4 anos depois…

Em meio a saltos, acrobacias, desordens mirabolantes, algumas piruetas e cenas nem tão pitorescas assim, o filme se revela indiscutivelmente previsível e sem nada de novo. Para a (in) felicidade dos fãs, a história ficou centrada em Jack Sparrow.  O lendário herói dos Sete Mares parece não ter conseguido resgatar, com a mesma força, o personagem que imortalizou. Eu não queria admitir, mas parece inevitável deixar de reconhecer que o nosso queridíssimo Depp já deu o que tinha de dar. De fato, seu charme continua a arrancar suspiros, mas aquela sensação de que ele sempre vai estar pronto para tirar um formidável coelho da cartola, quando o mundo estiver na iminência de se acabar, deixou de existir. Sua falta de fôlego e inspiração é evidente, mesmo subindo pelas paredes, ziguezagueando em carroças e saltando de coqueiros e cachoeiras.

Ao descobrir que alguém utiliza seu nome com o objetivo de persuadir marujos a embarcar numa viagem rumo à ambicionada Fonte da Juventude, o capitão Sparrow reencontra Angélica (Penélope Cruz), uma ex-jovem-puritana, que ‘corrompeu’ em um antigo caso do passado. Angélica, responsável pela farsa, obriga Jack a entrar a bordo do Queen Anne’s Revenge, o navio de seu pai – que por sinal, é um dos maiores inimigos de Jack: o Barba Negra (Ian McShane). E a cansativa busca se inicia. Acontece, que eles não são os únicos procurando pela tal Fonte. Há, também, espanhóis e ingleses, sob o comando do Capitão Barbossa (Geoffrey Rush), na caça pelos mágicos poderes da imortalidade.

Como sempre existe um lado bom em qualquer história, pode-se dizer que as paisagens muito bem selecionadas e os trabalhadíssimos efeitos especiais dão um verdadeiro Up na cenografia. Neste quesito, o que mais me chamou a atenção foram as cenas envolvendo as surpreendentes Sereias, onde os piratas tentam capturar uma lágrima delas para fazer o tão esperado ritual da juventude.  Logicamente, a melhor sequência do filme. Apesar de clichê, o romance entre o aspirante a religioso, Philip (Sam Claflin), e a sereia Syrena (Astrid Berges-Frisbey) teve muito mais química do que o questionável namorico entre Jack e Angélica.

Preocupada em tirar o maior proveito possível da sua franquia de enorme sucesso, a Disney pecou em sua ambição. Ela tentou se reinventar, com personagens de peso na história do cinema, mas o resultado, realmente, não foi surpreendente. A escolha do novo diretor, também, não foi das mais felizes. Além de criar uma nova história, o diretor Rob Marshall modificou a essência dos personagens. O pirata bêbado-pateta-esquizofrênico que eu conheci, simplesmente virou um filósofo, que exaltou a importância de ser imortal na lembrança das pessoas, ao recusar a oportunidade de entrar para eternidade. Dá para acreditar? Seria uma boa sacada, ou um contraste até interessante, se o diretor não tivesse ofuscado aquele personagem que tanto encantou o público. A verdade é que cada diretor carrega seu próprio estilo, mas as comparações são inevitáveis, ainda mais quando 137min de filme parecem infindáveis.

Curiosidades à parte, o roteiro de Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas tem sua trama baseada no livro On Stranger Tides, de Tim Powers – e foi adaptado pelos autores do primeiro filme, Terry Rossio e Ted Elliot. Apesar de eu não ter gostado do longa, acredito que cada um deve assistir e tirar suas próprias conclusões. Talvez eu tenha criado grandes expectativas e esquecido que o tempo passou, ou, simplesmente, que meus gostos sofreram algumas significativas mudanças. Enfim, para me despedir, deixo uma dica: não se esqueça de atentar para as cenas extras, depois dos créditos. Pelo visto, a saga está muito longe de acabar.

Nota: 6,5