Timbuktu

Mauritânia

“Timbuktu”, de Abderrahmane Sissako

Crenças à parte, “Timbuktu” é um retrato tocante de como uma comunidade é afetada pelo extremismo. Ambientado, bem, em Timbuktu, o filme foi finalista do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro neste ano, quando perdeu para o belo “Ida”, da Polônia.

O filme conta a história de um grupo que, basicamente, tenta driblar o medo. Uma família que convive com a nova ordem do local, formada por um grupo de radicais islâmicos. A dinâmica desses personagens garante uma empatia quase que instantânea. No entanto, é a direção segura de Sissako que brilha.

“Timbuktu” tem nas crianças/adolescentes os momentos mais belos. Ajudados por uma linda fotografia, os mais novos representam a esperança de um futuro mais colorido, como as roupas que trajam na sequência mais bonita da produção – a do futebol. Aquelas imagens são a síntese dessa obra de Sissako. Triste, porém esperançosa.

Nota: 8,5

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Noruega
“Blind”, de Eskil Vogt

O filme de estreia de Eskil Vogt (que, como roteirista, foi colaborador de Joachim Trier) é uma ode à solidão. A cegueira que deixa a protagonista vivida por Ellen Dorrit Petersen “presa” ao seu apartamento acaba virando uma grande porta de entrada para a imaginação da personagem.

Aliado a uma montagem que prega peças no espectador, o roteiro de “Blind” tem seus melhores momentos na narração de Ingrid (Dorrit Petersen). Roteirista talentoso, Vogt também brilha na cadeira de diretor, ao nos jogar dentro da cabeça da protagonista.

Apostando em fade-outs agoniantes em vez da câmera-subjetiva-com-imagem-embaçada, o diretor nos faz sentir cada momento do drama da personagem, E isso vai da pequena derrota que é não acertar o café no copo aos momentos em que ela cria uma realidade paralela tão convincente que nos perguntamos se aqueles que dividem a história com ela realmente existem. De novo, ponto para a montagem.

Minimalista, “Blind” não é apenas sobre solidão. É um filme solitário e pungente a ponto fazer com que, do sofá da sala, queiramos enfrentar nossos maiores medos, repressões e angústias.

Nota: 8,0

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Uruguai
“Sr. Kaplan”, de Alvaro Brechner

Nos primeiros segundos deste filme uruguaio, somos apresentados a um protagonista claramente definido pela idade e pelo que já viveu. Aos 76 anos, Jacobo – o “Sr. Kaplan” do título – busca mostrar que ainda pode ser relevante. O resultado disso tudo poderia ser mais um filme que analisa a terceira idade de forma preconceituosa e distante. No entanto, o que temos aqui é uma obra divertida e sensível sobre essa fase da vida.

Carismático e bem construído, o personagem principal (papel de Hector Noguera) cresce ainda mais na presença do seu companheiro de estrada (literalmente), vivido por Nestor Guzzini. A química entre os dois é inegável, e rende alguns dos melhores momentos desta produção. A “missão” inesperada de Jacobo também reserva sequências memoráveis – talvez as melhores “zoeiras” com o Nazismo desde “Bastardos Inglórios”, do Tarantino.

Pena que, ao entrar no ato final, “Sr. Kaplan” perde o ritmo que nos fisga logo de cara. O filme até ganha novo fôlego nas últimas-últimas-últimas cenas e termina de forma tocante, mas, para falar a verdade, parece tudo apressado para finalizar a obra.

Nota: 6,5