E O Oscar deveria ter ido para…

Não que não haja justiça no Oscar. Aliás, a palavra justiça deve ficar de fora quando se analisa quem venceu, deveria ou vai vencer o prêmio, visto que sabemos que levar uma estatueta é algo que vai muito além de questões de mérito.

Enfim, com justiças e injustiças pelo caminho é inegável que um grande número de vencedores do Oscar sejam memoráveis, e tenham vencido com evidente merecimento. Porém, também há uma considerável quantidade de vitórias discutíveis (talvez mais do que as indiscutíveis), que nos colocam uma pulga atrás da orelha, e nos evidencia que a política possui papel decisivo para definir os premiados.

O Cine Set vai trazer, dividida em três partes, uma lista de diretores, atores e atrizes que nunca venceram o Oscar, e que se a premiação tivesse uma outra maneira de pensar, certamente teriam ganhado o prêmio.

Nesta primeira parte falarei sobre os diretores, e para tentar se afastar de clichês óbvios, vou me atentar para pessoas vivas, senão ficaremos na eterna discussão permeada pelos nomes de Stanley Kubrick, Charles Chaplin, Akira Kurosawa, Alfred Hitchcock, etc.

E é claro que não tenho a pretensão de trazer todos os nomes que deveriam entrar nesta nem tão seleta lista, portanto, convido-os a darem a sua opinião nos comentários.

Diretores

David Lynch

Confesso que pra mim fica difícil fazer um texto isento de emoções ao se falar de David Lynch. Se um dia fizesse um top 5 de diretores favoritos da minha vida, o diretor americano certamente estaria na lista.

Mesmo sendo dono de um estilo nada convencional e popular, o diretor possui três indicações ao Oscar de melhor diretor, com os nada menos que brilhantes O Homem Elefante (1980), Veludo Azul (1986) e Cidade dos Sonhos (2001), perdendo respectivamente para Robert Redford por Gente Como A Gente (1980), Oliver Stone por Platoon (1986) e Ron Howard por Uma Mente Brilhante (2001).

Bom, confesso que não vi “Gente” e Platoon é bacana. Mas ver o medíocre Ron Howard levando a estatueta de Lynch é, certamente, um dos grandes absurdos do Oscar em sua história.

Lars Von Trier

Mesmo que Lars Von Trier seja um dos diretores mais brilhantes do seu tempo, de forma alguma chega a ser surpreendente ver que ele não possui nenhuma indicação ao Oscar.

Com seus filmes provocadores e fora de qualquer tipo de anseio comercial, Trier estabeleceu-se como um diretor que burla as regras do sistema, cria um cinema diferente e instigante, e ainda por cima, consegue se reinventar a cada filme.

E buscando racionalizar o fato de que ele nunca foi lembrado pela premiação, podemos chegar a conclusão de que ele só não foi nomeado a nada, por sua figura ser controversa e polêmica, pois o seu trabalho de direção em filmes como Ondas do Destino (1996), Os Idiotas (1998), Dançando no Escuro (2000), Dogville (2003), Anticristo (2009) e Melancolia (2011) é simplesmente brilhante.

Peter Weir

Este nome talvez não seja um dos mais reconhecidos pelo grande público, mas o diretor australiano tem nada menos que quatro indicações ao Oscar de melhor diretor, por A Testemunha (1985), Sociedade Dos Poetas Mortos (1989), O Show de Truman (1998) e Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante Do Mundo (2003).

Talvez perto dos diretores aqui envolvidos este seja um dos nomes que menos levanta questões sobre possíveis injustiças por não ter levado uma estatueta. Mas é bom ficar de olho, pois em uma possível nova indicação ao Oscar, o seu nome pode ganhar força devido ao grande número de indicações anteriores.

Gus Van Sant

Gus Van Sant é um diretor que já possui bastante respeito pelo público e crítica, tendo inclusive duas merecidas indicações ao Oscar de melhor diretor por Gênio Indomável (1997) e Milk – A Voz da Igualdade (2008), além de ter feito outros elogiáveis filmes como Garotos de Programa (1991) e Paranoid Park (2007).

Porém, o fato de inclui-lo aqui se deve, basicamente, por sua obra-prima ter sido completamente ignorada pelo Oscar.

Elefante (2003) ganhou a Palma de Ouro de melhor filme e direção em Cannes, algo extremamente raro, mas sem dúvida alguma possível de entender. Neste filme, Sant dá uma aula de direção, em um filme obrigatório para qualquer cinéfilo. Pior para o Oscar que ele não tenha sido lembrado.

Paul Thomas Anderson

Sendo primeiramente encarado como apenas um promissor discípulo do grande Robert Altman, a partir de Boogie Nights – Prazer Sem Limites (1997) tudo mudou para o hoje respeitadíssimo Paul Thomas Anderson.

Estabelecendo uma das carreiras mais sólidas do cinema dos últimos 15 anos, o diretor ainda tem no currículo filmes do quilate de Magnólia (1999), Embriagado de Amor (2002) e Sangue Negro (2007), além de ser reconhecido como um dos melhores diretor de atores do cinema atual.

Em uma das várias surpresas que a Academia causou em sua lista de premiações ao Oscar deste ano, vimos que Anderson não estava na lista de melhores diretores pelo seu trabalho em O Mestre (2013). Aliás, não é de hoje que isto acontece, visto que ele só possui uma indicação ao Oscar de melhor direção, que foi por Sangue Negro, que também foi indicado ao prêmio de melhor roteiro, assim como aconteceu em Boogie Nights e Magnólia.

Tomara que estes constantes esquecimentos não continuem a acontecer, e que a Academia um dia premie este que é um dos melhores diretores da sua época.

David Fincher

Já que iniciei a lista com o nome de David Lynch, que perdeu o prêmio de melhor direção de forma bizarra, creio que o que aconteceu com David Fincher foi ainda pior.

Diretor que sempre manteve os seus filmes em um altíssimo nível, Fincher só possui duas indicações ao prêmio, sendo ignorado em trabalhos sensacionais como Seven – Os Sete Pecados Capitais (1995), Clube da Luta (1999) e Zodíaco (2007).

Em 2008 ele foi lembrado pela primeira vez, em seu trabalho em O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), perdendo o prêmio para Danny Boyle por Quem Quer Ser Um Milionário (2008). Mesmo que o filme indiano seja cheio de problemas, a direção de Boyle realmente é muito boa, então não ficou um clima de injustiça no ar. Mas dois anos depois a história foi bem diferente.

Com A Rede Social (2010), Fincher alcança novamente o altíssimo patamar que conseguira com Seven e Clube da Luta, entrega, talvez, o seu melhor trabalho de direção, e… perde para o medíocre Tom Hopper, pelo também medíocre O Discurso do Rei (2010).

Essa foi bem, bem feia, em um dos piores Oscars da década.