A Bela e a Fera é um conto um tanto desafiador para a sétima arte, prova disso é que o Walt Disney tentou adaptar o conto duas vezes, em 1930 e 1950, como animação, mas encontrava dificuldade na construção do roteiro. O que de certa forma foi ótimo, já que o público da década de 90 pode receber e imergir neste clássico da Disney, que mesmo depois de 25 anos, ainda é trilha sonora de muitos aniversários de 15 anos, além de gerar paixão, saudosismo e encantamento tanto em crianças quanto adultos. Mas afinal, por que A Bela e a Fera nos encanta tanto, mesmo depois de tanto tempo?

O Cine Set preparou cinco motivos por que a história do príncipe transformado em monstro que precisa ser salvo pela moça sonhadora da vila, tornou-se um clássico, resistiu ao teste do tempo e trouxe às gerações vindas depois dele dois elementos que alimentam a infância e transformaram a Disney em uma fábrica de sonhos: a animação e o musical.

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  1. Bela tem traços feministas

Bela é uma heroína diferenciada. Antes de elencar algumas de suas características, é importante lembrar que ela não tem descendência real. Seu título da realeza, princesa, só é ganho após o enlace com a Fera. Igualando-se a heroína, isso só ocorreu com Cinderela e Tiana, de A Princesa e O Sapo.

Portanto, antes de ser uma princesa, Bela é uma moça que não consegue se enquadrar aos padrões da sociedade que a cerca, a vila onde mora. O design de produção deixa isso evidente no filme, quando a põe como a única pessoa a vestir azul nas sequências musicais que envolvem a vila e em outras sequências em que há o contato com personagens não influenciados pela magia. Bela é intelectual, a única pessoa na vila que se interessa pela “livraria da cidade”, o que é interessante, considerando que o longa-metragem se passa na França durante a Idade Média, poucas pessoas saberiam ler, menos ainda mulheres. Quem nunca sonhou em ter uma biblioteca como a que ela ganha de presente?

A heroína é independente, não quer casar com o cara mais bonito da vila, nem tampouco sonha em encontrar o homem dos seus sonhos, ela só quer ter as suas próprias escolhas, e é isso que a personagem demonstra durante toda a trama: escolhe substituir o pai como refém no castelo, decide ir à ala Oeste, decide o momento de ir embora, decide voltar para Fera. Bela é forte e determinada, quem mais teria coragem de cuidar dos ferimentos de Fera, mesmo com os insultos e o cabelo voando para trás? Bela o enfrenta de igual e expõe seus argumentos sem medo de represália.

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  1. Os personagens masculinos são explorados mais amplamente

A Bela e a Fera foi a trigésima animação da Disney. Mas a primeira a inverter o papel de quem salva quem e a apresentar um vilão diferente do habitual para contos de fadas. Se lembrarmos até A Pequena Sereia (1989), todos antagonistas das princesas foram mulheres, seja Úrsula, a madrasta de Branca de Neve e Cinderela e até mesmo Malévola em A Bela Adormecida, todos os contos realizavam o embate de mulheres vs mulheres. A Bela e a Fera vai na contramão e muda esse conceito.

Gaston tem todas as características de um príncipe: atlético, bonito, líder, trabalhador, o mais bem sucedido dos homens na vila, o mais desejado pelo sexo oposto, também. Mas interiormente é um monstro: egoísta, machista, manipulador, o verdadeiro vilão da história – o antagonista da história, superando os outros contos da Disney.

A Fera, também, foge ao convencional, além de não ser um príncipe como as praxes indicavam até então, aprende que precisa libertar o seu amor idealizado para que seus sentimentos sejam conectados e o amor possa acontecer. Ele aprende aquela máxima básica de hoje “se ama, deixe ir”. Embora seja um personagem bruto, feio, ele mostra que possui um lado sensível, generoso, amigável. Fera acaba por ser um personagem multifacetado e bem construído, diferentemente do padrão principesco.

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  1. O romance é construído em tela

Se há algo de belo e que se une a lista de pouco convencional do clássico, é a construção do romance entre Bela e Fera. Diferentemente, do romance unilateral dos outros contos, como A Pequena Sereia (1989), ou veloz e imediato, A Bela Adormecida (1959), é algo que o expectador pode acompanhar, enquanto torce a favor ou torce o nariz contra.

É certo que o feitiço determinava que alguém tinha que se apaixonar por quem era Fera interiormente para poder a maldição quebrar-se, mas é por meio deste argumento que a Disney consegue demonstrar como um relacionamento acontece na vida prática. Como que o encontro entre dois estranhos pode resultar em amizade, paixão e romance. Acompanha-se esse passo a passo na animação. E quão lindo e encantador se torna a sequência em que Bela canta “Alguma Coisa Aconteceu”, ali tem-se a certeza de que o romance foi construído, de que ela se apaixonou por Fera, os passarinhos ao redor e a primeira vez que ela abre o sorriso, concretizam visualmente o que seu interior está preenchido.

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  1. Confirmou a ideia de musical a Disney

A música sempre foi um elemento poderoso nas produções de Walt Disney, entretanto, foi com a produção de A Bela e a Fera que o estúdio concretizou a sua força e o seu posicionamento em utilizá-la.

Muito da concepção do filme se deve a Alan Menken e Howard Ashman que compuseram todas as canções originais presentes na obra e que acrescentam um elemento a mais a cinematografia do filme e ao encantamento que deriva dele. Infelizmente, Ashman faleceu poucos meses depois do lançamento do filme.

Em números, há apenas 5 minutos em cena que não possui trilha sonora, sendo que 25 minutos do filme todo é dedicado a sequenciais musicais. Você consegue imaginar a cena de abertura sem Belle?  Ou a valsa sem Tale as Old as Time (Beauty and the Beast)?

  1. Premiações

A Bela e a Fera foi a primeira obra da Disney a coloca-la na disputa do considerado maior prêmio de Cinema mundial. O filme tornou-se a primeira animação a ser indicada para o Oscar de Melhor Filme, além de ser a primeira, a ganhar o Globo de Ouro de Melhor Filme – Comédia ou Musical.

A produção também fez bonito no Oscar, levando duas estatuetas de Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original por Beauty and the Beast, mas não recebeu o prêmio máximo da noite (Melhor Filme), que ficou com “O Silêncio dos Inocentes”.

A Bela e a Fera é uma história de princesa que traz temas que são atualíssimos e para sua época eram tabus ou pouco discutidos. Toda magia e encantamento que vinham da obra e conseguem se projetar ainda na nossa sociedade derivam de sua partida na contramão de tudo que havia sido projetado antes dele, sua quebra de ideologias convencionais e a desconstrução de como os personagens deveriam agir. Basta um olhar sobre o filmes que torna-se válido lembrar que numa estação, como a primavera, sentimentos são como uma canção para a bela e a fera.