Se você perguntar no seu trabalho, entre seus amigos e familiares, o que pensam sobre política, é quase um consenso geral a rejeição a palavra e sua aplicação, quando não um entendimento raso do conceito. O certo é que a política está em todos os lugares, é intrínseca ao ser humano. Cada ato nosso é um ato político, até mesmo nossa omissão. Então, por que tão elevado descaso da política eleitoral por nossa parte? Muitos dirão que a resposta está ligada a corrupção e ao modo como os cargos políticos são executados. Mas você que pensa assim, sabe que é o responsável direto ou indireto por isso, não?

A verdade é que o ser humano tem o costume de se projetar nas pessoas, especialmente se elas estão a frente numa postura de liderança ou tem uma representatividade efetiva, seja em qualquer esfera. Ao nos projetarmos nas pessoas, cometemos o equivoco de esquecer que elas também são humanas e, portanto, destinadas a errar. Quando aplicamos isso a política e a atual conjectura mundial de suas engrenagens, parece complicado quebrar alguns paradigmas e separar a “política” como o conceito empregado a polis das pessoas que a alcunham em sua profissão.

Longe de defender qualquer partido ou político, estamos apenas mostrando uma face da verdade nua e crua da política, assim como Josh Kriegman e Elyse Steinberg se propuseram a fazer em Weiner. Lançado em 2016, ano da eleição de Trump sob Hillary Clinton, que de certa forma teve respingos, mesmo que pareçam tardios, das atitudes políticas do ex-congressista Anthony Weiner. O que é interessante, já que a situação a qual ele se envolveu tornou-se um case obrigatório para os acadêmicos de comunicação americanos, principalmente no quesito da usabilidade das redes sociais e a má gestão da imagem. Entretanto, mais do que isso, o documentário demonstra o quanto o poder de escolha das eleições está na nossa mão e qualquer passo fora da rota pode, sim, sacrificar uma candidatura quase certa como eleita.

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Casado com o braço direito de Clinton, Huma Abedin, Weiner viu sua carreira política decair após ter a imagem de uma genitália masculina vinculada em sua conta do Twitter. Após afirmar ter sido vítima de um ataque virtual, ele confessou e divulgou sua conduta considerada promiscua, de acordo com a moral e os bons costumes, e foi obrigado a afastar-se do cargo político. Dois anos depois, em 2013, Weiner decidiu enfrentar a desconfiança do eleitorado e candidatar-se a prefeitura de Nova York. Para isso, procurou se equipar de todas as formas possíveis.

No primeiro momento, a ideia de Kriegman e Steinberg consistia em acompanhar a grande volta por cima de Weiner, é tanto que os primeiros trinta minutos de película são traçados sob essa óptica. O candidato chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto e realizar grandes comícios pela cidade. Weiner se calcou no conceito de pedir uma segunda chance ao público trazendo Huma como a figura da mulher idealizada e perpetuando o imaginário da mulher que apóia o marido incondicionalmente, como se seus sentimentos e opiniões fossem irrelevantes e simultaneamente importantes para o alavancar de seus planos. Os documentaristas foram eficazes em mostrar a real faceta da esposa do ex-congressista, que estava ali por suas próprias razões, mesmo que não tão contente.

Hunna Abedin é mostrada como a representação de um troféu para Weiner e do perdão que o público poderia destinar a ele, como ela o fez. A sua presença era necessária para que a aceitação acontecesse, é interessante como ele constrói essa ideia e os documentaristas conseguem explicitá-la na projeção.  Mais um ponto positivo para a equipe que teve o seu plano inicial abalado com o novo escândalo envolvendo o candidato a prefeitura de Nova York, dessa vez por causa de um sex texting com uma garota de 23 anos que pôs o favorito da campanha no posto de vilão, mais uma vez. E é aqui que a magia da produção audiovisual acontece: o jogo virou para Weiner que viu a possibilidade de ser prefeito da Big Apple tender a zero (ou a 4% como se revelaria), mas a produção continuou a fazer o seu trabalho, o que rendeu um relato nu e cru dos bastidores da política em tempos de crise.

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É a partir daí que o documentário abandona a construção vitoriosa da figura de Weiner e focaliza no descer a ladeira sem proteção do político. Mostrando a colocação de sua equipe, os dilemas pessoais e a constante preocupação em manter e limpar a imagem do congressista junto aos eleitores que habituados ao jogo político americano expunham com maior segurança e naturalidade os deslizes do candidato, algo praticamente impróprio e inexistente no Brasil. A montagem demonstra de maneira crua e inteligente a colocação das emissoras televisivas sobre o caso e as atitudes de Weiner quando confrontado por eles, mesmo ao vivo e em rede nacional. Chega a causar incômodo a postura do candidato, tanto durante as eleições quanto ao tentar justificar-se em momentos de entrevista.

É interessante notar a sagacidade dos documentaristas e a escolha pelo formato narrativo da trama. E principalmente, o quanto as atitudes e decisões podem mudar o trajeto seja de uma eleição já tida como certa ou a opinião das pessoas sobre merecer uma segunda chance. Em todo caso, todas essas decisões foram políticas, incluso a dos documentaristas que formataram um material fantástico a partir do acaso.