Três coisas se destacam no curta-metragem de Alberto Mielgo: a visualidade, a liquidez das relações humanas e a busca incessante pelo amor. “The Windshield Wiper”, em verdade, já inicia nos levando a refletir sobre o que é o sentimento do afeto e, enquanto, embarcamos nas divagações do homem sentado na cafeteria, passeamos por várias vinhetas e situações que auxiliam nessa investigação.

A animação tem um toque realista, como uma fotografia que se torna desenho rabiscado. Mielgo faz um trabalho interessante com o tratamento artístico da cor, que oferece profundidade aos objetos em cena e às características visuais latentes dos personagens como tatuagens, marcas de expressão e detalhes que os diferencia. Essas particularidades são importantes para a construção narrativa e as sensações que a obra reflete, enriquecendo a discussão em torno dos relacionamentos.

Uma busca por afetos

Por mais que a pergunta central da trama seja “o que é o amor” e como este se manifesta, o afeto e sua ausência na sociedade contemporânea é o fio condutor de “The Windshield Wiper”. Seja o senhor em situação de vulnerabilidade que discute com o manequim, os jovens que escolhem um parceiro como um produto na prateleira ou a troca de mensagens que finda quando alguém tenta ser mais próximo; todas as situações categorizam o quanto as pessoas buscam um tipo de relação que, em sua maioria, não conseguem ofertar, culminando em vínculos fragilizados e sem profundidade, tal qual o papo na cafeteria.

Essa liquidez é curiosa diante das respostas apresentadas para descrever o amor. Em tempos de parceria virtual, isolamento imposto por aspectos higiênicos; ter afetos é a melhor forma de se manter vivo e sem fantasmas. No livro “Tudo Sobre o Amor”, bell hooks comenta que a melhor maneira de buscar o amor é estar aberto para ele, visto que esse acontece sem qualquer esforço da vontade humana. Mielgo transpõe esse pensamento para tela ao colocar seus personagens vivendo de forma robótica e vazia enquanto partem no encalço de algo que remeta a esse sentimento.

Vivências narradas, ruas vazias, arranha-céus, pessoas que se veem, mas não se conectam, porque vivem em mundos diferentes. Em tudo isso, a pergunta “o que é o amor” reverbera, como um alerta, um convite, uma necessidade ignorada; provando que estamos em busca das respostas que queremos ouvir, enquanto a realidade está bem diante de nossos olhos em situações bizarramente simples.

MAIS CRÍTICAS NO CINE SET: