Produtora responsável pelo único evento voltado para o mercado audiovisual na Região Norte do Brasil (o Matapi), a Leão do Norte inaugura, nesta quarta-feira (15), a Tela Amazônia. A plataforma online traz como principal missão ser o ponto de conexão entre profissionais do audiovisual da região e novos contatos. Por meio dela, empresas e profissionais autônomos, como fotógrafos, diretores, roteiristas, editores, figurinistas e pessoas atuantes em diversos outros segmentos do audiovisual, terão uma nova vitrine para seus perfis profissionais.

Para fazer parte da Tela Amazônia e utilizar os recursos disponíveis é fácil. Profissionais interessados em divulgar seu perfil deverão acessar o site, que será divulgado na live e criar uma conta de acesso, disponibilizada aos usuários de forma gratuita. Já com o login ativo, basta preencher os campos que compõem a área de perfil e pronto – as informações profissionais já estarão disponíveis na plataforma.

Através de filtros como área de atuação, gênero, cidade, entre outros, contratantes locais, nacionais e internacionais poderão encontrar candidatos de acordo com suas necessidades de maneira prática, rápida e segura por meio da Tela Amazônia. Esta foi a forma encontrada pelos realizadores do projeto para gerar mais visibilidade e oportunidades aos profissionais da região, além de fomentar o desenvolvimento do setor no Norte do Brasil. 

PESQUISA INÉDITA

Matapi teve duas edições presenciais em Manaus e, em 2020, migrou para o online.

Na quinta-feira (16/12), às 16h (Manaus), será realizada uma live de apresentação da pesquisa “Perfil das Produtoras de Audiovisual Amazonense”, que integra o projeto Tela Amazônia e traz dados referentes ao recorte temporal de 2011 a 2020. Nela, será apresentado o perfil dos profissionais e das empresas de audiovisual no Estado, como elas atuam no mercado, quais suas fontes de financiamento, sua estrutura, entre outras informações. 

O estudo vem sendo realizado desde fevereiro deste ano e conta com a coordenação de Rodrigo Antonio, historiador e produtor sócio da Leão do Norte, com a consultoria de André Araújo, coordenador do Observatório do Audiovisual Baiano e também de Sarah Pimentel, produtora e assistente de pesquisa. 

O encontro virtual também acontece no canal da Leão do Norte no Youtube (bit.ly/youtubeleaodonorte). Durante a live, será apresentada ainda a pesquisa “Hábitos Culturais”, realizada pelo Itaú Cultural, apoiador do Tela Amazônia. Ambas as pesquisas serão disponibilizadas ao público na plataforma, na área “Observatório”, espaço dedicado à apresentação de dados sobre o mercado audiovisual com foco na região Norte. 

O projeto Tela Amazônia foi contemplado pelo Programa Cultura Criativa – 2020/Lei Aldir Blanc – Prêmio Feliciano Lana, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas e conta com o apoio do Itaú Cultural, organização voltada para a pesquisa e a produção de conteúdo e para o mapeamento, o incentivo e a difusão de manifestações artístico-intelectuais.

Cine Set – Como foi a ideia da criação da Tela Amazônia? Quais necessidades do audiovisual local que vocês identificaram para formular o projeto?  

Carlos Barbosa – Essa proposta surgiu em 2017 quando estávamos repaginando a Leão do Norte. Desde aquela época, quando trabalhávamos no escritório regional Norte do Prodav (Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro), todas as nossas ações eram voltadas para o coletivo, sendo um ponto de conexão entre as pessoas que procuravam a gente para indicações.  

Pessoas que chegavam a Manaus, Belém sempre perguntavam se conhecíamos profissionais destes lugares e indicávamos pessoas conhecidas com quem já havíamos trabalhado. Ali surgiu a ideia. 

Ao abrir a Leão do Norte, criamos um formulário do Google, uma versão inicial do catálogo, e, naquele momento, tivemos as primeiras inscrições. Passados alguns anos, agora, dentro do contexto da Lei Aldir Blanc, a Tela Amazônia chega como esta possibilidade de ampliar a ideia, tornando-o uma plataforma capaz de realizar estas conexões. 

