Falar de Marlon Brando é falar da arte de interpretar. Isso porque além de ele ter no currículo desempenhos magníficos em filmes como “Uma Rua Chamada Pecado” e “O Poderoso Chefão”, o ator também tem seu nome cravado na história do cinema por ter sido um dos pioneiros e mais ilustres adeptos do Método, técnica de interpretação baseada nos ensinamentos do russo Constantin Stanislavski. Por isso, qualquer retrato que leve o espectador à mente do homem que deu vida a tipos tao perturbados e distintos na tela grande é parada obrigatória para quem gosta de cinema. E esse é o caso do documentário “A Verdade Sobre Marlon Brando”,  de Stevan Riley.

Em “A Verdade Sobre Marlon Brando”, temos a chance de conhecer Brando em suas próprias palavras. Para isso, Riley usou centenas de horas de áudios do ator, onde ele fala sobre a vida e a carreira. Alguns desses registros foram gravados por ele durante sessões de hipnose.

O interessante deste filme é que, ao contrário de outros documentários do gênero, não usa depoimentos externos de pessoas que conheceram Marlon Brando. Riley se vale 100% das confissões do astro e, com isso, constrói um retrato emocionante, porém foge do piegas.

No filme, vemos (ou melhor, ouvimos) um Brando vulnerável e auto reflexivo. Com uma eloquência que nem de longe lembra a dicção (propositalmente) impossível de Don Vito Corleone, ele se mostra um astro solitário e até um pouco perdido diante da fama. A produção lembra os grandes papeis, o trabalho com Stella Adler no Actors Studio e as polemicas, como a relação conturbada com o filho Christian e a infame aparição de uma atriz dizendo ser a índia Sacheen Littlefeather para receber o Oscar de Brando por “O Poderoso Chefão”.

No entanto, o que mais fascina é ouvir as dúvidas e incertezas de um ator tão extremo. A infância e o primeiro interesse no comportamento humano, a necessidade de aceitação que ele tinha para com o seu pai e o que motivava cada interpretação. Nesse sentido, a montagem do documentário é bem sucedida ao usar cenas de filmes e entrevistas de Marlon sem identificá-las. Por outro lado, a trilha sonora é uma distração e parece impor as reações do espectador.

“A Verdade Sobre Marlon Brando” pode até não cumprir 100% a promessa do título brasileiro, mas funciona como uma autobiografia e um cálido registro da vida de um astro recluso.