O Cine Set resolveu trazer uma seleção de leituras essenciais sobre o cinema, que podem ser encontradas em livrarias, bibliotecas e na internet. De apanhados históricos (o sensacional Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind) a manuais técnicos (Manual do Roteiro, de Syd Field), de entrevistas (Hitchcock/Truffaut) a coletâneas de críticos (Um Filme por Dia, de Antonio Moniz Vianna), nossa lista é voltada para quem pretende começar a se aprofundar na Sétima Arte. Boas leituras!

10. O Sentido do Filme, de Sergei Eisenstein

A obra seminal do diretor russo é voltada principalmente a teóricos e realizadores, mas suas ideias sobre montagem e significação das imagens ainda pautam o trabalho de cineastas até hoje. Lê-la, portanto, é fundamental para ter uma compreensão mais profunda da Sétima Arte e seus processos técnicos. Fácil de ser encontrada na internet.

9. Afinal, Quem Faz os Filmes?, de Peter Bogdanovich

Hoje em dia, Peter Bogdanovich é mais lembrado como o diretor de A Última Sessão de Cinema e Lua de Papel, mas sua contribuição mais importante para o cinema talvez tenha sido como jornalista, entrevistando e documentando o trabalho de gigantes como Alfred Hitchcock e Howard Hawks. Esses nomes e mais outros do mesmo calibre fazem parte de Afinal, Quem Faz os Filmes?, um calhamaço de quase mil páginas, que se tornou um dos registros definitivos sobre a arte da direção. Difícil de ser achado em livrarias; é melhor tentar a sorte em sebos e bibliotecas.

8. Lendo as Imagens do Cinema, de Laurent Jullier e Michel Marie

Aqui entramos no campo da análise fílmica – afinal, um filme é muito mais do que imagens em movimento. Enxergar nas entrelinhas, compreender a intenção por trás daquele plano-sequência ou contre-plongée é a missão a que se propõem os autores Laurent Jullier e Michel Marie, numa edição nacional didática, colorida e muito bem-acabada, que todo cinéfilo deveria conhecer. A edição é do Senac e o livro pode ser encontrado tanto em livrarias quanto na internet.

7. Lanterna Mágica, de Ingmar Bergman

Autobiografias de cineastas são raras, mas esta aqui se destaca de todas as demais. Por sua importância na história do cinema, por sua obra prolífica (seis décadas de atividade) mas, principalmente, pela alta carga pessoal que permeia cada um de seus filmes, é de especial interesse conhecer o pensamento de Ingmar Bergman. Com um texto franco, desapaixonado, e, em larga medida, brilhante, Lanterna Mágica pode ser lido tanto por cinéfilos quanto por quem está interessado em boas histórias. O livro chegou há pouco no Brasil, então ainda está tinindo nas livrarias. A edição traz um bônus: um prefácio do também diretor e maior admirador do cineasta sueco, Woody Allen.

6. 1001 Noites no Cinema, de Pauline Kael (Coletânea organizada por Sérgio Augusto)

Coletâneas de críticos de cinema são um gênero pouco popular, mas uma crítica conseguiu a proeza se tornar uma das principais atrações de uma das principais revistas do mundo: a nova-iorquina Pauline Kael, escrevendo para a New Yorker. Também, pudera: com sua abordagem anárquica, que evocava em primeiro lugar o prazer de um bom filme, a crítica popularizou o cinema no debate intelectual dos anos 1970 e 80, e foi central para a divulgação dos diretores da chamada “Nova Hollywood” – Coppola, Scorsese, Spielberg, etc. Toda a inteligência e charme de seus textos está nessa coletânea de Sérgio Augusto, verdadeiro banquete para os cinéfilos.

Outro livro que é mais fácil encontrar em bibliotecas.

5. Manual do Roteiro, de Syd Field

Feito para aspirantes a roteirista, o Manual do Roteiro, de Syd Field, é leitura igualmente recomendada para os interessados em cinema, por uma razão simples: desde sempre (ou desde 1902, ano em que surge o filme narrativo com Viagem à Lua), o cinema é uma arte de contar histórias.

