mommyCanadá – Mommy

Não dá para negar a capacidade de Xavier Dolan em prender o público. Desde a escolha do formato de tela quadrado vertical (1:1) passando pela lei absurda criada pelo mundo fictício de que os pais podem ceder a guarda do filho caso não se sinta capacitado a criá-lo até a ambientação com muitos gritos e uma casa fechada de cores densas, o cineasta imerge o espectador no perturbador mundo de “Mommy”. A câmera colocada sempre próxima aos personagens e o constante tom acima destes beirando a loucura criam um clima assustador e tenso em que não se sabe exatamente o que esperar da atitude seguinte daquelas pessoas.

Para isso, a entrega feita pelos atores é crucial para “Mommy” alcançar esse impacto. A ferocidade do jovem Antoine-Olivier Pilon aliada a fragilidade de Suzanne Clément formam uma dupla essencial para o crescimento do verdadeiro grande trabalho do filme: Anne Dorval brilha em cada minuto desde quando surge no estilo de mãe modernosa desleixada. A cena pós-jantar em que todos dançam ao som de “On ne change pas” sintetiza bem a força do trio em exprimir as conexões entre pessoas tão abaladas emocionalmente.

“Mommy”, entretanto, perde força na necessidade constante de Dolan impor um estilo intrusivo a cada segundo. Se a histeria inicial surge como ponto positivo para nos inserir naquele ambiente doentio, apostar nisso o tempo todo leva a um ponto de exaustão, sendo cansativo para o espectador com o passar do tempo. A trilha sonora irrita, em especial, pela obviedade das canções escolhidas como, por exemplo, usar a batida “Wonderwall” do Oasis. Por fim, a alteração no formato da tela e o modo nada sutil de fazê-lo é como se Dolan gritasse: “olha como estou dirigindo tudo isso, sou inovador e descubra agora o motivo de você ter visto em 1:1 anteriormente”.

Candidato do Canadá ao Oscar 2015, “Mommy” se perde nos excessos de Dolan. E nem mesmo o trio de atores excelentes consegue salvar.

NOTA: 6,5

la-jalousie-o-ciucc81me-2013-de-philippe-garrelFrança – O Ciúme

O choro da personagem Clothilde logo no início de “O Ciúme” é, de longe, o momento mais interessante do filme. Mesmo sendo bem curta e não havendo um contexto para aquele cenário, a cena traz uma atuação sensível da atriz Rebecca Convenant ao conseguir transmitir no olhar perdido e em uma lamentação contida a dor difícil de ser compreendida e complicada de ser curada.

Uma pena que dali em diante o diretor Phillipe Garrel não consiga imprimir a mesma sensibilidade. Verdade que “O Ciúme” está longe de ser um desastre, traz questões interessantes sobre como o amor pode ser volúvel e os relacionamentos modernos estão fadados à inconstância. Apesar do charme da estrela do cinema francês Louis Garrel, quem realmente se destaca é a atriz Anna Mouglalis ao fazer uma personagem longe da mocinha apaixonada e que subverte valores do romantismo.

Com uma bela fotografia em preto e branco, “O Ciúme” pode até ser um exercício de estilo interessante de Phillipe Garrel, porém, não comove ou emociona, soando tudo insosso. E isso ao falar de amor é mortal.

NOTA:6,0

nos-somos1_1Suécia – Nós Somos as Melhores!

Filmes ou programas de adolescentes costumam ser artificiais. Basta colocar um porra-louca, um mais consciente, um engraçado dizendo meia dúzia de gírias e situações sem nexo para se ter um projeto para essa faixa etária. Quase sempre sai uma bomba lucrativa (“Muita Calma Nessa Hora” , por exemplo) e tudo bem.

Por essas e muitas outras, assistir bons filmes projetos sobre adolescente deixa uma sensação tão satisfatória. “Nós Somos as Melhores” foge disso logo com o trio de protagonista: garotas fanáticas por punk na Suécia, preocupadas com questões mundiais, dispostas a quebrar tabus e desafiar os homens. Mesmo com todo esse viés rebelde, o roteiro baseado na comic book de Coco Moodysson não esquece de tratar de meninas com ciúmes, paixonites e com vontade de se divertir.

O trio de protagonistas interpretado pelas jovens atrizes Mira Barkhammar (excelente como a protagonista Bobo), Liv LeMoyne e Mira Grosin (divertida como a mais louca da turma) cria uma empatia tão grande com o público, o qual se torna um torcedor para que elas consigam virar o mundo de ponta a cabeça com o estilo desbocado e bem-humorado. A câmera sempre em constante movimento de Lukas Moodysson respeita esse jeito de ser das garotas, fazendo com que sintamos ser parte daquela turma também.

“Nós Somos as Melhores” fecha um ano muito bacana para o cinema da Suécia ao reunir com o excelente “Força Maior” e ótimo “Mil Vezes Boa Noite”.

NOTA:8,0