As comédias (“não-românticas”) norte-americanas dos últimos anos vem alcançando resultados extremamente interessantes, com filmes cada vez mais anárquicos, longe das pieguices do mercado, e com uma maturidade que impressiona (o que me causa bastante frustração por saber que ainda falta muito tempo para que as comédias da Globo Filmes adquiram essa coragem).

Pare e pense. De 2012 pra cá chegaram ao mercado filmes como Ted, Vovô Sem Vergonha, Tudo Por um Furo, É o Fim, trabalhos que tem como característica principal, não se levar a sério, rir de si mesmo, ignorar as regras de final feliz em comédias, chutar o balde do convencionalismo, passar por cima das normas da moral cristã e ir atrás da verdade que aquele filme está buscando, sem fazer concessões para quem quer que seja.

Evidente que outros filmes, de outros gêneros, podem ter alcançado melhor resultado, artisticamente falando, do que estas citadas comédias, mas o fato é que esse momento vem trazendo um frescor para o mercado que há muito tempo não se via, e com isso ganhamos mais variedade de filmes, e um mercado mais aberto para novas ideias.

E mesmo que Vizinhos não tenha nada de transcendental, acredito que ele pode ser colocado nesse panteão das comédias corajosas e bem-sucedidas dos últimos anos.

Somos apresentados ao casal Mac (Seth Rogen) e Kelly (Rose Byrne), que moram com sua filha pequena numa tranquila vizinhança. Até que, certo dia, a casa ao lado é vendida para uma fraternidade universitária sedenta por festas e agitação de todos os tipos, o que certamente não estava em seus planos. Eles até tentam iniciar uma boa relação com os jovens, mas depois dos problemas se repetirem, eles chamam a polícia, o que desperta a ira de Teddy (Zac Efron), o presidente da fraternidade, que inicia uma guerra contra os vizinhos, que vai ser repleta de armações das mais sujas.

É muito interessante como o roteiro mostra Mac e Kelly como pessoas recém saídas da juventude, ou ainda nela, que por terem tido uma filha, são obrigados a amadurecer rapidamente. Então, quando eles observam aqueles jovens cheios de disposição para beber todas em uma festa por noite, fica um tom de nostalgia no ar. No fundo eles sabem que, se não existisse um bebê, eles provavelmente estariam bebendo todas junto com os garotões, como vemos logo na primeira noite da fraternidade.

Esse tom nostálgico nos aproxima daquelas pessoas, faz com que entendamos as suas inseguranças e motivações.

Ao mesmo tempo que Mac e Kelly querem silêncio para que sua filha possa dormir em paz, eles não querem ser reconhecidos como os vizinhos chatos, que não gostam de se divertir, e se incomodam com a diversão alheia. Mas é difícil encontrar esse meio termo, pois como o próprio Mac fala para Teddy, em um dado momento, de repente você é o cara mais velho da festa, e isso é meio desesperador.

E isso também acontece do outro lado. Teddy não quer sair nunca dessa fase da vida, pois sabe que sair da faculdade e arranjar um emprego é renunciar ao seu reinado, é deixar de lado uma fase de felicidade para entrar em um momento de compromissos e responsabilidade.

Mas o interessante é que mesmo apresentando bem os personagens, o filme coloca isso como segundo plano, e investe nos trambiques que cada um arma para o outro como o mote principal do filme. Como era de se esperar, o resultado é um trabalho meio bobo, com motivações pueris, nos colocando no papel de questionar sempre qual a razão de ser de tudo aquilo.

Massss… o filme tem piadas muito boas, verdadeiramente divertidas, e acaba te envolvendo naquele clima juvenil com bastante naturalidade. Algumas situações são impagáveis, como a comparação entre o Batman do Christian Bale e o do Michael Keaton, a festa em que todos os garotos vão caracterizados de algum personagem de Robert De Niro, o policial imitando o Garfield, as situações com o air bag. Vou até parar pra não adiantar todas as piadas.

Além disso, o elenco parece realmente estar se divertindo a beça, exibindo uma química muito gostosa de ver na tela, desde os mais tarimbados como Seth Rogen e Zac Efron, até a adorável filhinha do casal principal, que merece indicações a prêmios pelo seu carisma.

Vizinhos é a prova de que ser bobo não é, necessariamente, uma coisa ruim para um filme. Ele sabe onde quer chegar, sabe o que quer fazer, e faz, sem se render ao que seria mais agradável de assistir, pois sabe que é um filme de bom caráter. Uma prova disso é quando vemos, logo no início do filme, um casal gay conversando com um corretor de imóveis, aparentemente checando o preço da casa, e Mac e Kelly mostram-se animadíssimos com a ideia de ter vizinhos gays. Com isso o filme diz que faz piada com tudo, mas que respeita as coisas mais importantes, que não ri de quem não deve, e que toda porralouquice tem limite.

Neste caso, temos uma porralouquice muito divertida de se ver, e que só ofende os que tem algo a esconder.

NOTA: 7,0