O filão de filmes com um grupo de amigos de inteligência questionável tendo desventuras em série não demonstra estar perdendo nenhum tipo de fôlego. Popularizadas na década de 80, essas comédias ganharam nova força na década passada com o sucesso de projetos como a franquia Se Beber, Não Case. A moda tampouco é nova no Brasil e encontra em Superpai, seu mais novo exemplar.

A priori, em defesa do filme dirigido por Pedro Amorim, a fotografia é belíssima. Sério. Mesmo apelando para o óbvio em certos momentos, como a entrada em um ambiente perigoso no terceiro ato do filme, devidamente acentuada por uma câmera posicionada diagonalmente, há um sincero e dedicado trabalho para tirar dos tons escuros e do lusco-fusco da iluminação artificial inerentes às cenas noturnas (90% do tempo de projeção acontece à noite) uma ambiência interessante. Em um surto de inspiração, ganhamos até um plano-sequência de presente que nos introduz ao local onde surge a problemática do filme. Além disso, Superpai faz o melhor uso possível da noite paulistana como cenário, habitando postos de gasolina, banheiros imundos e até a clássica avenida Paulista como se estivesse em casa.

Ainda que, de um modo geral, o elenco pareça um conto Lovecraftiano para qualquer pessoa com bom senso (Danilo Gentili? Rafinha Bastos?), alguns acertos são inegáveis. O primeiro é Danton Mello no papel do protagonista que amamos odiar. Danton tem uma pinta de homem comum que ele usa no melhor estilo se-a-carapuça-serve neste filme: na pele de Diogo, o tal “Superpai” (às avessas, claro), ele tenta imbuir de humanidade um personagem que decididamente não foi escrito com isso em mente.

O outro destaque vai para Dani Calabresa, que é, para o que vos escreve, a grande aluna do Comédia MTV, programa exibido pela emissora paulistana entre 2010 e 2012, que ainda não teve a chance de estourar como seus companheiros Marcelo Adnet e Tatá Werneck. Como Júlia, uma amiga de Diogo, Dani rende ótimos momentos de humor e é a única do quarteto principal capaz de arrancar risadas virtualmente toda a vez que entra em cena.

O filme é honesto quando não tenta se vender como nada mais do que é: ele não cobra que você goste dos protagonistas, nem que os ache inteligentes ou sensatos. Ele não tenta disfarçar a escatologia do seu humor e, pelo menos até o seu final, não tenta passar que a jornada dos protagonistas (no caso, a busca por Luca, filho que Diogo perdeu em uma creche) tem algum pano de fundo moral ou edificante. E ainda que os responsáveis pelo roteiro tenham feito um trabalho decente em abrasileirar o produto, as suas raízes americanas aparecem aqui e ali (o filme é baseado em um roteiro americano não produzido).

O problema é que nem toda a honestidade do mundo compensa a suspensão de descrença exigida aqui. O roteiro tem problemáticas impossíveis e as soluciona de maneira preguiçosa e apressada (nenhuma mais preguiçosa e apressada que o próprio final do filme). É difícil para qualquer pessoa acreditar que alguém perderia o filho da maneira como Diogo perde. Ou que alguém tocaria o ânus na frente de uma recepcionista. Ou que alguém repetidamente esqueceria um menino que vira ponto importante da trama (uma running gag que nunca funciona).

Em suma, a ideia de que existam pessoas tão estúpidas e que sejam movidas por aspirações tão vãs é complicada de se comprar e as limitações decorrentes disso impedem o filme de ser efetivamente mais agradável e/ou engraçado. Para quem curte seu humor bem nonsense e escatológico, esse filme é uma opção válida enquanto o próximo exemplar americano não chega (ele não deve nada a eles). Para quem não curte, qualquer coisa na sala de cinema ao lado é uma boa pedida.