Gosto de escrever desde que me entendo por gente, mas quando criança nem sabia o que seria um “texto pra televisão”. Nem passava pela minha cabeça que alguém conseguiria prever as palavras exatas e, ao mesmo tempo, orgânicas o suficiente para causar impacto. No caso das comédias, era ainda mais estranho: como um texto conseguiria ser tão preciso em fazer rir?
Durante a transmissão original de “Os Normais”, eu não tinha completado nem 10 anos de idade e, se assistia, talvez risse sem entender a maior parte das piadas e da relação entre Rui e Vani. Acredito que tenha desenvolvido uma relação com o programa já com reprises e o lançamento dos filmes.
Foi assistindo ao seriado que prestei atenção, pela primeira vez, que existiam créditos de texto. Existia um texto que guiava toda a dinâmica que aparecia ali e, ao mesmo tempo, que precisava ter uma precisão cirúrgica pra funcionar, também precisava ter espaço pro improviso. Ali surgiu meu interesse por roteiro.
O nome de Fernanda Young, então, ficou na minha cabeça.
Minha avó, moderninha que só ela, assistia “Irritando Fernanda Young” às quintas-feiras na TV a cabo. O “Saia Justa”, programa do qual Fernanda fez parte da formação original, também era uma constante na minha casa durante as noites de quarta. Pra falar a verdade, eu assistia qualquer coisa que tivesse o nome dela envolvido.
Acabei assistindo até Macho Man e O Dentista Mascarado. Esses foram difíceis pra mim, devo admitir.
Fernanda era, além de a primeira mulher que eu reconhecia como roteirista, completamente diferente de qualquer pessoa que eu já tinha visto até então na televisão: tatuada, porra louca, com um humor ácido e, por vezes, non sense que sempre me deixou meio encantada, meio chocada.
Hoje percebo o quanto o trabalho de Fernanda Young foi porta de entrada para várias preferências que desenvolvi ao longo dos anos: o gosto por crônicas, roteirização e a pontinha de mim que ainda insiste em pensar e produzir audiovisual. Durante a faculdade, ela continuou sendo referência para mim em vários trabalhos: de entrevistas a roteiros.
Quando citava o nome dela percebia sempre um certo grau de estranhamento, talvez porque eu pareça ser, em jeito e aparência, o extremo oposto do que a Fernanda Young representava. Acho que tudo isso se desenvolveu de forma quase inconsciente, mas assim que pensava se faria ou não minha primeira tatuagem, a imagem dela me dizia que ser tatuada não seria, por si só, mais um obstáculo.
Esse choque fez com que olhasse pra trás e enxergasse o improvável impacto que seu trabalho teve em mim. Acredito que ela tenha sido, afinal, uma das referências femininas mais importantes e uma das primeiras profissionais “de bastidores” de quem fui fã: fazia questão de acompanhar e me deixar levar pelas excentricidades e pela imprevisibilidade de tudo que vinha dela.
A morte de Fernanda me chocou por sua idade real, mas também porque, para mim, ela tinha aquela aura de quem nunca morreria. Com o perdão do trocadilho, sempre young.