Os fãs de Raul Seixas finalmente ganharam um retrato cinematográfico à altura do ídolo; os não-fãs com algum interesse pelo cantor podem finalmente conhecer a trajetória fascinante do artista; e os não-fãs avessos ao roqueiro – mas capazes de manter uma atitude de respeito e curiosidade pelo personagem – têm ao menos a persona ousada e hilariante do homem nascido Raul dos Santos Seixas, em Salvador (BA), 1945.

Uma longa e amorosa homenagem a Raul Seixas: isto é Raul: O Início, o Fim e o Meio, documentário de Walter Carvalho (Cazuza – O Tempo Não Pára) que chega a Manaus com meses de atraso, como vários outros filmes importantes de 2012.

Trazendo depoimentos de parentes, amigos e parceiros musicais de Raul, o filme tenta abarcar as diversas metamorfoses do protagonista – cantor, compositor, filósofo, roqueiro, metafísico, loucão, hippie, solitário, homme à femmes, marido carinhoso, pai coruja – durante suas duas horas de projeção. Tarefa difícil, mas o resultado é tão bom que cativa mesmo quem não tem o Maluco Beleza no rol das admirações.

Assim como em outras produções cuja base são as entrevistas, o sucesso de Raul… depende do material que a equipe conseguiu obter de suas fontes. Nesse sentido, o filme é didático na medida certa, esmiuçando o papel do artista Raul na música brasileira, por autoridades como o jornalista Nelson Motta, o produtor André Midani e o crítico Tárik de Souza.

Mas também sabe deixar de lado a lição de história e ir fundo no homem Raul – as complicadas relações com as mulheres (muitas); o doloroso afastamento da filha Simone; os altos e baixos das parcerias com Paulo Coelho, Cláudio Roberto e Marcelo Nova; e, no segmento mais bizarro do filme, suas incursões pelo ocultismo, também ao lado do comparsa Coelho. Este, aliás, responde pelos melhores depoimentos do filme – com poucas frases, ele consegue esclarecer muito da personalidade do antigo parceiro.

A montagem, a cargo de Pablo Ribeiro, é elaborada e envolvente – um trabalho bastante maduro para um documentário musical, gênero pouco explorado no cinema brasileiro.

Nem todo o material saiu a contento – Zé Ramalho, que certamente teria boas histórias sobre Raul, praticamente “passa” pela tela, e, se você piscou, perdeu.

Mas contrapõe de forma tocante os extremos do cantor: a irreverência explosiva, o carisma intenso, o talento musical transbordante… e a decadência de um Raul Seixas crepuscular, debilitado pelo abuso do álcool e precocemente envelhecido.

Por nos dar um retrato amplo, honesto e, sobretudo, emocionante do homem, Raul – O Início, o Fim e o Meio é um dos melhores filmes nacionais de 2012.

NOTA: 8,5