O subgênero das comédias românticas é aquele que provavelmente mais possui elementos capazes de tornar os filmes esquecíveis. A fórmula engessada comumente atrelada a esse tipo filme é, ao mesmo tempo, o que leva espectadores ao cinema e o que os faz nunca mais pensar na grande maioria das produções que se encaixam nesse padrão. Para cada “Sabrina” (1954), “Quatro Casamentos e Um Funeral” (1994), “Alta Fidelidade” (2001) ou “Vicky Cristina Barcelona” (2008), há uma infinidade de obras que, quando muito, valem os cerca de 110 minutos que passamos assistindo. É nessa categoria que se insere “Simplesmente Acontece”. Podia ser pior.

Dirigido de maneira plana por Christian Ditter, o filme segue boa parte das convenções água com açúcar esperadas. Assim, o público médio é deixado em terreno seguro ao contar a história de Rosie (Lily Collins) e Alex (Sam Claflin), amigos desde a infância que, no entanto, nunca tiveram um envolvimento romântico. Como era de se esperar, o filme é baseado num livro, “Where Rainbows End”, de Cecelia Ahern, também responsável pela obra que gerou “P.S. Eu Te Amo” (2007).

Se o livro poderia ter uma graça adicional ao remontar aos romances epistolares no que a narrativa se construía a partir de trocas de e-mails, mensagens e cartas, o mesmo não se converte em alguma criatividade em termos de construção de roteiro ou mesmo edição. Em termos visuais, o filme segue convencionalmente o básico da linguagem cinematográfica de filmes meio pop, meio indies, entremeando tudo com uma trilha sonora que poderia ser classificada, talvez, como “rock bonzinho, de tocar em elevador” e uma fotografia que lembra os filtros do Instagram. Além disso, a versão cinematográfica condensa os originais 45 anos em que se desenrola a história original para menos tempo, mais ou menos uma década, trabalhando os encontros e desencontros de Rosie e Alex.

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O casal protagonista, que deveria ser um dos maiores trunfos de um filme encaixado num gênero que conta basicamente a mesma história “boy meets girl” de novo e de novo, é o primeiro problema que salta aos olhos em “Simplesmente Acontece”. Collins e Clafin não imprimem carisma algum aos seus personagens em separado e menos ainda enquanto par romântico, seguindo o padrão nada marcante em suas carreiras, apesar de terem participado de franquias feitas na medida para o grande público como “Jogos Vorazes” e “Os Instrumentos Mortais”. Dentre tantos altos e baixos da vida adulta, surpreende a falta de maturidade impressa nos dois. A coisa toda se complica ainda mais para o lado do duo Collins-Clafin quase se percebe que o filme não consegue se decidir se segue a escola “(500) Dias com Ela”, com atores totalmente dentro do padrão de beleza homogêneo vigente em Hollywood tentando convencer como pessoas mais “alternativas” e “reais”, ou se assume de vez sua convencionalidade (só faltou a trama se passar num universo sócio-econômico mais alto para completar o marasmo de repetições).

Os protagonistas não são o único problema de “Simplesmente Acontece”. Os personagens de apoio se resumem basicamente num histórico de maus relacionamentos e uma família conservadora que em nada ajudam a criar grande empatia com a trama como um todo. E assim o público é brindado com todos os motivos possíveis para o óbvio casal não ficar tão óbvio assim (embora seja óbvio o final do filme): gravidez não planejada, casamentos, traições e até mesmo a mudança de um deles para outro país.

E assim percebe-se que o desconforto maior que o filme causa não é de todo culpa dos atores, mas sim da indefinição de seu diretor e, em igual medida, do roteiro. A escolha por seguir a linha convencional de um “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) para o grande público ou a escolha de seguir a linha convencional voltada ao público indie a la “Nick e Norah – Uma Noite de Amor e Música” (2008) talvez fosse mais adequada para a capacidade de Ditter na direção, o que não tornaria “Simplesmente Acontece” nenhum clássico nem de Sessão da Tarde, mas provavelmente agradaria mais ao público médio que pagaria para ver esse filme e depois nunca mais pensar nele.