Cine Set – A ideia inicialmente era ser apenas sobre o Amazonas, porém, a proposta acabou expandindo. Como foi esta transição para o formato que o site irá ao ar? 

Carlos Barbosa – A nossa vontade sempre foi falar da Região Norte como um todo, inclusive, o formulário do Google era abrangente mesmo para todos os sete Estados. Acontece que quando chegou a Aldir Blanc foi preciso adaptar e realizá-la primeiro no Amazonas para cumprir o que determinava o edital da Secretaria de Cultura do Estado. 

No segundo semestre de 2021, o Matapi trabalhou em uma curadoria para o Itaú Cultural e, entre as conversas durante esta parceria, citamos o interesse de ampliar a Tela Amazônia e houve o interesse deles. Conversamos com a SEC-AM para saber se poderia ter algum tipo de entrave em ampliar a plataforma e eles informaram que não. 

A partir de hoje, todos que entrarem no site dos sete Estados da Região Norte poderão se cadastrar. Daqui a um tempo, temos uma ideia de ampliar para a Pan-Amazônia. 

Bom frisar que a Tela Amazônia não visa que o usuário busque uma oportunidade no sentido de fechar o negócio ali. Na plataforma, você irá fazer a pesquisa, encontrará as opções que deseja, mas, quem o produtor irá contratar cabe a ele. Nosso intuito é apenas para que as pessoas encontrem estes profissionais na Região Norte. 

Cine Set – Com a experiência da Leão do Norte no escritório regional do Prodav, o Matapi e o recente Climate Story Lab Amazônia, como você avalia a evolução do audiovisual na Região Norte do ponto de vista das articulações políticas e do intercâmbio de informações? A Tela Amazônia surge para preencher estes espaços? 

Carlos Barbosa – A Tela Amazônia surgiu de uma demanda das pessoas conseguirem se conhecer e ter oportunidades, algo percebido pela gente no Amazonas e nos outros Estados. Muitas vezes quando nos perguntam, por exemplo, se conhecemos um produtor de locação em um tal lugar, indicamos duas pessoas, porém, sabemos que este número é muito maior. Falta um maior conhecimento sobre os profissionais deste segmento. 

Logo, o nosso projeto chega para suprir esta demanda e fazer com que as pessoas conheçam outros profissionais de outros lugares com atuação e disponibilidade para o negócio. Isso impede a mesma bolha sempre trabalhando nos mesmos projetos. Queremos ampliar este conhecimento. 

Este catálogo era algo que a própria Film Comission local poderia fazer. A Rio Filme e a São Paulo Film Commission, por exemplo, dispõem de plataformas com estas informações. Tivemos a Buenos Aires Provincia Film Comission  como inspiração para a Tela Amazônia. Nela, se pode saber quem é o profissional, de onde ele é, áreas em que atua, entre outros dados. Chegamos até a apresentar esta proposta para a Amazonas Film Comission, porém, a ideia não foi para frente. 

Cine Set – Quais os principais fatores que dificultam o maior intercâmbio entre os profissionais da Região Norte do Brasil? E como superá-los? 

Carlos Barbosa – A maior barreira ainda é o distanciamento geográfico, mas, sinto que já melhorou muito. As pessoas estão procurando mais estas parcerias. Profissionais do Amazonas, por exemplo, estão indo para o Acre, Roraima para trabalharem.  

A própria Leão do Norte teve todas as produções que atuou realizadas fora do Amazonas – participamos de obras no Amapá, Pará e Acre. Isso ajuda a ampliar os nossos horizontes e as nossas redes feitas pela própria produtora, no Matapi, entre outros projetos. O mercado está mudando e as pessoas estão começando a buscar estas parcerias com outros Estados.  

Isso gera reflexo nas obras cada vez mais com uma identidade dos seus realizadores, não sendo mais aquele olhar estrangeiro. As conexões ajudam a promover isso. 

