Séries e filmes voltados para o público adolescente tem nos mostrado há anos que a combinação entre ter (muito) dinheiro e ser popular é infalível. Filmes como As Patricinhas de Beverly Hills (1995)  e Garotas Malvadas (2004) e séries como Barrados no Baile (1990-2000) e Gossip Girl (2007-2012), apontam que os personagens populares da escola ou faculdade vem de famílias ricas enquanto os não tão populares geralmente não tem as mesmas condições financeiras. Esses últimos, deixados de lado, sempre tentam se encaixar no grupo dos riquinhos populares passando, muitas vezes, por situações constrangedoras.

Em Normal People, vi essa fórmula meio que se repetir logo no início. Cheguei a pensar que era mais uma história de romance adolescente que se passa na escola secundária (a famosa high school), onde a classe social estabelece quem é o mais popular e com quem tal personagem deve se relacionar. Me enganei imensamente (ainda bem!) – no desenrolar de seus 12 episódios, a série se transforma em algo muito mais profundo, sensível e realista. De uma maneira rica e abrangente, Normal People mostra como a experiência do primeiro amor se instala na alma dos dois personagens principais e os muda para sempre. 

INTIMISMO ELEGANTE

A co-produção da BBC/Hulu, baseada no livro homônimo de Sally Rooney, examina questões que vão além dos clichês de histórias passadas em high schools. O fato de que Normal People se passa na Irlanda e tem como foco jovens irlandeses também é significante, pois se diferencia do contexto habitual norte-americano. O líder do U2, Bono Vox, uma vez disse que “nos Estados Unidos, você vê a pessoa que mora em uma mansão e pensa ‘um dia eu vou morar em lugar desses, se eu trabalhar duro’. Na Irlanda, as pessoas olham para o cara na mansão no topo da montanha e falam ‘vou pegar aquele canalha’”.

A ‘canalha’ em questão, pelo menos nos primeiros quatro ou cinco episódios, é Marianne Sheridan (Daisy Edgar-Jones), cuja família não só possui múltiplas propriedades na Irlanda mas também no exterior. Durante sua época na escola, Marianne, uma jovem inteligente e com a língua afiada, sofre bullying diariamente por parte de seus colegas, especialmente por garotos menos afortunados do que ela que a chamam de feia e metida. Dentro desse grupo de garotos está Connell Waldren (Paul Mescal, em uma grande atuação que lhe rendeu indicações ao Emmy e ao Globo de Ouro), um simpático jogador de futebol querido por todos, mas que não insulta Marianne – e tampouco a defende. Connell e Marianne estão ligados pelo fato da mãe dele trabalhar como governanta na casa de Marianne e assim, se encontram às vezes depois da escola. Essas interações entre os dois os levam a se tornarem amantes, um relacionamento mantido em segredo pelo receio que Connell tem de ser alvo das piadas dos amigos.

Nos três episódios iniciais, Normal People define o precedente do que vai ser uma das marcas registradas da série: cenas de sexo que são explícitas, ternas e extraordinariamente íntimas. O segundo episódio em particular poderia certamente ser descrito como uma sucessão de cenas de amor interrompidas somente por umas rápidas trocas de diálogos. Lenny Abrahamson, diretor indicado ao Oscar por O Quarto de Jack (2015), que dirigiu os seis primeiros episódios e a veterana da televisão inglesa Hettie MacDonald, que comandou os últimos seis, alternam entre tomadas de corpos nus se interconectando e close-ups dos rostos dos personagens quando se perdem repetidamente nesses momentos “calientes”. Apesar disso tudo, o sexo nunca é gratuito. Ele é vital porque demonstra o instinto que Marianne e Connell tem para amar e honrar um ao outro, mesmo quando outros aspectos das suas vidas sempre fazem difícil demonstrar esses mesmos sentimentos publicamente e de forma consistente.

AS MARCAS PERMANENTES DO AMOR NA JUVENTUDE

Normal People mostra Marianne e Connell desde a escola secundária na pequena cidade de Sligo até os anos que passam na Universidade de Trinity em Dublin, onde a dinâmica entre os dois muda bastante. Na universidade, a inteligência e o humor seco e direto de Marianne se tornam vantagens dentro do seu círculo de amigos, enquanto as inseguranças de Connell fazem com que ele tenha dificuldades em fazer novos amizades.

Com mudanças no figurino, cabelo e maquiagem, Edgar-Jones e Mescal fazem uma perfeita transição de adolescentes para adultos. A química entre os dois atores está sempre presente e nunca diminui durante todos os 12 episódios, o que nos faz torcer por eles independente da situação que se encontram. Na medida que “Normal People” avança, problemas de ordem psicológica e que afetam ambos os protagonistas são revelados. Esses problemas causam danos substanciais no relacionamento entre Marianne e Connell, que tentam seguir com suas vidas. Dentro dessa trajetória, Edgar-Jones e Mescal mergulham nas raízes do trauma e ambos o fazem de uma maneira muito sensível e real, sem que a história se torne ultra-dramática.

Além de nos mostrar uma história de amor que nos envolve facilmente, Normal People também lida com classes sociais, privilégios, as feridas causadas pelo abuso e, o mais importante, como o que parece relações fúteis entre adolescentes pode, na verdade, formar o senso de identidade de uma pessoa na vida adulta. Há uma tendência em considerar relacionamentos de high school como temporários, sem significado e que se desfazem uma vez que crescemos e encaramos o mundo como adultos. Ao mesmo tempo em que o roteiro de Sally Rooney reconhece que as pessoas evoluem com o passar do tempo, também mostra uma coisa que somente as melhores estórias sobre amadurecimento (coming of age) fazem: tratam jovens adultos com respeito e os seus respectivos relacionamentos (especialmente o primeiro amor) de uma maneira séria e que deixa marcas permanentes.

A trilha sonora complementa a narrativa de forma sublime e é um dos pontos fortes de Normal People. Nos envolvemos com as melodias suaves, bonitas e melancólicas. Nos conectamos com os personagens. Torcemos por eles, choramos com eles, sentimos raiva e ficamos felizes junto com eles. É difícil parar de assistir depois do primeiro episódio.

Me surpreendi muito com essa série e pela forma direta e realista com que mostra o relacionamento entre Marianne e Connell, as consequências das suas escolhas, os problemas pessoais e individuais que enfrentam e como tentam resolvê-los. Crescem juntos, amadurecem juntos. Duas pessoas que estão conectadas para sempre por dividirem uma história que não pode ser vivida com mais ninguém.

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