“Vox Lux” nasceu sob os holofotes desde o seu anúncio e isso, de cara, fala um pouco da cultura da celebridade que ele almeja criticar. O filme chamou a atenção instantaneamente por estrelar Natalie Portman no papel de uma cantora cujas canções seriam escritas pela poderosa estrela pop Sia.

Se nenhum desses nomes estivesse envolvido, os veículos de comunicação teriam que se concentrar na outra faceta da produção: um roteiro original que lida com os ataques em escolas americanas e a falência moral de uma nação.

Escrito e dirigido por Brady Corbet, ator da cena independente que vem se desenvolvendo rapidamente como um diretor visionário, “Vox Lux” é um filme duro, provocativo e ambicioso que quer tratar de um Estados Unidos cegados por seus próprios ídolos, usando como pano de fundo a história de Celeste (Raffey Cassidy), uma menina que sobrevive a um atentado em sua escola e que, ao compor e cantar uma música em uma cerimônia de elegia aos mortos na tragédia, é descoberta por um caça-talentos e inicia uma carreira na música.

Apesar de todo o material promocional do filme dar a entender o contrário, Portman só aparece como a versão adulta de Celeste no terço final do longa, deixando o grosso do desenvolvimento de sua personagem nas mãos de Cassidy, que leva a missão a cabo com louvor. É através dela que vemos como as sucessivas tragédias e pressões de uma vida fora de controle alteram – e quebram – um ser humano aos poucos.


O roteiro de Corbet pinta Celeste como um arquétipo e isso a deixa um tanto quanto artificial durante alguns momentos do longa. Para o cineasta, ela poderia ser qualquer menina, sendo produto de uma sociedade que expressa sua insegurança através da violência e do terrorismo e que endeusa personalidades públicas por falta de reais parâmetros de idealização. Em meio a tudo isso, ela se isola, se envolve em relacionamentos abusivos e recorre a drogas como forma de lidar com os traumas.

Como o fato de sua protagonista ser uma cantora é apenas um recurso narrativo (ela poderia ser uma atriz e a trama não sofreria muitas alterações), as estendidas cenas do show de Celeste ao final parecem um tanto quanto dispensáveis e apenas uma maneira de fazer valer o investimento na participação de Sia, mas compensam no visual impecável.

Como vários jovens cineastas antes dele, Corbet, às vezes, parece querer abraçar o mundo com a ambição de seu texto (estou olhando para você, Xavier Dolan), mas não importa: “Vox Lux” é um filme desafiador de primeira qualidade que quer fazer perguntas mais do que válidas. Para isso, nem é necessário um cativeiro de compositoras.