São 22 anos de carreira e nem por isso Roberto Sadovski parece desanimar. Pelo contrário: o jornalista cultural mantém um dos blogs mais acessados do portal de notícias UOL sempre com as principais novidades do mundo pop no cinema e, vez ou outras, divertidos vídeos no Nerdovski.

Sadovski é um velho conhecido do público cinéfilo por ter comandado a SET, a principal revista de cinema já existente no Brasil. O Cine Set aproveitou toda essa bagagem de um dos jornalistas culturais mais admirados do país e fez uma entrevista especial com ele. Confira abaixo toda a conversa:

Cine Set – Como começou a carreira de crítico de cinema? Tinha alguém em que você se inspirava quando começou na profissão? Pensava que duraria tanto tempo escrevendo sobre cinema?

Roberto Sadovski – Eu comecei a trabalhar como jornalista oficialmente em 1994, mas escrevia sobre cinema desde a faculdade (morava em Natal, formado pela UFRN). Consumia muitas revistas e jornais, e acompanhei uma geração inteira ser formada pela SET e pela BIZZ, o que ajudou a desenvolver um estilo mais leve. Acho que sempre soube que escreveria sobre cinema para sempre….

 Cine Set – Você comandou a revista SET por mais de uma década e viveu o auge e declínio dela. Na sua opinião, qual a contribuição da SET para o jornalismo cultural brasileiro? O fechamento da revista era inevitável? O que mais te marcou durante essa etapa da tua vida?

Sadovski – A SET inspirou gerações de jornalistas que enveredaram pela área cultural – inclusive eu. Fico feliz de, hoje, perceber que consegui contribuir com o mínimo que fosse para ajudar muita gente a gostar de cinema, a escrever sobre cinema e a transformar a paixão em profissão. O fechamento da revista tornou-se inevitável não por sua performance como produto, que sempre foi impecável, e sim por movimentos de bastidores quando o título foi para as mãos de empresários pouco envolvidos com o mercado editorial. Tudo nessa etapa marcou minha vida: fazer a revista foi o que me deu disciplina para ser um jornalista mais completo.

Cine Set – Em todas as viagens internacionais pela SET, gostaria quem foi a pessoa mais bacana de entrevistar? E o mais chato? Já pagou mico? 

Sadovski – Muita gente me pergunta isso, mas não sei responder. Cada viagem, cada reportagem, sempre foi uma experiência diferente e super válida. Nunca pintou mico, nunca tive alguém antipático como entrevistado. Acho que tudo depende da condução da coisa. Ou então eu sempre dei muita sorte.

Roberto SadovskiCine Set – Atualmente, você está no UOL com um blog voltado para o cinema pop e tocando bastante nos assuntos nerds. Como analisa esse boom da cultura nerd, especialmente, com as adaptações de HQs nos cinemas? Acha que essa grande quantidade de produções previstas para os próximos anos pode trazer saturação ao mercado ou o público não vai cansar desses projetos?

Sadovski – Acho que é uma evolução natural do cinema como produto. Mas o que é mais bacana é trazer um novo público que posa descobrir o que mais o cinema oferece além da cultura pop e do entretenimento de consumo de massa. O próprio público vai se encarregar de fazer um filtro e separar joio de trigo.

Cine Set – “Batman Vs Superman” trouxe muita lenha na fogueira da polêmica entre público e crítica. Você mesmo foi muito criticado nos comentários da sua análise do filme. O que você acha dessas reclamações? Isso te afeta de alguma maneira? Para você, qual a função de um crítico de cinema?

Sadovski – Não me afeta em absoluto, até porque é só mais um filme, não é nada de tão importante assim.Um crítico pode oferecer um caminho, uma visão de como encarar um filme talvez por um ângulo que o público não perceba. Não acredito em crítica com o objetivo de dizer unicamente se um filme é “bom” ou “ruim”. Não é essa a função da crítica: é expandir o escopo.

Cine Set –  Qual o filme mais marcante da sua vida? E qual foi o último filme que você viu que te impactou?

Sadovski – Impossível apontar um único filme, impossível apontar dez filmes! Sempre que começo a listar, já fico mal por estar deixando coisas incríveis de fora. Pode parecer clichê, mas Guerra Civil de fato me impactou. É cinema, não produto.

CannesCine Set – O Brasil hoje vive uma crise política forte. Qual sua percepção da polêmica envolvendo os artistas nacionais relacionada ao MinC e a Lei Rouanet? Como enxerga o manifesto dos artistas realizado recentemente no festival de Cannes?

Sadovski – Acho que a preservação do MinC é importante, mas também acho que as políticas públicas para a cultura precisam ser revistas com urgência. Sobre o protesto em Cannes, os artistas tem todo o direito de se manifestar. Mas achei fora de tom, e tirou o foco do que realmente é importante: o filme.

Cine Set – Recentemente você fez uma reportagem para UOL falando sobre os fãs “Annie Wilkes” na cultura Pop. Na sua opinião, esta relação ambivalente entre público e autor cada vez mais presente na realidade virtual pode contribuir ou prejudicar no marketing dos produtos, seja no cinema ou nas HQs?

Sadovski – A única forma de prejudicar é se empresas passarem a moldar seus produtos criativos seguindo o lamento de uma minoria ruidosa. Artistas tem de ser livre para criar. Enquanto isso acontecer, fãs barulhentos podem rosnar o que for. Não fará a menor diferença.

Cine Set – Geralmente associam o crítico a ser um colecionador de filmes…o Roberto Sadovski faz parte desta visão? ou você prefere colecionar outras coisas?

Sadovski – Não me coloco fora dessa: sou colecionador de filmes e HQs. Adoro mídia física!

roberto SadovskiCine Set – Você esteve no Amazonas Film Festival em 2009. O que lembra do evento e o que achou de Manaus? Você conhece algo da produção cinematográfica realizada no Amazonas ou na Região Norte do Brasil? Se sim, qual a sua opinião?

Sadovski – Gostei muito do evento e da cidade, tive a chance de papear com o John McTiernan e foi bem legal. Honestamente, não conheço a produção cinematográfica da região. Mas seria bacana conhecer!