ALERTA: crítica contém spoilers adiante.

Com a firmeza dos grandes heróis, a Dra. Miranda Norton se vira para um colega da Estação Espacial e afirma que possui a missão de pensar nas piores possibilidades possíveis com o intuito de sempre elaborar as melhores situações dadas as circunstâncias. Impressiona que dali em diante, os erros cometidos pelos astronautas mais burros já vistos na história do cinema se sucedam a cada movimento que façam. Tal aspecto torna “Vida” a ficção científica mais cômica surgida nos últimos anos.

O humor começa nos primeiros 20 a 30 minutos. Aqui, Daniel Espinoza homenageia clássicos filmes do gênero: o belo plano-sequência inicial remete a “Gravidade”, enquanto a trilha grandiosa e as belas imagens da vastidão espacial fazem qualquer cinéfilo ter aquela recordação de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” ou “Solaris”. Já a convivência dos personagens, cada um com seus pequenos dramas, de relação afetuosa e comedida em um espaço quase claustrofóbico coloca uma pitada de “Alien – O Oitavo Passageiro” no caldo.

A piada desta bela construção reside pelo fato de ser uma mera enganação daquilo que “Vida” realmente pretende ser: um filme B de ficção científica com muito sangue e um monstro bem malvado. Nada contra desde que os furos gritantes do roteiro não passassem de qualquer limite do tolerável, tornando risível o que se vê em tela.

Fiquemos, por exemplo, no momento já exibido no trailer quando o monstrinho vindo de Marte, chamado Calvin, ataca Hugh Derry (Ariyon Bakare). Todo o processo de contingência da crise ali instalada é patético: desde a incapacidade do cientista em simplesmente pensar em como voltar a fazer Calvin adormecer expondo a outra mão ao ataque até a passividade da capitã em tomar decisões deixando os personagens de Ryan Reynolds e Jake Gyllenhaal praticamente assumirem as ordens passando pela luta com fogo no meio da Estação Espacial dão a total falta de noção do momento. O desfecho com sangue saindo em profusão e quase sem parar dá o tom da tosqueira por vir.

Mesmo pequeno, o monstrinho está sempre um passo à frente dos nobres protagonistas. Quase um Stephen Hawking dos Ets, Calvin consegue entrar e sair da nave de todas as maneiras imagináveis, destrói o canal de comunicação com a Terra, entra na roupa de Derry sem o mesmo perceber. A dupla de roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, não satisfeita ainda, força à barra com um pulo certeiro do bichinho saindo da roupa da astronauta para a espaçonave (gravidade para quê?) e uma chegada providencial de uma nave para dar sequência à trama (Deus Ex Machina disse oi com vontade aqui!).

É claro que só resolvi fazer esta crítica com spoilers devido ao final “memorável”: há uma beleza poética pretendida e criada ao longo de todo o roteiro. Jake Gyllenhaal estava aliado ao monstrinho desde o começo do filme para destruir a humanidade. Se “Vida” fosse feito por M.Night Shyamalan ou Christopher Nolan, o momento em que vemos a nave do personagem junto com Calvin no mar seria cheias de flashbacks com o astronauta dizendo que preferia o espaço do que voltar à Terra e que não queria viver com aqueles 8 bilhões de fdp. Tudo, na verdade, não passava de um plano Iluminatti.

Ou, talvez, apenas talvez, o desfecho metido a surpreendente se revela uma bomba por ser completamente sem sentido que resta apenas a ironia e não mais do que isso para lidar com tal fato? E por que não estender isso ao filme todo?