Zeudi Souza surgiu no meio do audiovisual local na metade dos anos 2000 em produções premiadas no Amazonas Film Festival. São deles os documentários “Promessas” e “Vivaldão – O Colosso do Norte”, além da ficção “Perdido”. Após uma passagem pela Escuela Internacional de Cine y Televisión, ele voltou a Manaus onde trabalhou como preparador de elenco e roteirista de diversos projetos.

Como diretor, porém, Zeudi não lança um filme desde 2011 com “Vivaldão”. Esse hiato, entretanto, chega ao fim no próximo sábado (11) com a estreia de “No Rio das Borboletas” em uma sessão para convidados no Casarão de Ideias, localizado na Rua Barroso, 279, Centro de Manaus. A trama acompanha a história de quatro mulheres que saem em busca de ajuda para a mãe e acabam se perdendo.

Para conseguir finalizar o filme, Zeudi Souza enfrentou uma longa batalha com diversas idas e vindas. “No Rio das Borboletas” foi gravado em maio de 2015 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, zona oeste de Manaus. Segundo ele, a demora para concluir o projeto ocorreu pelo que considera uma série de equívocos que levaram a uma reação em cadeia de problemas.

“Foi uma batalha pessoal terminar este trabalho. Pensei diversas vezes em desistir. Houve momentos em que a angústia da criação bateu à porta a tal ponto que comecei a me questionar enquanto artista. A distância do período das filmagens para o momento atual ajudou a refletir mais sobre o projeto”, declarou Zeudi. Segundo ele, para chegar à versão final, Zeudi revelou que debateu muito com a responsável pela montagem, Flávia Abtibol. “Chegamos a um curta que satisfez, em parte, a nossa visão sobre o filme”, disse.

O diretor considera que este é o curta mais complicado que já fez pela complexa estrutura da produção e da logística de uma equipe formada por mais de 20 profissionais. “Em ‘No Rio das Borboletas’, tento trazer algo da condição humana de pessoas que moram em lugares isolados na Amazônia, as quais, às vezes, não possuem apoio próximo aonde vivem. O filme  curta fala dessa condição onde temos quatro mulheres, uma mãe e três irmãs, sendo que uma delas é autista. Trago também algo da espiritualidade que percebo muito nas viagens que realizo pelo interior”, disse.

“No Rio das Borboletas” conta com o próprio Zeudi de roteirista, direção de fotografia de Yure César, direção de arte de Óscar Ramos, produção de Claudilene Siqueira e som de Cláudio Lâvor. “Pretendo, além da exibição no Casarão de Ideias, fazer um lançamento na comunidade de Nossa Senhora de Fátima”, revelou.

Zeudi Souza, diretor audiovisual amazonensePausa no audiovisual

Em meio à conversa com o Cine Set sobre “No Rio das Borboletas”, Zeudi Souza afirmou surpreendentemente que pretende se afastar do audiovisual por tempo indeterminado após finalizar o documentário sobre a Nossa Senhora do Carmo, a padroeira de Parintins. O lançamento da produção rodada no interior do Amazonas, segundo ele, deve acontecer em 2018.

O principal motivo alegado por Zeudi para deixar o cinema é a frustração pelos rumos tomados pela classe do audiovisual. Candidato derrotado para a vaga do setor na última eleição do Conselho Municipal de Cultura, o diretor de “No Rio das Borboletas” acredita que a vontade de ganhar dinheiro suplantou o ideal artístico.

“Havia um tempo em que éramos um grupo de pessoas sonhando com possibilidades, um grupo que lutávamos e acreditávamos em um audiovisual coerente com nossos anseios. Os tempos mudaram: esse grupo meio que foi sufocado por pessoas bem intencionadas na grana e não na arte. Para mim, isso é muito claro e não sou o cara que quer fazer parte disso, de atitudes espúrias. Isso não condiz com o que eu penso e sonho sobre o cinema. Parece-me que esqueceram aquele tino sonhador e virou algo meramente ilustrativo pela vontade de dinheiro, vide movimentações estranhas e tomadas de decisões sem pensar o coletivo”, disse.

“Eu sou apenas um cara que vendia água pela rua para comprar um ingresso e ir ao cinema. Quando entrei na sala escura, aquela emoção me tocou até a alma e sentia que era aquilo que queria para mim. Desde então corri atrás como pude, e, mesmo sofrendo humilhações por ser pobre, não deixei aquelas vozes que diziam não, roubar a vontade de tentar”, afirmou Zeudi, lembrando a força oferecida pela produtora Vânia Catani no início da carreira.

“Parece que sou visto como uma “persona non grata”, aquele que questiona tudo. Atitudes como a chegada de pessoas de outros estados acharem que iniciamos isso tudo ontem ou gente que não está disposta a dar abertura aos mais novos geram um desapontamento. Não nos reunimos para discutir cinema. Hoje se reúnem apenas para discutir edital e não políticas públicas de longo prazo. Não deixei de acreditar no audiovisual amazonense. Deixei de acreditar em algumas pessoas e essa decisão veio com o tempo e com as observações. Conheço a minha história e creio que já está na hora dessa história dar uma pausa e desejar sucesso aos que estão na luta”, completa.

Neste período de pausa no audiovisual, Zeudi Souza garante que não ficará longe da cena artística. Ele seguirá atuando como curador do Palco Giratório no Amazonas e dentro do setor de artes cênicas do Sesc Amazonas.