Música e cinema sempre andaram de mãos dadas. Ora, a música sinfônica mais importante e reconhecida do século XX foi composta para filmes. Nas suas origens, composições de grandes nomes como Mozart, Bach e Beethoven foram tão populares para as plateias das suas épocas quanto hoje são as trilhas sonoras de nomes como John Williams, Bernard Herrmann, Jerry Goldsmith, John Barry, Hans Zimmer e tantos outros.

O casamento música e cinema é a ideia central dos concertos da série Encontro das Águas, realização da Secretaria de Cultura do Estado. Assisti a dois dos concertos da série, no Teatro Amazonas. Em ambos, a Orquestra Amazonas Filarmônica e a Orquestra de Câmara do Amazonas, sob o comando do maestro Marcelo de Jesus, souberam explorar a relação entre música e cinema para criar apresentações memoráveis e divertidas, com o nítido objetivo de fazer algo popular e de qualidade. Afinal, o cinema, tido como entretenimento de massa, muitas vezes serviu como porta de entrada para o mundo da música clássica.

O concerto “A Sétima Arte: Clássica Cult” se aproveita muito dessa noção. A programação é composta de composições clássicas usadas em filmes, com direito até a uma seção dedicada a Stanley Kubrick, que praticamente só usava música clássica para musicar seus filmes. As orquestras interpretam composições de Strauss, Beethoven e Bartok usadas em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971) e O Iluminado (1980), respectivamente. Na “Clássica Cult” ainda são ouvidos Mahler, usado de forma belíssima em Morte em Veneza (1971) de Luchino Visconti; Mozart – a sinfonia de abertura de Amadeus (1984) – e Wagner, com a clássica Cavalgada das Valquírias usada em Apocalypse Now (1979).

No concerto “Clássica Cult” até se pode questionar algumas das escolhas – se a apresentação inteira é composta de música clássica ouvida em filmes, por que Psicose (1960) e a trilha original de Bernard Hermann foram incluídas, apesar da impecável execução das orquestras? Mas é difícil reclamar quando se chega ao ponto alto da noite, a apresentação da soprano Dhijana Nobre interpretando a ópera sci-fi pop do sucesso O Quinto Elemento (1997) de Luc Besson. Foi o ponto mais divertido e memorável da noite, que contou até com um bis no final.

Já o outro concerto a que assisti, “A Sétima Arte: A Música de John Williams”, como o próprio nome diz, é dedicado à música do maestro norte-americano que compôs a mais popular música de cinema do século XX. Mais conhecido hoje pela moçada jovem por suas trilhas das sagas Star Wars e Harry Potter, Williams é uma lenda e o concerto serve como um passeio por suas obras mais reconhecidas.

Claro, no concerto há suítes de Star Wars e Harry Potter – um dos pontos altos do concerto é a entrada no Teatro do coral, apropriadamente trajado como alunos da escola de magia de Hogwarts, que interpreta a canção “Double Trouble” da trilha de O Prisioneiro de Azkaban (2004), terceiro longa da saga e o último a contar com trilha de John Williams. Mas o público também ouve (e assiste) com empolgação aos temas principais de Tubarão (1975), E. T. (1982), Jurassic Park (1993) e o solo de violino de A Lista de Schindler (1993).

Mas, em minha opinião, o melhor momento do concerto é a execução impecável do majestoso tema de Superman: O Filme (1978). Dá realmente vontade de sair voando pelo teatro… Para quem cresceu ouvindo esses temas, e continua a apreciá-los sempre que revê os filmes ou os escuta em CD ou no Spotify, é sempre um prazer ouvir a musica de Williams, ainda mais tão bem executada.

Comprovando que música clássica e uma apresentação popular de alto nível podem caminhar juntas, os concertos da série Encontro das Águas são diversão garantida e podem até despertar mais amor por esse tipo de música. Assim como o cinema fez, tantas vezes.


As últimas apresentações da série acontecem neste final de semana. Aproveitem!

fotos: SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DO AMAZONAS