se analisar como a discussão política acaba sendo tratada por seus agentes. Se o protagonista na arte inicial discute questões ideológicas e está envolvido no ambiente dos alunos como um representante legítimo, ele acaba se tornando apenas instrumento de discussões nos bastidores e lutando apenas para o seu grupo chegar ao poder.

Toda essa luta para conquistar uma eleição reflete no estado de espírito dos jovens com os rumos da política argentina. A descrença na capacidade de mudança e a recusa em aceitar discursos desgastados contra o imperialismo está exposta nas discussões em salas de aula e nas conversas entre familiares dos personagens que rodeiam “O Estudante”, simbolizadas pelas paredes sujas e desbotadas da universidade.

Com uma narração em off dispensável e uma parte final arrastada, o longa de Santiago Mitre pode não ser um primor, mas, serve para refletir sobre os caminhos tomadas pela política nos últimos anos na América Latina. Se o afastamento e a descrença da sociedade em relação a esse setor acontece não será pelos velhos vícios cometidos por grupos que pensam apenas no poder?

NOTA: 7,0

Resultado de imagem para As Férias do Pequeno Nicolau filme
França – As Férias do Pequeno Nicolau

“O Pequeno Nicolau” se mostrou uma das gratas surpresas do cinema infantil nos últimos anos. Adaptado da série de livros escrita por René Goscinny, o filme trouxe a leveza e inocência infantil para as telas sem ser tola. A continuação do sucesso tinha tudo para repetir a mesma receita e conquistar o público mais uma vez, porém, a ausência de uma história acabou com essa pretensão.

Filmado cinco anos após o primeiro filme, “As Férias do Pequeno Nicolau” traz um novo protagonista: o jovem Mathéo Boisselier interpreta o personagem-título em viagem com os pais e avó para uma simpática cidade francesa do litoral. Ele acaba conhecendo novos amigos e a estranha Isabelle (Erja Malatier). Enquanto isso, o pai dele se envolve em uma confusão com um velho conhecido e a mãe pode virar uma estrela de cinema

A história parece ser um prato cheio a ser explorado durante 97 minutos de projeção, o que acaba não se concretizando. Todos os novos amigos de Nicolau possuem apenas uma piada – comer porcarias e chorar o tempo todo – não tendo funções determinantes na trama. Já  Isabelle até rende boas piadas iniciais com os olhões à la “O Iluminado” e o romance com o protagonista, porém, tudo se resolve de maneira pouco inspirada.O personagem do inspetor abandonado em Paris soa deslocado e sem necessidade de existir. Essa falta de criatividade leva a piadas escatológicas desnecessárias.

O filme, entretanto, não se torna um completo desastre pelas atuações divertidas dos pais de Nicolau, os atores Valérie Lemercier e Kad Merad. Ver a mãe do protagonista dançando como Marilyn Monroe e o pai criando métodos para a sogra não roncar deixam a clara impressão de dois sujeitos aproveitando o tempo para se divertir em cena. Destaque também pela aposta da direção de arte em cenários de cores fortes e os figurinos sempre bem ajustados.

NOTA: 6,0

Resultado de imagem para cortinas fechadas filme
Irã – Cortinas Fechadas

A desobediência e a criatividade são duas características do ser humano, sendo a coragem e a sabedoria para exercê-las um verdadeiro dom. O cineasta Jafar Panahi faz isso de maneira brilhante ao driblar a restrição absurda imposta pelo governo do Irã de ficar 20 anos sem poder fazer novos filmes ao trazer o excelente “Cortinas Fechadas”.

Para conseguir externar esse sentimento, o diretor decide elaborar uma história ficcional em que um escritor (Kambuzia Partovi) está em prisão domiciliar e passa seus dias acompanhado do cachorro de estimação fazendo um roteiro. A situação muda quando dois irmãos chegam até a casa dele para se refugiar de uma perseguição policial e a garota (Maryam Moqadam) fica no local convivendo com esse roteirista. A parte ficcional de “Cortinas Fechadas” termina após um momento de reviravolta e acompanhamos a vida de Panahi. Tudo isso feito dentro da casa onde o cineasta vive aprisionado.

Em “Cortinas Fechadas”, o diretor está longe de esbanjar o bom humor da obra anterior, o documentário “Isto Não é Filme”. Se na obra de 2011 havia um certo ar de provocação irônica, o retrato atual traz Panahi mais tenso e angustiado pela falta de liberdade. A imersão feita ora pelo personagem do escritor ora pelo próprio cineasta expõe ao público o cansaço de um sujeito prestes a desabar, capaz de encontrar no cinema a única forma de ter forças para externar o que sente e encontrar sentido para viver.

Grande e importante filme do cinema atual.

NOTA: 8,0

Resultado de imagem para O Melhor Lance filme
Itália – O Melhor Lance

Dentro da lógica de um filme de suspense, segredos são para ser revelados na hora exata, certo?

Conhecido pelo já clássico “Cinema Paradiso”, Giuseppe Tornatore parece não acreditar muito nisso. Pelo menos, é o que acontece no novo filme da carreira do cineasta. Em “O Melhor Lance”, as principais reviravoltas são tão alertadas durante toda trama que não causam impacto algum quando reveladas.

O filme acompanha a história do solitário proprietário de uma empresa de leilões (Geoffrey Rush). Prestes a se aposentar, ele decide ajudar a desesperada filha de um conhecido a fazer o inventário de objetos antigos da casa onde mora e vendê-los. O principal empecilho, porém, está no fato da jovem sofrer de agorafobia, ou seja, ela não consegue sair de casa e evita lugares públicos. Ambos acabam se aproximando e iniciam um relacionamento amoroso, mas, uma novidade aguarda o casal.

Tornatore consegue prender o público pela condução segura do filme, longe de se tornar aquele emaranhado de segredos incompreensíveis que filmes de suspense ruins costumam ser. A calma para desenvolver momentos de tensão ao optar pelo silêncio e uma movimentação precisa da câmera se torna outra característica positiva do trabalho do cineasta em “O Melhor Lance”. O verdadeiro achado, entretanto, está em Geoffrey Rush, ator capaz de criar um personagem com diversas nuances (seguro no trabalho e frágil na vida pessoal) de maneira uniforme.

O roteiro, porém, acaba com as pretensões do filme ao dar dicas sobre o que o espectador estará prestes a ver. A insistência em repetir o discurso sobre falsificações ressoa como um alarme para avisar quanto à reviravolta do terceiro ato. A perda do impacto sobre a revelação somente não é total pela construção feita por Rush. Para piorar, o ótimo Jim Sturgess acaba relegado ao papel de conselheiro amoroso do protagonista e nada mais que isso.

Com uma direção de arte muito boa (até porque com a quantidade de quadros bonitos não poderia ser diferente) e uma trilha sonora elegante composta por músicas clássicas, “O Melhor Lance” acaba sendo salvo do didatismo do roteiro de Tornatore pelo sempre excelente Geoffrey Rush.

NOTA: 7,0