Quando o espanhol Juan Antonio Bayona surgiu em 2007 com “O Orfanato”, todos prestaram atenção. Era um cinema lúdico e inventivo, na mesma veia de “O Labirito do Fauno”, filme de Guillermo Del Toro também lançado há dez anos. Sua primeira investida Hollywoodiana, “O Impossível”, revelou um diretor hábil não só no “manejo” de efeitos visuais, mas capaz de levar às telas um eficiente drama familiar.

Que seu terceiro longa, “Sete Minutos Depois da Meia-Noite”, misture o lúdico de “O Orfanato” com a relação mãe e filho já visitada em “O Impossível” não é surpresa. O resultado, no entanto, foge do esperado, já que o longa baseado no livro de Patrick Ness não consegue imprimir o ritmo hábil visto nas duas obras anteriores de Bayona e nem os esforços da experiente Sigourney Weaver e da britânica Felicity Jones salvam uma produção já esquecível.

“Sete Minutos Depois da Meia-Noite”  tem como protagonista o menino Conor (Lewis MacDougall), o filho único de uma jovem paciente de câncer terminal (Jones). A personagem de Jones tem os dias contados e, com essa separação inevitável, o garoto tem em um monstro que surge após a meia-noite (voz de Liam Neeson) uma espécie de conforto.

Antes de mais nada, há de se dizer que, sem os seus belos efeitos visuais e design de produção, o filme perderia o seu pouco encanto. A construção do monstro, bem como as sequências de animação, são realmente tridimensionais e levam o espectador a uma viagem, junto com Conor. A fotografia separa muito bem os dois mundos em que o menino vive – o trabalho feito por Oscar Faura é especialmente belo nas cenas de cemitério.

A dublagem distorcida de Liam Neeson é outro ponto positivo. Como o monstro que é uma extensão dos medos do protagonista, Neeson é quase que uma figura paterna – temível, cálida e exigente. São dele os melhores momentos do longa.

Filme protagonizados por crianças são uma loteria, já que é delas a responsabilidade de carregar e transmitir uma história crível. Dito isso, o pequeno Lewis MacDougall se esforça, mas seu carisma não é o suficiente para passar toda a responsabilidade que é jogada a Conor desde muito cedo. MacDougall cresce, no entanto, quando divide a tela com Sigourney Weaver. A eterna Ripley tem uma performance irregular (o sotaque usado por Weaver não convence), mas sua sensibilidade faz com que vejamos um ser humano passível de falhas em uma personagem construída como “megera”. Já Felicity Jones tem pouco a fazer, mas entrega um belo desempenho como uma jovem mãe que padece em uma cama de hospital.

Mas, se as atuações e os efeitos convencem, o ritmo de “Sete Minutos Depois da Meia-Noite” não consegue envolver.  O roteiro é daqueles talhados para o combo fazer-você-chorar-e-ganhar-uns-Oscars-no-caminho e acaba tropeçando em suas intenções. Prova disso é a forma com que as histórias contadas pelo monstro vão ficando menos interessantes à medida que a narrativa avança – enquanto as duas primeiras casam com a história, a terceira se estende demais e poderia facilmente fundir com a última. Os 20 minutos finais da película, inclusive, são arrastados e parecem querer arrancar todas as lágrimas do espectador.

O resultado disso tudo é uma obra irregular, bela em suas intenções, mas de execução aquém da fábula de “O Orfanato” e do drama-talhado-para-emocionar-na-medida-certa de “O Impossível”. Bayona se revela, mais uma vez, um mestre do lúdico, mas acaba esquecendo que um trabalho repetitivo demais em si mesmo pode ser esquecível.