Confesso que não compreendi os motivos que fizeram com que Tabu, novo filme do cineasta português Miguel Gomes ganhasse um burburinho tão grande, com elogios tão entusiasmados e espalhafatosos. Não que ele seja um filme ruim, evidente que não o é, mas nem de longe é tão genial como já ouvi ser dito.

Conhecemos Pilar (Teresa Madruga), uma mulher de meia idade que tem como vizinha Aurora (Laura Soveral), uma senhora já bem idosa que vive no apartamento da frente, com a empregada, Santa (Isabel Cardoso). Sendo a pessoa que Aurora mais confia, visto que há tempos ela não possui contato com sua filha, Pilar sempre auxilia a vizinha, que regularmente se vê em problemas, principalmente relacionados à jogatina. Com o avançar da idade, Aurora fica cada vez mais debilitada, e como sente que o fim está próximo, pede para Pilar e Santa procurarem Ventura (Henrique Espírito Santo), mas não explica o motivo para que elas o procurem. Porém, depois as duas descobrem que ele é um amor antigo de Aurora, e depois de um acontecimento, ele conta para as duas como a conheceu e como se desenrolou suas histórias na África.

Sendo claramente dividido em duas partes bem distintas, a primeira intitulada Paraíso Perdido, e a segunda Paraíso, Miguel Gomes utiliza duas ferramentas narrativas distintas para desenrolar sua trama, na primeira parte vemos de que maneira Pilar influencia e é influenciada pela vida de Aurora de maneira simples, sem grandes artifícios de direção, enquanto que na segunda parte vemos praticamente um filme mudo, conduzido quase que exclusivamente pela narração em voice over de Ventura.

O ponto principal para que não tenha apreciado tanto o longa é que o filme promete contar uma belíssima história, e o tempo vai passando, passando, e por demorar tanto tempo temos a impressão de que essa tal linda história não vai chegar nunca.

Gomes é habilidoso, mostra ter talento para conduzir tramas, mas aqui, da maneira como ele desenvolve o rumo das coisas, temos um resultado aborrecido, fastidioso, lento no mau sentido da coisa. O tal suposto lirismo presente em todo o filme parece-me mais projetado no que o espectador quer ver, do que o que está de fato na tela.

A excepcional fotografia de Rui Poças mascara muita coisa. Os belíssimos enquadramentos utilizados, principalmente na segunda metade do filme, torna tudo realmente muito bonito de se ver, elevando os acontecimentos vistos a outro patamar, mais singelo e artístico. Mas ainda assim, o sentimento que fica é que eu deveria estar achando tudo aquilo emocionante, mas não consigo.

Pilar é uma personagem que não diz muito a que veio, mostra-se perdida no mundo, frustrada com o rumo da vida, e isso é simbolizado pelo fato de a menina polaca que iria ficar em sua casa ter desistido de ir em cima da hora, e também pela sua falta de habilidade de lidar com os galanteios de um amigo próximo, mas esses signos não levam a trama a lugar algum. A personalidade de Pilar não acrescenta nada ao que vemos, e isso grita na segunda metade, onde ela sequer aparece.

O próprio romance de Aurora e Ventura é narrado de maneira competente, mas ainda assim parece-me que o resultado visto é aquém do que poderia ser, poderia ter sido mais poderoso, mais impactante, mais vívido, mas a abordagem adquirida nos afasta, não permite que nos aproximemos da maneira adequada, vemos tudo a uma distância muito grande, grande demais.

Talvez isso se tenha dado pela primeira metade visto que, olhando de maneira reducionista, nela não acontece rigorosamente nada antes de um importante acontecimento com a saúde de Aurora. Claro que tudo isso vai ganhar mais força com a segunda metade, e claro que toda essa preparação faz diferença na forma como vemos o restante da película, todavia quando o final chegou, embora tenha reconhecido que havia substância no que foi visto, ainda assim fiquei com a forte impressão de que estava numa festa a qual não fui convidado a participar.

No final, o filme cresce em um desfecho que finalmente cumpre o que prometeu durante toda a sua projeção, mas aí já era muito tarde, e o meu afastamento em relação ao que estava sendo exibido era quase irreversível.

NOTA: 6,0