Em seu primeiro trabalho na direção, Marcelo Saback, roteirista de sucessos do cinema brasileiro como “De Pernas pro Ar” e “Loucas pra Casar“, resolveu se aventurar na missão de conduzir o remake da comédia argentina “Dois + Dois” (2012). A adaptação homônima tem previsão de estreia para o dia 12 de agosto em todas as salas de cinema do Brasil. 

Com humor e leveza, o roteiro adaptado de Saback revela o misterioso universo de quem pratica “swing”, a popular troca de casais. No filme, Diogo (Marcelo Serrado) e Emília (Carol Castro) estão juntos há 16 anos, têm uma filha adolescente e, apesar da estabilidade, vivem entediados com a rotina familiar. O casamento morno de Diogo e Emília é virado de cabeça para baixo quando descobrem que os melhores amigos, Ricardo (Marcelo Laham) e Bettina (Roberta Rodrigues), têm um relacionamento aberto. Mais do que isso: são adeptos da troca de casais, vivem super-seguros com a escolha e tentam convencê-los de que é possível ser feliz com o estilo de vida “mais liberal”. 

A partir daí, uma série de acontecimentos abala a monótona vida do casal que topa aderir à prática com os amigos. Desejo, ciúme, posse, competição e outros sentimentos mudam o destino desses casais, que vão precisar lidar com muitas transformações em suas vidas. 

O Cine Set teve a oportunidade de conferir o filme na cabine para a imprensa e ainda participar de coletiva com o diretor e o elenco principal da comédia. Na ocasião, o time de “Dois + Dois” contou um pouco sobre o processo de produção e acerca da temática que o longa aborda.

Diferenças com a versão hermana

Para Saback, a oportunidade de dirigir seu primeiro filme veio em hora certa. Segundo ele, a saída de Roberto Santucci (trilogia “Até que a Sorte nos Separe“) da direção do projeto aconteceu ao mesmo tempo em que não renovou contrato como roteirista na televisão. 

“Sempre tive esse desejo. Convites já tinham surgido, mas o trabalho como roteirista, principalmente na TV, não deixava tempo de pôr esse sonho em prática. Quando veio o convite da Paris Filmes para que eu assumisse a direção pensei: ‘Ih! Agora dá! Acabaram-se as desculpas (risos). E aceitei o desafio”, contou Saback. 

Questionado pelo Cine Set sobre qual o maior desafio de adaptar uma produção argentina para o público brasileiro, Saback confessa que as cenas de nudez foram as mais difíceis de trazer para o remake brasileiro. 

“Adaptar para realidade brasileira, para o nosso humor, foi a maior dificuldade. O filme argentino é muito mais erótico que o nosso. Tem cena de nudez. E nós temos problema com isso. Fizemos muitas pesquisas sobre como a nudez no filme brasileiro se joga para um universo complicado de preconceitos e eu quis tomar muito cuidado para que fôssemos delicados com a questão da sexualidade. Eu quis aprofundar mais a história de amor. E acho que conseguimos fazer isso com a versão brasileira de ‘Dois + Dois'”, descreveu o diretor e roteirista do filme.

Sexualidade feminina como protagonista

Aos mesmos moldes de seus recentes filmes, Saback destaca que o remake brasileiro se distancia do original argentino principalmente por trazer a mulher como protagonista da história. 

“Eu tenho paixão pelas mulheres. Gosto do universo feminino, acho muito rico. As grandes discussões do poder de fala da mulher nos últimos anos e nos próximos que virão, o poder é da mulher. Quando vi o filme original achei divertido, mas o senti muito argentino. A gente precisava trazer isso para o Brasil, para as nossas questões. Eu quis levantar que a sexualidade é e deve ser questionada pelo lado feminino. Porque somos um país machista, um país de feminicídio que precisa quebrar essas barreiras. A gente não levanta nenhuma bandeira que [o swing] deve ou não ser feito, levantamos a reflexão de maneira leve e divertida”, ressaltou.

Para Carol Castro, a aproximação de Saback com a temática foi essencial para conseguir desenvolver sua personagem no longa. 

“Nós sempre conversamos, discutimos antes de atuar. Eu achei muito interessante colocar na Emília essa faísca. Quando você vê o filme há esse desejo sexual reprimido. É muito legal essa inversão de fugir do óbvio, dessa maneira tão delicada e tão real durante todo o conflito até o final. É uma personagem muito rica com esse arco dentro da trama. É muito importante dar esse poder e essa voz de ação para a mulher”, acrescentou a atriz.

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