A arte e o ofício de criar histórias para virarem filmes é o tema deste livro, que ainda contribui para a capacidade de análise do leitor, ao iluminar a estrutura dramática que está por trás de quase toda produção. Para os estudantes, há uma opção ainda mais completa: Story, de Robert McKee, lançado recentemente no Brasil. McKee é professor de escrita criativa e talvez a maior autoridade do mundo em roteiros, mas os pormenores técnicos do seu livro só devem interessar mesmo aos aficcionados.

4. Um Filme por Dia: Crítica de Choque (1946-73), de Antonio Moniz Vianna (Coletânea organizada por Ruy Castro)

Pauline Kael é uma titã da crítica dos anos 1970 e 80. Mas Moniz Vianna é do cinema inteiro. Observador atento de toda a produção americana e europeia a partir dos anos 1930, o médico baiano Antonio Moniz Vianna era também um erudito e suas opiniões sobre os filmes, grandes e pequenos, lançados nas décadas seguintes, estabeleceram um padrão de qualidade (e quantidade) que não tem paralelo em nenhum outro crítico, de nenhum país. Sim, o provável maior crítico de cinema já surgido era brasileiro. A prova? Esta coletânea de Ruy Castro, que reeditou os seus trabalhos após décadas de ausência. Com suas análises brilhantes, seu texto claro e acessível e, acima de tudo, a paixão pelo cinema, Moniz Vianna ensina o leitor a enxergar os filmes com um olhar renovado.

3. Easy Riders, Raging Bulls: Como a Geração Sexo, Drogas e Rock ‘n Roll Mudou Hollywood, de Peter Biskind

O último movimento importante do cinema terminou há três décadas, mas suas inovações continuam alimentando a Sétima Arte até hoje. A crônica de como a geração de Beatty, Coppola, Scorsese, Bogdanovich, De Palma, Spielberg e companhia tomou Hollywood de assalto, trazendo temáticas e sensibilidade europeias, mudou por completo a maneira de fazer filmes, é narrada com lucidez e muito senso de entretenimento pelo jornalista Biskind. Momentos hilários (as gravações de The Last Movie por Dennis Hopper) e trágicos (a crise de Coppola pós-Apocalypse Now) se aliam para montar um retrato, muito humano, de um bando de garotos apaixonados por cinema, que conheceu a glória e o desastre em Hollywood – e, no caminho, deixou uma série de filmes extraordinários. A edição brasileira é recente, portanto, fácil de achar.

2. Hitchcock/Truffaut: Entrevistas

Hoje, livros de entrevistas com cineastas vêm se tornando um filão (Conversas com Woody Allen, Conversas com Scorsese e por aí vai), mas um deles foi mais do que uma mera entrevista.

François Truffaut era crítico da revista Cahiers du Cinema quando resolveu se tornar cineasta – no que acertou muito, tornando-se, talvez, o maior diretor francês depois de Carné e Renoir. No auge da fama, no início dos anos 1960, ele resolveu prestar um tributo ao homem que considerava o maior do ramo: Alfred Hitchcock (também tema de uma entrevista no livro de Peter Bogdanovich, nosso 9º lugar).  Após uma longa série de conversas, que deram origem a este livro, Truffaut acabou conseguindo um duplo feito: elevou o nome de Hitchcock, então considerado um simples diretor de suspense, à posição de um dos maiores cineastas da história, e definiu de uma vez por todas a ideia de que o diretor é o verdadeiro “artista”, responsável pela obra. Essas duas ideias continuam valendo e o livro de Truffaut, passadas cinco décadas, continua sendo a conversa mais interessante entre cineastas já lançada em livro. Melhor procurar em bibliotecas.

1. As Principais Teorias do Cinema: Uma Introdução, J. Dudley Andrew

Mais do que ver filmes, a principal capacidade de um estudioso dessa arte é saber vê-los: captar as nuances que vão além do olhar, as preocupações temáticas, os recursos utilizados pelo realizador. Para isso, tanto quanto ver filmes, é preciso conhecer as teorias que o informam. Esta é a proposta deste livro do estudioso americano J. Dudley Andrew. Guia ideal de introdução ao pensamento no cinema, As Principais Teorias do Cinema reúne a essência de vários estudos sobre forma, estética e conteúdo na Sétima Arte, o que, mais do que ajudar a “pensá-la” melhor, enriquece a sua experiência de forma inimaginável. Se você quiser ir mais fundo no cinema, esse é o livro pra você – e um dos mais fáceis de achar em livrarias e na internet.