Houve uma época na qual os seriados mais badalados da TV eram aqueles dos canais abertos americanos, aquelas que possuíam 20, 22, 24, ou até 26 episódios por temporada – pensem nisso, quase metade das semanas do ano havia um novo episódio da sua série favorita para ver! Telespectadores de hoje, acostumados a uma dieta de Dexter, Game of Thrones, Breaking Bad ou as mais recentes produções Netflix, até estranham quando resolvem assistir a alguma coisa mais antiga e se deparam com esse montão de episódios para ver.

Muitos deles são daquele tipo de episódio no qual uma encrenca surgia e era resolvida em 45 minutos, apenas para nunca mais ser mencionada de novo. Em minha opinião, houve mais ganhos do que perdas quando a serialização começou a predominar, mas às vezes, uma história que se resolve em 45 minutos tem seus atrativos.

E Arquivo X se diferenciou nos dois formatos: havia os episódios “mitológicos”, sobre a colonização da Terra por alienígenas, muito serializados e nos quais um influenciava o outro; e os isolados, com os agentes Mulder e Scully investigando o “caso da semana”. Muitas vezes esses casos envolviam monstros e deram a origem a um “subgênero” dentro do programa, os episódios dos Monstros da Semana. Vamos relembrar alguns nesta lista, em minha opinião os melhores – e de quebra, algumas das mais assustadoras horas de TV que eu já vi.


Eugene Tooms
Episódios “Assassino Imortal” e “Eugene Tooms Ataca Novamente”
Primeira Temporada

O primeiro monstro a gente nunca esquece. Assassino Imortal foi o terceiro episódio da série, depois dos dois primeiros com tema ufológico. Neste, Scully e Mulder não investigam um caso de abdução nem veem OVNIs no céu, mas ficam intrigados quando pessoas começam a aparecer mortas com os fígados devorados. O culpado era Eugene Tooms, um mutante que acordava a cada 30 anos, comia cinco fígados e entrava em hibernação por mais um ciclo. Tooms foi interpretado por Doug Hutchison, que depois se especializou em papéis esquisitos em projetos como o filme À Espera de Um Milagre (1999) e a série Lost. Com um personagem tão estranho e incomum logo no seu início, a série imediatamente deixou claro ao seu telespectador: “Aqui, há monstros, e tudo pode acontecer”. E Tooms voltou lá perto do final da temporada, tendo sido um dos poucos a atacar duas vezes.


O Flukeman (Homem-Verme)

Episódio “O Hospedeiro”
Segunda Temporada

Esse foi o mais nojento de todos. O “Flukeman” era um verme humanoide, basicamente uma solitária com braços e pernas, criado por radiação. O bicho começou a fazer suas vítimas nos esgotos e, para enfrentá-lo, Mulder estava praticamente sozinho, pois este episódio pertence à fase na qual Gillian Anderson estava grávida e sua participação é reduzida. Como resultado, lá vai o nosso agente “Estranho” favorito beber um pouco de água de esgoto enquanto caça o monstro… Como curiosidade, por baixo da maquiagem nojenta do Flukeman estava um dos roteiristas do seriado, Darin Morgan, que mais tarde escreveria alguns dos melhores episódios.


Donnie Pfaster
Episódios “Irresistível” (Segunda Temporada) “Reverendo Orison” (Sétima Temporada)

Este aqui não era um monstro… Ou era? Donnie Pfaster, interpretado por Nick Chinlund, tinha fixação pela morte – no roteiro original era um necrófilo, mas o canal Fox achou melhor mudar para um fetichista, obcecado por cabelos femininos. Mas algumas das suas vítimas o viam como um demônio, e as cenas finais de “Irresistível”, nas quais ele sequestra Scully, são alguns dos momentos mais tensos do seriado. Como Tooms, Pfaster voltou depois, num decepcionante episódio na sétima temporada, mas é a sua primeira aparição que o fez merecer um lugar nesta lista.


Os Peacocks
Episódio “O Lar”
Quarta Temporada

Sabiam que, lá nos idos de 1996, um episódio de Arquivo X causou tanto impacto no público que acabou sendo exibido apenas uma vez pela Fox e nunca mais foi reprisado? O episódio “maldito” da série traz Mulder e Scully investigando a morte de um estranho bebê numa cidadezinha da Pensilvânia. O bebê era deformado e foi enterrado num campo – logo na cena de abertura vemos o seu sepultamento, num clima de pesadelo. O bebê tem ligação com os três irmãos Peacocks, os deformados moradores de uma fazenda isolada típica dos filmes de terror que o episódio homenageia. Quando os agentes descobrem a ligação entre os irmãos e a criança… Bem, digamos que o espectador não vai esquecer a cena. Assim como a cena em que os irmãos entram em ação contra o xerife da cidade. O debate sobre a violência na TV nos EUA se intensificou com esse episódio, e “O Lar” é frequentemente visto em listas dos mais assustadores episódios televisivos de todos os tempos. Para se ver com as luzes apagadas…


Leonard Betts
Episódio “O Homem do Câncer”
Quarta Temporada

Ninguém podia acusar os roteiristas de Arquivo X de falta de imaginação, nem mesmo nos anos mais fracos da série. E o que dizer, então, deste Monstro da Semana que veio no auge do programa? Leonard Betts (vivido por Paul McCrane) era um enfermeiro exemplar… Até a noite em que sofreu um acidente de carro e perdeu sua cabeça. Tudo bem, ele podia regenerar outra, desde que conseguisse se alimentar da sua verdadeira fonte de força: células e tecido canceroso humano. Com humor e fortes toques de absurdo e nojeira, este foi um dos mais marcantes e criativos Monstros da Semana, até mesmo porque sua aparição iria desencadear um novo arco para a agente Scully. E que estranha coincidência: pouco depois de fazer o papel do enfermeiro mais bizarro da TV, McCrane virou ator fixo do elenco de E.R.: Plantão Médico!


Robbie Robertson

Episódio Faminto
Sétima Temporada

Robbie era um sujeito com dentes finos como os de tubarão e aparência horripilante, e tinha um apetite por carne. Às vezes não resistia e comia carne humana… Até aí, nada demais para Arquivo X. Mas o diferencial deste episódio, escrito pelo futuro criador de Breaking Bad, Vince Gilligan, é o de contar a história pelo seu ponto de vista. Neste episódio, Mulder e Scully aparecem em poucas cenas, e o ator convidado Chad E. Donnella é quem sustenta o episódio. E o vemos realmente fazendo um esforço para não matar, para ser uma boa pessoa e resistir à sua natureza. Em Arquivo X, muitas vezes os monstros tinham coração, e nenhum teve mais profundidade que Robbie, neste que foi um dos bons esforços das tão criticadas últimas temporadas.