Geralmente tido como o grande vilão da indústria, o público, com seu pendor para a repetição, para a busca do menor denominador comum, também faz das suas para elevar certos filmes a um reconhecimento justo.

Foi assim com Zoolander, do comediante e dublê de diretor Ben Stiller, lançado em 2001. Uma comédia assumidamente pastelão, mas cheia de tiradas hilárias sobre o mundo fashion, tão ácida quanto celebratória, a obra gerou um séquito de fãs dedicados, que a mantiveram viva em home video e na internet, apesar da bilheteria modesta de sua passagem pelas telonas.

Esse mesmo séquito alimentou a grande expectativa sobre a nova aventura do top model Derek Zoolander, longos 15 anos depois, e que chegou modestamente ao Brasil na última semana. Zoolander 2, o filme, bem que se esforça para repetir a graça desvairada do original, mas seu enredo mais “fofinho” não faz jus ao gume do roteiro de Drake Sather em 2001, e as novidades que deveriam atualizar a trama quase sempre a enfraquecem.

O primeiro e mais sério equívoco foi fazer do novo filme uma aventura correta, genérica, guardando o escracho e a ironia para as gags. Zoolander (Stiller) teve uma década difícil: o seu instituto beneficente desabou bem em cima da esposa, Matilda Jeffries (Christine Taylor), matando-a, e a imprensa descobriu que este foi construído usando como material a massinha da maquete. Incapaz de desempenhar as tarefas mais tolas em casa, Derek perde a guarda do filho, Derek Jr. (Cyrus Arnold), que é mandado a uma instituição de garotos na Itália. Para coroar a desgraça, seu melhor amigo, Hansel (Owen Wilson), teve o rosto desfigurado no acidente, e jurou nunca mais vê-lo. Mas uma convocação da misteriosa baronesa da moda Alexanya Atoz (Kristen Wiig, na linha tênue entre o engraçado e o irritante) pode ser a chance de redenção da dupla.

Ah, sim, as novidades. A principal é o número inchado de coadjuvantes, quase todos com pouco a fazer em cena. É assim, por exemplo, com o irritante personagem VIP, de Fred Armisen, o lobby boy envelhecido do hotel onde Zoolander (Stiller) e Hansel (Owen Wilson) se hospedam em Roma. Ou ainda os péssimos trocadilhos envolvendo Benedict Cumberbatch como All, a esposa andrógina do estilista hipster (também causador de embrulhos) Don Atari (Kyle Mooney). (Ex. piada: “All is done here [Tudo – All – pronto aqui]”, ou ainda “All loves all [All ama tudo]”). Diferentemente do primeiro filme, onde quase tudo funcionava, aqui é meio a meio entre gags boas e ruins: o assassinato de Justin Bieber, na sequência de abertura (sem spoiler: foi a cena mais divulgada do filme antes da estreia) soa apenas bobo, forçado, quando poderia ser um dos pontos altos (a ideia era tão boa); a trilha sonora descarta os clássicos oitentistas em favor de hip-hop genérico, do tipo que tocaria em um Velozes e Furiosos da vida; e Penélope Cruz, geralmente impecável, está apenas a passeio, ostentando o corpão em roupas coladas e lingeries. Aliás, o astro Stiller parece um pouco apagado – seus melhores momentos são quando ele repete as caretas do primeiro filme.

Mas também há muitas cenas que lembram as glórias do original, quase todas envolvendo os veteranos de quinze anos atrás: Will Ferrell está ainda mais engraçado como o estilista e criminoso maquiavélico Jacob Mugatu, praticamente valendo o ingresso; Owen Wilson tem um papel menor desta vez, mas também rouba a cena em vários momentos, como na sequência do teste de gravidez (com uma participação maravilhosa de Kiefer “Jack Bauer” Sutherland); e inúmeras pontas aqui e ali redimem o bom-mocismo do roteiro: o astrofísico Neil DeGrasse Tyson (da série Cosmos); a ativista dos direitos humanos Malala; o cantor Sting; Billy Zane (Titanic); Naomi Campbell, em um hilário anúncio de perfume; e todos os gigantes da moda no final, como a jornalista Anna Wintour e os estilistas Marc Jacobs e Valentino.

Pena, mais uma vez, que tamanho aparato tenha servido a um roteiro medíocre (do próprio Stiller, com John Hamburg, do primeiro filme, e Justin Theroux, seu colaborador em Trovão Tropical). Há ótimos atores, quase o dobro do orçamento, e toda a boa vontade dos inúmeros artistas e celebridades convocados. Mas, sem a esplêndida anarquia do original, Zoolander 2 frustra as expectativas acumuladas nesse tempo todo. Ainda assim, provavelmente deve ser melhor do que a maioria das comédias de 2016. Assista sem medo, mas – de coração – vá mesmo é no original.