Com meros dias nos separando de “Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força”, novo capítulo da franquia Star Wars, o Cine Set preparou uma série especial sobre a saga intergaláctica criada por George Lucas para aplacar a ansiedade, que começa com este Advogado de Defesa de “Episódio I: A Ameaça Fantasma”.

O filme, lançado em 1999, tinha a missão de estabelecer um arco narrativo anterior aos acontecimentos da trilogia original, arco ainda que deveria se sustentar durante o curso de uma nova trilogia, que começava por ele. Somemos a isso a dificuldade de atender às expectativas relacionadas ao retorno de uma das mais adoradas e bem-sucedidas franquias do cinema e é fácil entender as resistências ao projeto.

A despeito de ter sido um sucesso de bilheteria, “Ameaça” é constantemente atacado por uma parcela dos fãs que vê nele um filme indigno da franquia da qual faz parte. Você pode encontrar diversas análises metendo o pau sem ver a quem e George Lucas, ainda que tenha conseguido manter o barco em curso e terminado sua nova trilogia, já demonstrou desagrado com a recepção hostil, mantendo-se longe da direção da nova leva de filmes da série sob a batuta da Disney.

Cheguei a pegar o filme nos cinemas em 1999 e, na época, me pareceu o que Star Wars deveria ser: um filme cheio de humor, ação e efeitos incríveis, ou seja, perfeito para a criança de oito anos que eu era. Ele envelheceu mal durante os anos 2000, tempo durante o qual meu apreço pela trilogia original aumentou e a nova trilogia alcançou um ponto alto com “Episódio III: A Vingança dos Sith”.

Revendo hoje, longe do furor causado pelo seu lançamento, “Ameaça” se coloca como um filme que, ainda que não alcance as glórias dos filmes anteriores da franquia, tem seus méritos e estabelece pontos importantes do cânone Star Wars. Relembrar é viver:


A Era de Ouro

George Lucas aparentemente esqueceu que o que as pessoas esperam de Star Wars são efeitos especiais e tiradas de efeito quando escreveu este filme. Uma trama largamente política, quase destituída de ação em sua primeira meia-hora, realmente deve ter sido um tiro no pé para quem só queria saber de sabres-de-luz. O negócio é que a trama funciona e até seria apreciada em outro contexto. O funcionamento da República e a Era de Ouro dos Jedis, apenas mencionados na trilogia original, ganham vida aqui pela primeira vez e são fascinantes.


Novos personagens

Se você ler em algum lugar que Lucas tem péssimo ouvido para diálogos, acredite. Ele mesmo já disse isso. O filme tem trocentas linhas sofríveis e as atuações também não ajudam. Tirando Liam Neeson, a maioria dos atores parece ter tomado lítio antes das cenas, o que já dificulta a relação do público com a tal trama política. Para compensar, ele introduz personagens memoráveis como Quin-Gon Jinn e Darth Maul, este último um dos vilões mais marcantes da saga mesmo aparecendo só neste filme (e pouquíssimo).


Anakin (yay!) e midi-chlorians (nay…)

A versão infantil de Anakin Skywalker acabou vingando, com o filme não se preocupando em declarar abertamente os motivos pelos quais ele se tornaria quem se tornou. Ele estabelece com sucesso a ideia de um menino normal, ainda que com poderes diferenciados e com potencial para grandiosidade (para a geração mais nova, pense em um Tom Riddle, de Harry Potter, só que sem a marra). Esse desenvolvimento satisfaz mais do que os midi-chlorians, seres microscópicos inventados por Lucas para explicar a interação entre os seres da galáxia e a Força.


Ação! Ação! Ação!

O filme demora muito para engrenar, mas quando engrena, ele segue a toda velocidade. “Ameaça” apresenta uma das mais longas e satisfatórias sequências de ação de toda a saga a não dependerem de um sabre-de-luz: a corrida de podracers em Tatooine. Quando os sabres-de-luz entram na jogada, temos a clássica luta de Obi-Wan Kenobi e Quin-Gon Jinn contra Darth Maul, que parece ser o único ponto em que os defensores e detratores do filme conseguem concordar que é incrível. Uma luta acelerada e editada à perfeição, cujo desfecho é muito significativo para a trama. Sem falar que, na cena, ouvimos pela primeira vez “Duel of the Fates”, provavelmente o tema mais memorável que John Williams compôs para a nova trilogia. Ela aparece modificada nos dois filmes seguintes, sempre denotando o poder explosivo dos Sith.

Resumindo: a melhor forma de abordar “Ameaça Fantasma” é de coração aberto, tentando não fazer com que o apreço pela trilogia anterior tire toda a graça do filme. Ainda que não alcance os níveis desejados, tampouco seja livre de defeitos (todo o desenvolvimento da história entre Anakin e Amidala, por exemplo – eca), é uma agradável ficção científica que cumpre o combinado dentro de seu contexto na trama de Lucas.