Bem… O que foi isso?

Entre Império dos Sonhos (2006), seu último filme, e o retorno de Twin Peaks, David Lynch passou 11 anos sem filmar. Trabalhou com música, pintou e divulgou suas ideias de meditação transcendental. Porém, pouco antes desta nova temporada começar, o co-criador de Twin Peaks Mark Frost disse que a nova versão da série seria “Lynch, versão heroína”. Por este episódio 8, podemos dizer que é uma descrição apropriada.

Nele, todos os desenvolvimentos que estávamos acompanhando nos últimos episódios são colocados em pausa, exceto a fuga do Cooper do mal. O que acontece com ele no deserto envolve um flashback em preto-e-branco com direito a participações da família do mendigo de Cidade dos Sonhos (2001), o teste atômico em 1945, o nascimento do mal e toda a desarmonia decorrente disso. É o Lynch surreal como nunca, com fome e sem restrições.

Acima de tudo, este episódio consolida a minha opinião de que é impreciso pensarmos nesta nova Twin Peaks como uma série. Não se comporta como série, não segue rigidamente uma estrutura serializada, nem foi idealizada como tal. O tom é mais próximo de um filme. O novo Twin Peaks é um gigantesco filme, e em momentos como este as imagens que ele mostra são algumas das mais poderosas e criativas que o cinema americano mostrou em um bom tempo.

Considerações sobre o chihuahua mexicano:

  • A loja de conveniência, o vômito, partículas de Bob, o Portal das Estrelas de 2001: Uma Odisseia no Espaço (versão Lynch), o oceano roxo e o rosto de Laura Palmer. Um episódio com imagens para se ver.
  • E se ouvir: arranhões na trilha, zumbidos, canções, música clássica atonal… Conselho: Apague as luzes do seu quarto, aumente o volume e só assista à série assim.
  • O Gigante (Carel Struycken) assiste ao resumo do episódio numa tela de cinema. Apropriado…
  • Pouca gente tem elogiado, mas os efeitos visuais da temporada, a cargo da produtora francesa BUF, têm sido magníficos. A computação gráfica é mais um pincel com o qual Lynch consegue compor suas imagens.
  • Tinha uma foto de uma explosão nuclear no escritório de Gordon Cole nos primeiros episódios, lembram?
  • THE Nine Inch Nails! A banda dá o tom do episódio com uma música inteira na Roadhouse.
  • “On Air”: O letreiro na rádio reverencia o projeto de Frost e Lynch pós-Twin Peaks original, a sitcom On the Air. Eu nunca vi, mas li que tem no YouTube. Alguém já viu?
  • “Esta é a água. E este é o poço. Beba tudo e desça. O cavalo é o branco dos olhos, e a escuridão dentro dele”.