O ator Selton Mello e o produtor Júlio Uchoa compareceram a uma coletiva de imprensa, na tarde desta segunda-feira (3), em São Paulo, para divulgar ‘Soundtrack’. O longa brasileiro é dirigido pela dupla 300ml, composta por Manitou Felipe e Bernardo Dutra.  No evento, Mello e Uchoa falaram, principalmente, sobre o processo de recriar o ambiente ártico dentro do estúdio.

Na trama, o fotógrafo Cris (personagem de Selton Mello) viaja até uma estação polar com o intuito de realizar um experimento: fazer autorretratos que registrem suas emoções ao ouvir determinadas músicas em um ambiente deserto, coberto por gelo. Lá, ele é forçado a conviver com quatro cientistas estrangeiros que tratam sua arte com descaso.

Para que o cenário parecesse real, três toneladas de neve foram encomendadas pela produção do filme, segundo informações de Uchoa, e levadas para a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde foram feitas as gravações. “Fizemos testes com vários tipos de neve. O objetivo era apresentar um filme de qualidade, o melhor possível para o nosso público. Foram três anos de pesquisa e planejamento para chegar ao resultado que queríamos”, disse Uchoa.

Uchoa disse ainda que entender como a pós-produção atuaria no produto final foi essencial para que atores e equipe técnica trabalhassem de forma precisa. “O sucesso veio do casamento entre a visão dos diretores, de filmar 100% em estúdio, e o apoio da empresa de efeitos especiais. A arte foi muito bem planejada e tivemos paciência para executá-la. Os diretores entenderam o quanto era importante a pós-produção estar junto a eles e deram a devida atenção a isso”.

Para Selton Mello, rodar o filme com um fundo verde deu a ele a possibilidade de uma experiência diferenciada como ator. “Acho que trabalhar nessas condições foi algo totalmente novo. A base do trabalho de atuação é a imaginação. Quando você está dentro de um estúdio imaginando estar em outro lugar, você acaba vivendo a coisa mais primitiva do ofício, que é imaginar. Isso, pra mim, é muito bonito”, declarou o ator.

Ainda segundo Mello, o modelo de produção de ‘Soundtrack’ abre novas possibilidades dentro do cinema brasileiro. “O trabalho de pós-produção deste filme é a prova da nossa maturidade técnica. É impecável. Muita gente assiste e não imagina que fizemos isso em estúdio. É uma experiência que nos faz pensar em novas formas de filmar. E eu sempre soube que os meninos do 300ml teriam um olhar apurado para fazer isso muito bem”.


Sobre trabalhar com elenco estrangeiro

Ao falar do processo de preparação para viver Cris, Selton Mello destacou o colega de elenco, o inglês Ralph Ineson, de ‘A Bruxa’, como sua maior inspiração no set de filmagens.  “O Ralph é um grande ator, e o encantamento que o Cris tem pelo Mark [personagem vivido por Ineson] foi o que aconteceu comigo e com o Ralph, de mim para ele. Eu o achei extraordinário. Então, acho que isso acabou indo para a tela”.

Ao ser indagado sobre os momentos de tensão que acontecem no filme, entre Cris e seus colegas de bunker, Mello contou que a estranheza entre os personagens foi similar à experiência na vida real.

“A interação se deu muito como acontece no filme, mesmo. Eles (atores estrangeiros) chegaram muito perto da filmagem, a gente não se conhecia. Há sempre uma curiosidade do público em saber como foi a preparação do personagem, mas eu me interesso cada vez menos por isso. Se o teto cair agora, nós não estamos preparados para isso. Me interessa o despreparo”, disse. “Eu fui para esse trabalho como o Cris foi. Fui conhecendo os atores aos poucos e vivendo aquilo. Quando você está aberto, você joga o jogo, de fato. Quando você está preparado demais, você corre o risco de ficar engessado”, concluiu.