Cine Set – Fale sobre o que o público irá ver na pesquisa ‘Perfil das Produtoras de Audiovisual Amazonense’. Como foi feita e os dados para realizá-la? 

Carlos Barbosa – Com a Tela Amazônia, conseguimos reunir em um mesmo lugar duas coisas que gostaríamos de fazer (risos). A pesquisa era algo que trabalhávamos desde a época do fechamento do escritório do Prodav. Tínhamos dados obtidos ao longo dos últimos anos, coletados junto à Ancine como, por exemplo, as produtoras locais cadastradas na agência. Mapeamos os CNAEs com as atividades de produção, de atividade de estúdio cinematográfico, quantas das produtoras estão aptas para captarem recursos pela Ancine, entre outras informações. 

Neste momento, vamos publicar o perfil das produtoras. Em breve, iremos lançar uma pesquisa sobre quantidade de obras e o tipo delas, os editais que estas empresas conseguiram acessar. Iremos também abordar quem são os profissionais do setor, o que eles visualizam como entraves, as necessidades de formação. 

Além dos dados obtidos junto à Ancine e também dos editais locais, aplicamos um formulário em fevereiro deste ano aos profissionais da área. Os dados desta primeira etapa da pesquisa estão baseados nas 61 respostas de produtoras do Amazonas. 

Plataforma abriga catálogo de profissionais da Região Norte e estudos sobre o mercado audiovisual.

Cine Set – O Amazonas caminha ainda lentamente em relação a pesquisas de dados quantitativos sobre o seu audiovisual, especialmente, este feito nos últimos anos. De que modo a pesquisa pode contribuir para a classe e a gestão pública na construção de políticas para o setor? 

Carlos Barbosa – Na época em que formulamos o projeto para a Lei Aldir Blanc, uma das nossas justificativas era justamente o fato de que muitas pesquisas sobre o audiovisual na Região Norte estavam defasadas. Havia pouco sobre como estava o mercado, quem são os atuais profissionais, como eles estão chegando ao setor. Era preciso pesquisar fundo, pois, não tinham estes dados. 

Para políticas públicas, este tipo de informação facilita muito até para pensar um futuro edital já que fica claro qual é a demanda da classe. Acreditamos que estas pesquisas possam ser usadas nas defesas de argumentos do setor diante dos órgãos públicos.  

Neste observatório do audiovisual dentro da Tela Amazônia, teremos as nossas pesquisas – lançaremos uma agora, provavelmente outras em fevereiro e maio -, mas, também queremos abrigar trabalhos de terceiros. Se alguém tiver pesquisas, teses de graduação, a plataforma pode hospedar estes estudos para que as pessoas tenham acesso. 

Cine Set – Para fechar, gostaria de saber quais os planos da Leão do Norte para 2022? Teremos a quarta edição do Matapi? 

Carlos Barbosa – Queremos (risos). As pessoas batem muito na tecla da política da descontinuidade, mas, não acreditamos muito nisso. O Matapi teve três edições formais, mas, neste ano, criamos com ele várias outras ações.  

Participamos de eventos, fomos anfitriões de um evento internacional (o Climate Story Lab Amazônia), tivemos parcerias em cursos do Projeto Paradiso com a B_arco que as pessoas que participaram do Matapi ganharam bolsas. Logo, as ações do Matapi continuaram independente do evento ter ocorrido ou não e isso ajuda a compreender a demanda atual do mercado. 

Agora, desejamos sim fazer a nova edição do Matapi. Temos o projeto aprovado na Lei Nacional de Incentivo à Cultura e caminhamos para conseguir esta captação. Já a Leão do Norte segue com outros projetos como a produção da série amapaense “Amazônia PANC” para o edital das TVs Públicas e na elaboração do longa “Meus santos saúdam teus santos”, do Rodrigo Antonio (sócio co-fundador da Leão do Norte). 

Texto com apoio de informações de assessoria

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