Tentar explicar Marilyn Monroe (1926-1962) é uma tarefa ingrata.

Se, em vida, a atriz já era uma lenda, depois da morte ela ganhou as dimensões de um culto. A beleza icônica, a vida tumultuada, os filmes e ensaios antológicos que protagonizou, tudo isso alimenta um fascínio que só parece aumentar com o passar do tempo; afinal, em 2012, completaram-se 50 anos da sua morte.

E é só por essa admiração que um filme como Sete Dias com Marilyn se justifica. Partindo das memórias do escritor inglês Colin Clark, assistente de direção de Laurence Olivier no filme O Príncipe e a Corista (1957), de seu alegado envolvimento com a atriz, o filme quer mesmo é tirar o seu quinhão do ícone. Se ficasse apenas nisso, seria só mais um filme medíocre. Mas Sete Dias… tem o desempenho soberbo de Michelle Williams no papel-título, confirmando, mais uma vez, a sua posição entre as melhores atrizes da atualidade.

Marilyn (Williams) chega à Inglaterra para rodar O Príncipe…, onde terá de contracenar com Olivier (Kenneth Branagh, ótimo como sempre), decano do teatro inglês que busca, na associação com a jovem estrela, superar a má fase vivida nas telas. A atriz, porém, é instável e imprevisível, exasperando o velho ator com seus arroubos no set. Clark (o mediano Eddie Redmayne), um garoto com ambições de trabalhar no cinema, consegue atrair a simpatia da atriz, sendo incumbido de vigiá-la para que ela consiga dar conta de seus compromissos. Claro, não se vigia Marilyn impunemente, e Colin logo se apaixona.

Toda a história de Clark, incluindo seu breve romance com a figurinista Lucy (Emma Watson), as aparições de Arthur Miller (Dougray Scott), Vivien Leigh (Julia Ormond) e Sybil Thorndike (Judi Dench, no piloto automático) são enfeite: o filme é de Williams e Branagh. A personalidade complicada de Marilyn, sua constante necessidade de afirmação, o choque do divórcio de Miller, aparecem de forma vívida na interpretação de Williams. Mas há mais: entrevemos o mundo interior da atriz – suas dúvidas, anseios, a relação conflituosa com a fama.

Com a força da caracterização de Michelle, tanto faz se ela se parece muito ou pouco com Marilyn: como o Nixon de Frank Langella em Frost_Nixon, não há dúvida: é Marilyn que vemos no filme. Branagh, como Olivier, também comunica bem mais do que a história engessada permite – mas o veterano ator não faz mais do que exercitar seu talento.

Na parte técnica, Sete Dias com Marilyn é impecável. A direção de arte recria muito bem o período retratado (os sets e figurinos usados na filmagem de O Príncipe… são particularmente espantosos); a montagem é enxuta; o roteiro, sem riscos.

De tão “certo”, o filme não faz mais do que oferecer um retrato simplório da estrela, apropriação cuidadosa de um episódio na biografia de Marilyn, ao qual apenas a atuação extraordinária de Michelle é capaz de insuflar emoção genuína. A Academia de Hollywood percebeu isso, indicando apenas a atriz e seu parceiro Branagh ao Oscar.

Nota: 7,5